Pronunciamento

PAULINHA - 025ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 11/04/2023
DEPUTADA PAULINHA (Oradora) - Cumprimenta os colegas e visitantes. Solidariza-se com o povo de Blumenau pela tragédia.
(Passa a ler o seu pronunciamento.)
"Quando vivemos o episódio de Saudades, Santa Catarina chorou. Uma dor inenarrável se instalou em nossos corações. A negação das nossas mazelas, do inevitável crescimento da violência em nossos tempos, estimulada pela intolerância dos antagonismos, nos cegou, porque não admitimos a hipótese de que um Estado com nome de Santa, de uma Santa mulher, pudesse prover filhos capazes de promover tamanha atrocidade. E, passados os dias, como tudo de violento que acontece em nosso redor, fomos naturalizando esse quadro, colocando-o num lugar de acontecimento isolado. Infelizmente o episódio de Blumenau nos mostrou que não era. Está mais do que na hora de nos posicionarmos com firmeza, e agir de fato com a responsabilidade que nos é imputada, a todos nós, cidadãos. Não podemos mais continuar assistindo situações de violência no calor confortável dos nossos sofás, como se não tivesse nada a ver conosco, até que ela bata em nossa porta. Não podemos designar os gritos de dor e desespero apenas àqueles que são confrontados diretamente pela violência.
O momento agora não pode se limitar a mensagens de solidariedade e orações - estas, diga-se de passagem, muito bem vindas. A hora agora é de fazer um grande chamado para a sociedade catarinense e Brasileira, para o despertar. E não é apenas pelo egoísmo de pensar que amanhã pode ser com os nossos filhos, ou com quem conhecemos e amamos, porque isso é pouco. Precisamos ressignificar o conceito de 'se importar', e perceber que o que está em jogo é muito além disso. De pronto, medidas urgentes e eficazes precisam ser tomadas, e o caminho a seguir começa pela reconquista da confiança das famílias e da sociedade. É fazer por merecer o selo de Estado mais seguro do Brasil, obtido a duras penas, e que ruiu como nada com as tragédias de Saudades e de Blumenau, que arrancaram de nós o maior de todos os nossos patrimônios. No entanto, precisamos reconhecer: esses não são e nunca foram fatos isolados. Diariamente, os jornais nos apresentam uma verdadeira coletânea de casos de assassinato. Crianças tem sido violadas de formas incontáveis, condenadas a 'morte' ainda em vida. E, junto com elas, mulheres, negros, idosos, homossexuais, pobres em maior escala. As pessoas seguem vitimadas por um sistema que tem tanta urgência em ter e fazer por si próprio - no máximo pelos seus -, e não estão se dando conta de que se importar vai além de condenar uma atrocidade como essas na roda de amigos. Este projeto de lei é uma de tantas outras ações que estamos inspirados a promover, cujo propósito é arrebentar as correntes ideológicas que nos segregam em partidos políticos, e dar a todos nós, especialmente os que de alguma forma receberam a permissão do povo e de Deus para exercerem funções de liderança, a iniciarem uma nova jornada, que nos leve ao amor e a paz. Não de maneira utópica porque, é bem verdade, a natureza humana está fora do nosso controle. Mas, sim, podemos minorar significativamente as fatalidades se tivermos essa disposição coletiva.
Em meu ver, a violação da escola, este que deveria ser o ambiente mais seguro, mais protegido, que é o mais completo lugar para a formação do caráter do cidadão, rompe até mesmo os mais secretos códigos do crime. Sim, porque matar crianças indefesas é algo que até mesmo o crime condena. É o escárnio da violência, que, precisamos reconhecer, está viva dentro de nós, nos nossos lares, cada vez que justificamos ou assentimos situações de violência. Ou mesmo quando simplesmente nos resignamos a ela. Precisamos acordar enquanto sociedade, e tomar providências antes que seja tarde demais.
Faço esse chamado porque acredito sinceramente que Santa Catarina ainda é, diferente de muitos outros estados, um lugar em que essa reversão é possível. Mais do que um desejo ou um sentimento de amor a terra, tenho essa forte convicção amparada no estudo das nossas condições econômicas, geográficas, políticas e sociais. Nosso esforço de transformação requer muito mais da nossa inteligência do que da ruptura de barreiras que, em cidades mais populosas com núcleos enormes de agravamento social congelam as mais nobres ações, porque já chegaram no caos. E não faltariam exemplos aqui. Entretanto, nosso propósito não é comparar, olhar o entorno, e sim concentrar energias para reconstituir valores, e, com coragem, reconhecer nossos preconceitos, nossas fragilidades, abrindo mão dessa cegueira absurda que nos entregamos, seduzidos que estamos com todo esse patrocínio da intolerância, que tem marcado de forma tão estúpida o momento histórico mundial em que nos encontramos. Esperamos que esse projeto de lei aporte no Parlamento catarinense com todo o amor e desprendimento com o qual foi concebido. Que receba ricas contribuições, que se torne ainda melhor nas mãos dos colegas, que seja bem recebido pelo Governador, e que tenha essas e outras ações implementadas de forma célere. E que mais e mais pessoas sejam provocadas pelo sentimento de dar um pouquinho mais de si, além da solidariedade virtual. Que possamos aplicar nossos talentos a benefício da não violência.
Eu me importo. E por essa razão não me permito mais ficar no sofá." (Discurso transcrito na íntegra.)
Em tempo, a deputada informa que parlamentares da Casa reuniram-se, na manhã, para discutir alternativas que possam promover uma verdadeira mudança no quadro que se apresenta, sem questões ideológicas partidárias. E que apresentou projeto de lei, que será subscrito pelos 40 deputados. Agradece de antemão o apoio de todos, principalmente ao Deputado Mauro de Nadal, Presidente. Reitera que não se pode mais continuar assistindo situações de violência e que o momento não pode se limitar à solidariedade e orações, alegando ser a hora de fazer um chamado para o despertar e pensar que amanhã poderá ser com nossos filhos, sugerindo que é preciso ressignificar o conceito de se importar. [Taquígrafa: Rubia]