Pronunciamento

Romildo Titon - 072ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 23/09/2003
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Sr. Presidente e Srs. Deputados, gostaria de voltar a falar - e que seja a última vez - em um assunto bastante desagradável, porque o Sr. Deputado Afrânio Boppré fez algumas colocações e, parece-me, quer sair de bonzinho.
O Deputado Afrânio Boppré é acostumado ir aos jornais jogar o produto no ventilador e depois vir aqui dizer que não foi bem isso que quis falar, que não era bem essa a interpretação etc. Mas na verdade quem leu o jornal sabe, Deputado Jorginho Mello, de quem ele estava falando: de V.Exa. e de outros Parlamentares, naquela matéria do jornal de domingo sobre o trabalho que prestamos com as casas, na área social.
Por isso, gostaria de contestar alguns posicionamentos do Deputado. E eu tenho muito cuidado quando falo em Partidos Políticos, porque em todos os Partidos existem pessoas que pensam de diversas formas. Eu não posso acusar o PT da mesma forma que eu acusaria o Deputado Afrânio Boppré.
Por isso, se nós Parlamentares fazemos um serviço social, é para tapar um buraco que o sistema de saúde deixa a desejar em nosso País.
O Deputado Afrânio Boppré leu o art. 196, da Constituição, que diz claramente que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado.
Quando falamos em dever do Estado, na Constituição, referimo-nos ao nosso País e não ao Estado onde moramos, porque o sistema de saúde a quem somos beneficiados é o SUS, um sistema nacional, e a ele compete criar as regras, definir as leis, para que sejam executadas pelos Estados, Municípios e entidades de saúde credenciadas.
O Deputado, e acredito que foi para nos atingir, quis dar a impressão de que, quando o País mudar, quando vencer todos os obstáculos da saúde, certos políticos, como nós, que fazemos serviços sociais, seremos varridos da vida pública.
Quero crer que um cidadão que se preza a fazer um serviço social por vocação, por amor e por carinho tem o direito de fazer o seu trabalho da melhor forma que encontrar para servir o ser humano - e não importa a função que ele exerce, quer seja um professor, um médico ou qualquer profissional, ele pode assim agir.
Estou na política há 25 anos e nunca deixei de fazer esse papel; agora, nunca me furtei de lutar para que um dia pudéssemos ver um sistema de saúde digno para a nossa sociedade brasileira.
Quero crer que um dia o Presidente da República resolverá problemas como esse que atacamos de frente, de assistir o cidadão doente que não encontra um leito no hospital ou o que fica aguardando semanas para fazer um exame de alto custo, ou um cidadão que está acompanhando um familiar no hospital e não tem o direito de ficar junto ao seu doente, enfim.
O cidadão que está tratando de uma doença mais grave, fazendo quimioterapia, radioterapia, precisa que o SUS dê a ele o direito de permanecer no hospital enquanto faz esse tratamento, mas isso não acontece.
Portanto, quando o SUS dispuser à população uma casa de amparo, para que o doente fique próximo ao hospital para buscar atendimento, quando não precisarmos mais enfrentar filas para ver nossas crianças serem atendidas pelo nosso sistema, quando o Presidente da República do seu Partido, Deputado Afrânio Boppré, conseguir resolver esses problemas, aceitarei ir para Casa, porque acreditarei que a minha luta estará cumprida por esses 25 anos que luto por um melhor sistema de saúde.
Enquanto isso, Deputado, alguém tem que fazer, alguém tem que tapar esse furo na área social que o sistema de saúde deixa.
Isso não é assistencialismo. E fico indignado que V.Exa., que pertence ao Partido do Presidente Lula, posicione-se dessa forma justamente no momento em que ele conclama a sociedade brasileira para acabar com a fome, e a fome que vejo o Presidente falar não é só a fome de comer, é a fome de vermos um cidadão debaixo de um teto, de vermos um cidadão medicado, de vermos um cidadão viver com dignidade.
Essa é a campanha que entendo que esteja acontecendo neste País, e não acredito que isso seja assistencialismo, acredito que o Presidente não esteja fazendo isso visando só um resultado eleitoral, como V.Exa. tenta colocar sobre nós, que prestamos esse serviço de assistência social.
Talvez, muitas pessoas devam ser varridas da vida pública, mas com isso eu não posso acusar Partidos Políticos. Mas conhecemos a sua prática, o seu discurso, e cada um segue um rumo.
Eu não defendo aqui nenhum empresário e nenhum segmento, eu atuo de um modo geral no Estado, naquilo que me compete. Existe Deputado que gosta de trabalhar somente na área de educação; existe Deputado que tem xodó por reunir grevistas aqui, para fazer apitação e para fazer berreiro; existe Deputado que defende que o Estado não pode dar apenas 1% de aumento aqui em Santa Catarina, mas que o Lula pode dar 1% lá em Brasília para os funcionários públicos; existe Deputado que tem todos os pensamentos, mas eu não posso acusar um Partido por causa disso.
Agora, eu não aceito que V.Exa. venha agora se pregar de bonzinho, dizendo que não foi bem isso que disse na imprensa, eis que V.Exa. foi taxativo, chamou os Deputados que fazem esse tipo de trabalho de coronel que coloca cabresto, tipo coronel do Nordeste. É uma palavra feia para se dizer a um Colega.
No Nordeste existem os coronéis do cabresto da lata de água. E aqui, Deputado Jorginho Mello, diz o Deputado Afrânio Boppré que somos os sargentos em Santa Catarina.
Eu não trato da saúde de ninguém, não sou médico, não dou remédio. Faço o lado social do doente, daquele que não tem condições de se internar em um hospital. E desafio V.Exa., Deputado Afrânio Boppré, a achar um cidadão ao qual eu tenha perguntado a que Partido ele pertencia, a que religião, de qual Município ele era e que eu tenha pedido alguma vez o seu voto em troca da minha assistência.
Faço assistência social porque tenho amor ao próximo, tenho sentimentos, sou um ser humano e não gosto de ver nenhuma pessoa sofrendo, como nós vemos todos os dias pessoas portadoras de doenças incuráveis.
Até os velhinhos, Deputado Afrânio Boppré, aqueles que buscavam na velhice um amparo social com dignidade de cidadão, aqueles que o seu governo está taxando novamente, os aposentados, até aqueles nós atendemos com muito carinho, com muita responsabilidade.
Volto a dizer que fazemos um trabalho social para tapar um buraco que o sistema de saúde deixa. E V.Exa. diz que a solução está no art. 196 da Constituição? Então, espero que o seu Presidente dê o direito de o cidadão fazer quimioterapia ou radioterapia internado; que o paciente e o acompanhante possam ficar no hospital, que não precise mais ninguém morrer na fila do sistema de saúde.
Está em suas mãos e em seu Partido.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)