Pronunciamento

Romildo Titon - 072ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 23/09/2003
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Sr. Presidente e Srs. Deputados, nesta oportunidade quero falar de uma matéria veiculada no jornal Diário Catarinense, no último domingo, que causou espanto para mim, como Deputado, por ter ouvido algumas colocações do Sr. Deputado Afrânio Boppré sobre um trabalho social que este Deputado presta e outros Parlamentares também.
Fui procurado pela jornalista Ana Minosso, do Diário Catarinense, para falar sobre um trabalho social que realizo há mais de nove anos - e o faço por vocação e não por política. Na oportunidade, até disse a ela que em nove anos nunca permiti que fosse feita a divulgação do meu trabalho e que não desejaria que naquela oportunidade ela fosse feita. Mas, pela persistência e até porque fui convencido pela minha assessoria de imprensa, acabei dando as informações, pensando que a matéria seria relatada para mostrar à sociedade o meu trabalho. E, pelo contrário, a matéria era para fazer algumas comparações políticas.
Mas acredito que estava no seu direito, como jornalista, e fez a matéria não só sobre a casa que mantenho há nove anos, como também sobre as de outros Parlamentares, que aqui foram citados: o ex-Deputado Moacir Sopelsa e hoje Secretário e os Deputados Jorginho Mello, Nelson Goetten, Onofre Santo Agostini, Manoel Mota e Narcizo Parisotto.
Algumas palavras aqui colocadas não foram ditas por este Deputado, e sim pela boca da própria jornalista. Mas o que me indignou, Sr. Presidente, foram algumas colocações feitas pelo Parlamentar Afrânio Boppré, apesar de que outro cientista político também falou aqui algumas bobagens para este Deputado.
(Passa a ler)
"Para o cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Clóvis Pires da Silva, a estratégia de usar a caridade faz os políticos parecerem bonzinhos, mas eles só pensam em se perpetuar no cargo.
O Líder do PT na Assembléia, Afrânio Boppré, também não concorda com a prática. Ele diz que o Estado tem que ser o responsável para resolver o problema: ‘Isso é estratégia eleitoral, criticamos os coronéis do Nordeste que botam cabresto pela lata de água, mas temos os sargentos de Santa Catarina que fazem o mesmo, criam vínculo fisiológico na relação’."
Fico a me perguntar: o que o Deputado Afrânio tem contra os pobres? O que o Deputado Afrânio Boppré tem contra uma pessoa doente? O que ele tem contra as pessoas que prestam serviço social, que ele não presta?
Eu pergunto ao Deputado: V.Exa. desejaria que uma pessoa portadora de câncer, que vem lá do Oeste catarinense, da divisa com a Argentina, onde não tem as regalias que V.Exa. tem aqui, por ser um Deputado da Capital, para fazer o processo de quimioterapia ou de rádio terapia por 40 ou 60 dias, dormisse num banco da rodoviária? V.Exa. desejaria que um cidadão pobre, que vem acompanhar um paciente da família que está internado, tenha que dormir no banco da rodoviária ou numa praça pública?
Eu não entendo o que V.Exa. tem contra as pessoas necessitadas? Só porque V.Exa. é um Deputado da Capital, que está próximo dos recursos, pois é aqui que está centralizado, infelizmente, todo o sistema de saúde... Pergunto: por que V.Exa., que se diz um representante e um defensor dos trabalhadores, está criticando aqui aqueles que defendem o trabalhador, a pessoa mais pobre?
Por que V.Exa. não pede ao seu Governo Federal, ao Lula, no qual eu votei, mas já estou arrependido, para mudar a legislação e autorizar que o paciente e o acompanhante possam permanecer lá no hospital? Por que V.Exa. não pede para mudar a legislação, fazendo com que o Governo mantenha nos hospitais, através do SUS, aqueles que tenham que fazer quimioterapia e rádio terapia? Ou que mantenha uma casa de apoio para que eles possam se estabelecer até curar a sua doença? Por que V.Exa. não faz isso, já que o Presidente da República, do seu Partido, é um defensor dos trabalhadores?
Eu não entendo por que V.Exa. vem fazer uma crítica dessa natureza? E não estou me referindo ao fato de ter me chamado de sargento, porque eu até respeito o sargento. Se ele usa uma divisa, é porque a merece, já que a conquistou através de seu trabalho. Mas na comparação de V.Exa. nós mantemos eleitores no cabresto. E isso é covardia de V.Exa., até por ser um Deputado que mora em uma Capital e que não conhece os problemas do cidadão do interior do Estado.
Eu não entendo onde V.Exa. quis chegar ao fazer uma colocação dessa aos seus colegas Parlamentares.
Nobre Deputado, se estamos convivendo com V.Exa., é porque optamos por fazer um trabalho de dignidade, com respeito ao cidadão mais pobre, que precisa, que está em busca de um atendimento nessa triste realidade que vive a saúde brasileira.
V.Exa. foi muito infeliz nas suas colocações, querendo nos comparar aos coronéis do Nordeste, que usam cabresto por uma lata de água.
Isso não se faz com um Colega! Eu tenho esta Casa há mais de nove anos, e V.Exa. nunca me viu na tribuna, no jornal ou na televisão fazendo propaganda do meu trabalho, porque eu faço por vocação, faço por amor ao próximo, sinto-me realizado de poder atender aquelas pessoas que precisam de mim.
Gastei mais de R$80.000,00 para comprar uma casa, em um momento que nem é época de eleição, para comprar uma ambulância, mas nunca fiz propaganda, nunca usei em lugar nenhum esse sistema que uso, porque faço por achar que as pessoas precisam.
Tenho compaixão daqueles que como eu não nasceram em berço de ouro. Eu vim da roça, com as mãos calejadas e sei o que é isso. Muitas vezes vejo cidadãos chegarem aqui sem dinheiro ao menos para pagar um hotel. Eles chegam aqui, sem uma casa de apoio e precisam ficar por vários e vários dias esperando na fila para poder conseguir um exame, para poder conseguir um internamento.
V.Exa. foi de uma infelicidade muito grande, eis que para um Deputado fazer uma colocação desta no jornal realmente tem que ser muito cara-de-pau.
O Sr. Deputado Nelson Goetten - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Pois não, Deputado. Sei que V.Exa. tem um trabalho dessa natureza e foi atingido também pela notícia do Diário Catarinense, através do Deputado Afrânio Boppré.
O Sr. Deputado Nelson Goetten - Deputado Romildo Titon, eu não vou dizer outra coisa aqui a não ser cumprimentar V.Exa.
Por muitas vezes eu tive a oportunidade de elogiar o seu trabalho e dizer aqui, neste microfone de apartes e aí na tribuna, fazendo discurso, que aprendi muito com o Deputado Romildo Titon.
Eu aprendi muito, Deputado Romildo Titon, e é bom que outros Parlamentares aprendam um pouco, porque é bem verdade o que V.Exa. disse: só quem vive para servir, só quem sabe o que o seu povo passa, só quem sabe o que é a distância de ter que se locomover para cá, que muitas vezes não sabe nem como chegar aqui, e só quem sabe que o serviço da Saúde é falho é que sabe dar importância ao trabalho que V.Exa. faz.
Continue com essa coragem!
Eu copiei o seu exemplo e quero continuar copiando, quero continuar fazendo a minha parte, sem ter o mínimo de preocupação com esse tipo de comentário.
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Muito obrigado!
O Sr. Deputado João Rodrigues - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Pois não!
O Sr. Deputado João Rodrigues - Deputado Romildo Titon, ao tomar conhecimento da matéria publicada pelo jornal, vejo que são de uma infelicidade muito grande as críticas que o jornal estampa, principalmente se as pessoas conhecessem o seu belo trabalho
Nobre Deputado, como o Deputado Nelson Goetten disse, também presto esse serviço baseado naquilo que V.Exa. tem feito há muito tempo, assim como outros Deputados desta Casa.
Que bom se tivéssemos 40 casas de apoio em Florianópolis! Com certeza não teríamos pessoas humildes lá do Oeste catarinense dormindo em banco de praça, em banco de hospitais aqui, na Capital.
Parabéns pelo seu belo trabalho. Para não sentir a dificuldade do povo, só quem nunca sentiu uma dor.
Parabenizo V.Exa. e creio que a população haverá também de reconhecer isso. Mas acima de tudo é melhor prestar um gesto solidário do que enganar o povo, vender um sonho que nunca será realidade.
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Agradeço os apartes.
Desejo concluir a minha fala e dizer que faço isso com muita dignidade, com muita responsabilidade. Nunca usei isso politicamente. Não quero usar, e se Deus quiser nunca mais vou me atrever a falar com uma jornalista. Infelizmente caí nessa de querer dar uma entrevista sobre um fato que há nove anos nunca divulguei.
Infelizmente as coisas acontecem, e vamos conhecendo as pessoas que têm dois discursos. Vejo que talvez criar vínculo, Deputado Afrânio Boppré...
O Presidente da República está aí querendo acabar com a fome com o dinheiro dos outros, fazendo campanha com o chapéu alheio. E nós todos estamos tentando ajudar, porque queremos amenizar o sofrimento. Mas V.Exa. vem fazer uma crítica dessa natureza a quem presta um serviço sério à sociedade e principalmente àqueles que precisam. E rogo a Deus que V.Exa. nunca precise como aquelas dez mil pessoas que precisaram da minha casa.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)