Pronunciamento

Volnei Morastoni - 015ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 24/03/2004
O SR. DEPUTADO VOLNEI MORASTONI - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, Itajaí está de luto, assim como Balneário Camboriú também. Inclusive o Deputado Eduardo Cherem já se manifestou aqui a respeito.
No dia 22 de março, segunda-feira, fomos surpreendidos com a notícia da morte repentina do grande amigo itajaiense, Dr. Dalmo Vieira, e também, por coincidência, logo a seguir, no mesmo dia, do Vereador Antônio Manoel Soares Santa, Presidente da Câmara de Vereadores de Camboriú, a cujas famílias já manifestamos por esta Casa as condolências.
(Passa a ler)
"A imprensa catarinense perdeu no dia 22 de março, segunda-feira, uma de suas vozes mais firmes e contundentes. O itajaiense Dalmo Vieira, editor e fundador do Diarinho, que faleceu na segunda-feira, em Barcelona, na Espanha, vitimado o um infarto fulminante, durante um cruzeiro marítimo, no qual participava com a sua esposa Aderci. Dalmo Vieira, ou o véio Dalmo, como era carinhosamente chamado pelos amigos, completaria no dia de hoje, 24 de março, 75 anos. Deixou-nos 25 anos após fundar e consolidar o mais polêmico jornal catarinense, o irreverente Diarinho, de Itajaí.
Dalmo Vieira nasceu em Itajaí, em 1929. Filho único do taxista itajaiense Galdino Jerônimo Vieira e da dona-de-casa Erotides Santana Vieira. Sonhava em ser marinheiro. Saiu de Itajaí para Florianópolis ainda nos anos 40, onde iniciou o segundo grau - na época conhecido como Clássico - e, depois, seguiu para Santos, onde encerrou essa fase de estudos. Em janeiro de 1959, ele concluía seu curso de Direito, em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná.
Foi advogado de vários sindicatos de Itajaí, como o da estiva, das madeireiras, entre outros. Em sua trajetória como advogado chegou a ser Procurador da Prefeitura de Itajaí.
Foi eleito Vereador pelo PTB. Fundou o MDB, junto com o colega Airton Souza, sendo o filiado número 1 em Itajaí. Eleito em 1966 suplente de Deputado Estadual, e ao ser convocado para assumir nesta Casa recusou-se a assumir a cadeira na Assembléia Legislativa. Renunciou exercer o mandato numa Casa manchada pela cassação covarde de Manoel Menezes e Paulo Stuart Wright, a quem já prestamos homenagem nesta Casa.
Aos 50 anos, Dr. Dalmo Vieira deixou de lado a advocacia e fundou o Diarinho. Partiu para a imprensa. Em 12 de janeiro de 1979, lançou O Diário, ainda em tamanho A4 e em papel branco.
Dalmo Vieira talvez não imaginasse que a modesta publicação de oito páginas viria a ser o que nós chamamos de o mais combativo jornal catarinense. Aos poucos foi optando por uma linguagem popular e acessível, abrindo espaço para pautas da comunidade, amplia a participação popular e cobertura de notícias policiais. Nasceu o que ficou conhecido, consagrado como o Diarinho.
O jornal atingiu o auge de sua polêmica na década de 90, quando Dalmo Vieira sofreu violenta repressão política de autoridades da época e chegou a ser preso durante quase um mês, em agosto de 1993, no presídio de Itajaí, de onde enviava à redação a coluna denominada ‘Cadeião’. Teve decretada prisão preventiva por crime de imprensa. Presume-se que este foi o único caso registrado nos anais do Judiciário brasileiro, de um cidadão ter sua prisão preventiva decretada por crime de imprensa.
Por causa das palavras chocantes, da sua irreverência e por conta do medo que despertou por parte dos que estavam comprometidos com alguma situação, com status quo, Dalmo Vieira e seu jornal foram alvos de diversos processos e atentados. Simultaneamente, o jornal crescia em aceitação popular e pagava o preço por apostar na polêmica, adotando uma linguagem própria, mesclando o ‘peixerês’ do bom nativo itajaiense com palavrões até então nunca lidos na imprensa tradicional.
Das modestas oito páginas, o jornal chegou à invejável tiragem diária de seis mil exemplares, com uma média de 36 páginas a cada edição e penetração maciça na região de Itajaí, onde lidera o mercado do setor.
Dalmo Vieira sabia que era amado e odiado. Para uns, santo e defensor do povão. Para outros, era tido até como maldito. Dizia que quando morresse teria uma fila de pessoas chorando pela partida e outra soltando foguetes de alegria. Como editor sempre dizia a seus jornalistas, como uma norma, como uma regra de trabalho na sua redação: ‘Apurem a verdade e a publiquem, doa a quem doer, que nós não precisamos do sistema’.
No decorrer de sua brilhante carreira como advogado, Vereador e jornalista, aprendemos a respeitar seu compromisso com a liberdade de expressão.
Que seu espírito livre e plural cative as novas gerações de jornalistas e sirva de exemplo para uma imprensa independente e democrática, pela qual Dalmo Vieira sempre lutou. Seu legado constitui um monumento à liberdade de imprensa, à democracia e também a nossa querida cidade de Itajaí.
Sua imagem ficará sempre presente e marcada na memória de Itajaí. Nosso adeus, ‘o Comandante partiu’, como disse o Diarinho no dia seguinte, que até se coloriu de vermelho com uma tarja preta para dizer: o Comandante partiu. Se eu pegar a edição de hoje, por exemplo, o Diarinho mostra: ‘Missa do véio rola hoje’. Evento religioso acontece no parque Dom Bosco. Partida do velho marujo repercute em todo o Estado. Navegantinos falam sobre personalidade de Dalmo Vieira. Itajaienses mostram o quanto o velho fará falta na cidade, na city. Vereadores homenagearam o jornalista ontem à noite."
Este é o Diarinho.
Queremos que o Diarinho tenha vida longa para que, através do Diarinho, o espírito de Dalmo Vieira continue entre nós.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)