Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 029ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 30/04/2003
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - (Passa a ler)
"Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje estamos na véspera do dia 1º de maio, dia mundialmente consagrado como Dia do Trabalho.
No momento em que faço minha homenagem ao conjunto dos trabalhadores de Santa Catarina, faço também um chamamento para uma reflexão profunda sobre a nossa natureza, o nosso caráter, os nossos compromissos com a sociedade, enfim, os nossos sonhos.
Por certo, a nossa sociedade contemporânea fundamenta-se nas disputas entre o capital e o trabalho, nas disputas existentes entre aqueles que acumulam riqueza, porque detêm o controle do capital, e aqueles que buscam e constroem a sua sobrevivência a partir do trabalho.
Equivocam-se todos aqueles que imaginam que o capital e o trabalho são harmônicos e complementares. O excedente acumulado por um é o que há de menos para o outro. Equivocam-se, também, todos aqueles que imaginam que a nossa sociedade não esteja dividida em classes. Só os que se fazem cegos ou fingem ter ouvido mercador teimam em negar a existência da luta de classes. De um lado a burguesia, do outro a imensa maioria que vive ou apenas sobrevive.
Para os que têm um mínimo de boa vontade, ao ler o mundo fica evidente que os interesses, a abundância, a fartura e os privilégios daqueles poucos que detêm o capital são a maldição e a desgraça das grandes multidões condenadas a uma vida de bestas de carga, tal como escreveu o sábio Eduardo Galeano.
O Partido dos Trabalhadores nasceu há mais de 22 anos, nasceu com a clara convicção de que o trabalho é a base da vida social. Nasceu sabendo que é o trabalho que transforma a natureza nos bens materiais indispensáveis à sobrevivência e à evolução da humanidade. Ao fazer constar de seu nome a palavra trabalhadores, o PT deixou claro a que veio e a serviço de quem e do que está.
O PT consolidou-se como o Partido político que tem como projeto básico construir uma sociedade nova, o PT não quer uma sociedade onde tudo seja propriedade de poucos. O PT deseja um País onde os meios de produção pertençam ao conjunto da sociedade e onde aqueles que trabalham e produzem a riqueza possam dela, de fato, usufruir.
O PT tem o inequívoco compromisso de construir uma Nação onde seus filhos não dependam das migalhas oferecidas ou jogadas pela janela. O Estado brasileiro, com suas instituições e com todo seu arcabouço jurídico, foi organizado para perpetuar a ordem vigente.
Nas últimas eleições, o Partido dos Trabalhadores e as forças progressistas que o acompanham receberam das urnas a atribuição de administrar o Estado brasileiro organizado nos moldes e de acordo com a conveniência da burguesia. O PT foi encarregado de governar o Estado burguês. Ao PT foi dado o Governo, não o poder.
Enquanto o Estado permanecer edificado sob os moldes da burguesia, enquanto existirem instituições organizadas segundo o projeto burguês, enquanto as leis elaboradas pela burguesia permanecerem em vigor e enquanto os meios de comunicação continuarem a serviço da burguesia, a mudança de modelo não virá. No máximo, teremos uma mudança na gestão do modelo, que continua capitalista.
Não é possível, porquanto é necessário mudar de modelo. Porém, para fazê-lo não basta que os trabalhadores estejam no Governo. É fundamental que também detenham o poder.
Com as eleições ganhamos o Governo, com ele estancamos a sangria e a pajelança que era feita com o patrimônio e os recursos públicos. Com as reformas estaremos pavimentando o caminho para ganhar o poder e, aí sim, mudarmos o modelo.
Sabemos que a Direita tudo fará para desacreditar dos trabalhadores no Governo e impedir que ascendam ao poder. Cobram as mudanças que sabem que só virão quando os trabalhadores forem não só Governo, mas também poder.
As elites conservadoras, serviçais do imperialismo, continuam com o poder, porque construíram o que aí está para lhes servir eternamente, mesmo que percam o próprio Governo.
Mas uma coisa é certa: com ou sem autorização dessas mesmas elites os trabalhadores vão conquistar o poder e com ele construir a nova ordem.
Aos que, porventura, estejam do outro lado da trincheira, mas que dedicam boa parte de seu tempo para nos exigir as mudanças que o Estado burguês não nos permite fazer, mudanças, aliás, que no fundo não desejam, ouso fazer um desafio: dêem-nos o poder e verão o que os trabalhadores são capazes de fazer.
Porém, lembrem-se que quando as verdadeiras mudanças vierem não haverá Governo algum distribuindo lenços para aquelas viúvas que chorarem a perda dos privilégios e a perda das riquezas usurpadas aos trabalhadores.
Por isso, Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, o 1º de Maio que queremos comemorar não é apenas o martírio dos cinco operários condenados à forca, porque ousaram reivindicar uma jornada de trabalho de oito horas diárias, além de melhores condições de trabalho para mulheres e crianças.
O 1º de Maio que queremos, e que um dia vamos comemorar, é aquele em que festejaremos a nova sociedade, justa, fraterna, solidária e igualitária.
Vamos comemorar uma sociedade sem classes. Não haverá mais alguns poucos ricos de um lado e muitos pobres e excluídos do outro.
No Brasil, sob o Governo e o poder dos trabalhadores, num Estado construído pelos trabalhadores, não haverá um só compatriota com fome de comida, com fome de casa, com fome de serviço de educação, com fome de serviço de saúde de qualidade, com fome de trabalho, com fome de lazer e com fome de vida.
No Brasil, neste nosso querido Brasil, que amamos e que queremos e vamos transformar, em que acreditamos, no fundo de nosso coração, que o trabalho é a única fonte de riqueza, em que acreditamos que cada cidadão e cidadã devem receber conforme o que produz, não haverá lugar para exploradores, não haverá lugar para aqueles e aquelas que sustentam o próprio luxo às custas da miséria, da fome, da tristeza e da desgraça da grande maioria do nosso povo sofrido."
Para tanto, Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, não podemos, em hipótese alguma, assomar à tribuna como carroças vazias, sem conteúdo e sem fundamentação para o debate, para convencer a sociedade que ali está. Nós temos que ser claros, porque a democracia pressupõe a participação e a liberdade de expressão. Mas que essa expressão esteja fundamentada e alicerçada na teoria, no fundamento e na solidez da sociedade em que estamos vivendo.
Por isso, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, que vivemos o dia 1º de maio. O dia em que devemos olhar com carinho, porque é através do trabalho que a riqueza e o bem-estar do nosso povo acontecem. E por detrás desse trabalho existem muitas e muitas pessoas vivendo na situação de miséria, na situação de exploração, onde lhes é sugado o sangue, o suor e o trabalho à custa de uma minoria que sempre viveu do poder, que sempre usou o poder para explorar e massacrar a grande maioria da nossa sociedade.
Então, é imprescindível que este Parlamento se torne um Parlamento da verdade; um Parlamento da transformação; um Parlamento onde possamos criar a cidadania, a justiça e a igualdade para esses cidadãos espalhados em nosso Estado, em nosso País, os quais vivem numa situação de desgraça, de miséria e de exclusão social.
Era o que eu tinha a dizer neste dia que antecede ao Dia 1º de Maio.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)