Pronunciamento

Sargento Amauri Soares - 015ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 10/03/2011
O SR. DEPUTADO SARGENTO AMAURI SOARES - Sr. presidente, sras. deputadas, srs. deputados, público que nos acompanha pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital, público aqui presente na manhã de hoje, quero ainda fazer um arremate sobre o Carnaval de 2011 e registrar a vitória da Beija-Flor, no Rio de Janeiro, e a importância da homenagem que a Grande Rio fez à cidade de Florianópolis, a Ilha das Bruxas, de Franklin Cascaes.
Gostaria também de registrar que dos blocos que disputam oficialmente o Carnaval em Florianópolis o vencedor foi o Dascuia, do Morro do Céu, comunidade próxima ao centro da capital, e que em São José o bloco vencedor foi o Futsamba. Como disse ontem, participei, até por morar na região da Serraria, do Estrela Azul, mas o bloco vencedor foi o Futsamba.
Em Joaçaba ganhou a Vale Samba. Talvez o deputado Moacir Sopelsa e outros deputados da região estivessem torcendo por outra escola de samba, mas venceu a Vale Samba em Joaçaba.
Em Florianópolis, há três anos apenas quatro escolas de samba participavam do Carnaval, mas agora há uma nova escola de samba, que é a União da Ilha da Magia, que foi campeã já no terceiro ano em que desfilou no Carnaval da capital. No ano passado ela foi vice-campeã e neste ano foi campeã do Carnaval de Florianópolis.
Falou-se bastante nesse assunto, pois a escola da Lagoa da Conceição, a União da Ilha da Magia, homenageou Cuba, com o samba-enredo Cuba, sim, em nome da verdade! Houve muitas pessoas que não gostaram muito do enredo escolhido pela escola da Lagoa da Conceição, mas é preciso dizer também que muitos gostaram bastante, a ponto de se engajar de corpo e alma na escola.
Pelo tema escolhido pela escola de samba campeã do Carnaval de Florianópolis e pelo fato de ter sido campeã, o nosso Carnaval foi mais falado em 2011 do que em todos os anos anteriores. O tema tem um significado universal e, portanto, foi falado em praticamente todos os lugares onde há Carnaval, ou aonde se preocupam com o Carnaval, no ocidente, pelo menos.
Eu li uma notícia em um veículo de comunicação internacional, ontem, que dizia que Cuba fora campeã do Carnaval do Brasil. Ou seja, o nosso Carnaval passou a ser apresentado como o Carnaval do Brasil e adquiriu, então, uma importância nos meios de comunicação não só no país, mas pelo mundo afora.
Ontem, falei aqui que a União da Ilha da Magia foi campeã não só pelo samba enredo. É evidente que existem diversos fatores que contribuem para isso, e citava como um deles o engajamento de setores importantes da sociedade da Grande Florianópolis em geral, no Carnaval. Para ilustrar esse engajamento, citei que a escola vendeu cinco mil camisetas com a estampa de Che Guevara. E daí algumas pessoas meio que ironizaram o meu pronunciamento, dizendo: "Mas não há um contrassenso nisso"? Não! Em primeiro lugar, porque estamos numa sociedade capitalista, e aqui e em nenhum lugar do mundo capitalista faz-se camiseta e distribui-se de graça. Aliás, fazia-se muito isso para trocar por voto, há algum tempo, e agora é proibido, felizmente. Não sei se as outras escolas distribuíram de graça as camisetas, mas a União da Ilha da Magia vendeu cinco mil camisetas, o que mostra o engajamento da comunidade. As pessoas foram lá para comprar e não para ganhar. Elas foram lá para ajudar, para contribuir, e não para ganhar um presente. E esse é um diferencial que deu o título à escola de samba União da Ilha da Magia.
Aliás, como tudo no Brasil e nos outros países capitalistas, inclusive em alguns países que se requerem socialistas, as coisas têm que ser vendidas. Ainda estamos, em nível mundial, universal, sob a égide do capitalismo, no qual as coisas são produzidas para serem mercadorias em primeiro lugar, ou seja, para gerar lucro a alguém. E só são produzidas mediante esse pressuposto. Aquilo que não se pode vender, não se produz no mundo capitalista. Isso vale para os chocolates. Não há como dar um presente para alguém no Brasil a não ser entrando na lógica capitalista. Se a pessoa vai dar um livro de presente, ele também está na lógica capitalista. Se a pessoa vai dar uma caixa de chocolate de presente, da mesma forma. Aliás, no Brasil, se formos dar um medicamento para uma pessoa, estamos na lógica capitalista. Uma consulta médica no Brasil também pode estar na lógica capitalista; a particular ou feita através de convênio também estão na lógica capitalista.
Então, não tem jeito. Nós, que defendemos outra filosofia de mundo, morreríamos em três dias se não encarássemos a realidade tal qual ela é, mesmo refletindo sobre diversos aspectos prejudiciais ao desenvolvimento humano e ao desenvolvimento da civilização, nessa lógica de organização social.
No Brasil, o sistema de transporte, inclusive o coletivo, é também mercadoria e está também subordinado à lógica capitalista. E quero falar um pouco disso porque é um tema que precisa ser refletido cada vez mais. E não só refletido, é preciso haver uma ação efetiva por parte dos poderes constituídos em níveis federal, estadual e municipal.
Tem-se falado aqui na importância de pensar o transporte coletivo e a mobilidade urbana na região de Florianópolis. Tenho defendido a diversificação para não ficarmos amarrados ao modelo rodoviário de transporte, mas é preciso pensar isso também dentro de uma lógica mundial e nacional pelo menos, porque se em nível nacional incentiva-se o desenvolvimento, a produção e a distribuição - distribuição, evidentemente, mediante a compra - de carros particulares, fica difícil refletir o modelo de transporte coletivo eficiente em nível municipal apenas, embora dê para fazer muito coisa em nível municipal, nas regiões metropolitanas e em nível estadual.
Fala-se aqui que o nosso papel de parlamentar é apresentar propostas, fazer a fiscalização e a crítica. E as pessoas dizem: "Ah, mas vocês só falam e não fazem nada". O papel executivo é do governo estadual e federal e dos prefeitos. Parlamentar na Assembleia Legislativa, na Câmara de Vereadores e no Congresso Nacional tem que discutir os assuntos, legislar e fiscalizar. É essa a nossa tarefa e, portanto, o que nos cabe, principalmente na condição de deputado de Oposição.
O sistema de transportes no Brasil, em Santa Catarina e na Grande Florianópolis não tem solução pela via do transporte individual. Aliás, em nível mundial e em nível universal não tem. Nós destruiremos a capacidade de sobrevivência do ser humano na Terra, nas próximas décadas, se continuarmos investindo nessa direção. Nós continuamos de costas para o mar, morando numa ilha.
Nada é feito nem pensado se não houver o pressuposto do lucro das empresas que, eventualmente, queiram investir. Parece que o poder público perdeu a possibilidade de investir, de forma pública, através de autarquia, no sistema de transporte coletivo.
É preciso refletir sobre isso, o modelo mundial, nacional, estadual e local só pensa no carro, só pensa em fazer mais pontes. Não que elas não sejam necessárias, mas temos que diversificar o sistema.
Falou-se ontem que sobre a ponte Rio/Niterói passam menos carros do que sobre as nossas pontes. É óbvio! Entre o Rio de Janeiro e Niterói existe um sistema de transporte marítimo. Só por isso. Por que também não há aqui, sendo uma ilha? Essa é a pergunta.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)