Pronunciamento

Sargento Amauri Soares - 063ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 06/07/2010
O SR. DEPUTADO SARGENTO AMAURI SOARES - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, telespectadores da TVAL, ouvintes da Rádio Alesc Digital, servidores públicos aqui presentes na sessão desta tarde, gostaria de dizer que em vários momentos nesta legislatura nós tivemos a clareza, o discernimento e, por que não dizer, a coragem de dizer não. Dissemos não às isenções fiscais para as grandes empresas; dissemos não às mudanças estruturais que tinham como objetivo fortalecer vontades políticas e não ao serviço público; dissemos não a todas as medidas que enfraqueceram o serviço público; dissemos não a todas as políticas salariais discriminatórias; dissemos não a toda forma de injustiça salarial do nosso estado. Temos, inclusive, a honra de não ter em nenhum momento pestanejado diante das forças do poder, bastante poderosas.
E na tarde de hoje, mais uma vez diremos não ao veto da MPV n. 0170, porque assim entendemos. E tem sido construído pela garra, pela vontade de centenas de servidores públicos que há mais de quatro meses não se afastam um único dia da Assembleia Legislativa, de segunda a sexta, esperando os deputados para com eles conversar a respeito do assunto.
Disse mais um não, como tiveram que dizer pessoas que lutaram e militaram no passado contra a opressão do estado, contra toda forma de injustiça, de exploração e de repressão.
Estou dizendo isso e o não desta tarde também é em homenagem a Alécio Verzola, que morreu no último sábado, dia 03 de julho, da parte dos comunistas do estado de Santa Catarina. Sim, da parte dos comunistas, porque Alécio Verzola dedicou uma vida inteira à militância pela transformação da sociedade. Desde a adolescência militou no Partido Comunista Brasileiro, o PCB. Era descendente de uma família de comunistas, especialmente o seu tio, João Verzola, mas também de outros comunistas destacados no estado de Santa Catarina, como Roberto Motta, Álvaro Ventura, Manoel Alves Ribeiro, sr. Mimo, Eglê Malheiros, esta última ainda viva.
(Palmas das galerias)
Alécio, portanto, veio de uma linhagem de comunistas, que nas décadas de 30 e 40, em Santa Catarina, lutaram verdadeiras batalhas campais contra os camisas verdes do integralismo de Plínio Salgado. E quem conhece a história sabe que é isso mesmo, que os nazifascistas brasileiros, nas décadas de 30 e 40 do século passado, usavam um uniforme com uma camisa verde e desfilavam, inclusive, armados pelas ruas de algumas cidades do estado. Nesta capital, vários democratas e comunistas lutaram em batalhas campais contra o nazifascismo.
Há muita gente importante neste estado que não gosta de falar sobre este assunto, porque se voltarmos 70 anos na história, vamos encontrar as digitais dos seus antepassados na organização do partido nazista, inclusive no estado de Santa Catarina. Aliás, há pessoas que ficam muito indignadas quando se fala nisso, talvez porque se esteja acertando no alvo e falando a verdade.
Alécio Verzola, portanto, vem de uma experiência de luta do povo brasileiro e catarinense contra o nazifascismo, pela participação do Brasil na II Guerra Mundial para derrotar os nazistas, pelo recrutamento de jovens catarinenses para irem para a Europa lutar contra o nazismo, pela Petrobras pública, enfim, contra a ditadura militar.
Alécio, juntamente com outros comunistas, tentou reorganizar o Partido Comunista Brasileiro, no final da década de 60 e começo da década de 70. Ele, Cirineu Martins Cardoso, Teodoro Ghercov e tantos outros lutaram contra a opressão e contra a repressão, pela democracia, pelo direito de se manifestar livremente, pela liberdade de ter um deputado que usasse a tribuna e dissesse coisas do tipo das que estou dizendo nesta tarde, porque naquela época cassaram um deputado nesta Assembleia Legislativa, e ele nem era comunista, era cristão, Paulo Stuart Wright, a quem se fez uma homenagem dando seu nome ao nosso plenarinho.
Mas o Alécio, o Cirineu e o Teodoro lutaram para que os trabalhadores, a sociedade, e não só um deputado, pudesse lutar e manifestar-se contra a ditadura instituída em 1964. E por conta disso, por conta dessa luta legítima, necessária, vital para uma República, foram presos na Operação Barriga-Verde, em 1965, presos de forma injusta, de forma ilegítima, torturados barbaramente, de forma injusta, de forma ilegítima e de forma ilegal.
Queremos aqui, nesta homenagem a Alécio Verzola e aos outros que citei e que já morreram, inclusive com sequelas deixadas pela tortura, como Cirineu e Teodoro, dizer que é preciso repudiar todos aqueles que os torturaram. Alguns ainda estão vivos e talvez nos estejam assistindo pela TVAL. E é importante que ouçam e prestem atenção a este repúdio de um sargento da Polícia Militar, que tem um mandato de deputado estadual, a todos aqueles que torturaram Alécio Verzola, Cirineu Martins Cardoso, Teodoro Ghercov e tantos outros, durante a Operação Barriga-Verde, em nosso estado, em 1975.
Alécio Verzola morreu vítima de câncer no cérebro, no último sábado. E sua despedida foi no domingo de manhã, no cemitério do Itacorubi. Em seguida foi levado para ao crematório de Balneário Camboriú.
Queremos fazer essa homenagem a esses comunistas, especialmente a Alécio Verzola, a todos os seus amigos e familiares, a todos aqueles que acreditam na justiça, a todos aqueles que continuam e continuarão lutando pela liberdade, lutando contra a exploração, lutando contra a opressão dos homens pelos homens, em nosso país e neste mundo.
Honra e glória a Alécio Verzola e a todos os seus companheiros!
Muito obrigado!
(Palmas)
(SEM REVISÃO DO ORADOR)