Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 076ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 06/10/2005
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Sr. presidente, sra. deputada, srs. deputados, trago a esta tribuna uma preocupação que acontece neste exato momento em nível nacional, com relação ao projeto de transposição do rio São Francisco.
Quero fazer algumas observações sobre esse projeto, mas, de maneira especial, quero destacar o gesto do frei Luiz Flávio Cappio, frade franciscano, que está sensibilizando a sociedade em nível nacional por estar em greve de fome há vários dias. Além de sensibilizar a sociedade, mais pessoas estão aderindo ao gesto.
Não quero aqui fazer nenhum tipo de crítica ao projeto ou ao governo federal, mas à luz de vários estudos e por depoimentos de pessoas que vivem naquele meio ambiente, levantam-se alguns questionamentos.
O hidrólogo João Abner, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sustenta que a obra não altera a situação de quem sofre com a seca no semi-árido. Pelo contrário, ela vai queimar uma enorme fatia de recursos da União e nesse sentido vai comprometer o desenvolvimento da própria região nordeste para os futuros anos e, no fundo, não vai beneficiar a grande maioria da população que sofre com a seca naquela região. Beneficiará empresários ligados à seca e políticos que a usam como suporte eleitoral.
Essa é uma crítica que a própria Igreja faz. E por isso, enquanto no exercício do mesmo ministério, não posso me omitir. Na verdade, todo mundo vai perder com esse projeto, exceto os grandes empresários e os políticos que, historicamente, beneficiaram-se com a cultura da seca que o povo nordestino vive.
A área de alcance do projeto é de apenas 5% do semi-árido, e a seca está nos outros 95%. Esta é uma preocupação e um dos motivos pelos quais o bispo se mantém em estado de jejum.
A transposição das águas do rio São Francisco vai aumentar o estoque de água nos grandes reservatórios para atender a demandas da irrigação e da carcinicultura. Agora, o problema da seca no semi-árido vai continuar igual.
Nós temos que tomar cuidado, sim, para não entrarmos num processo demagógico. E nós, como políticos, como lideranças, temos que tomar cuidado. Não podemos deixar que utilizem essa indústria para benefícios.
Na transposição das águas do rio São Francisco serão alocados, inicialmente, quase R$ 5 bilhões. Com toda certeza esse imenso volume de recursos poderia não só amenizar, como resolver grande parte dos problemas da seca do nosso povo nordestino. E para manter o próprio projeto serão investidos, anualmente, de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões.
A grande preocupação do frei e nossa, como cidadãos, é com o benefício social que a obra levará ao povo nordestino! Eu li a carta que escreveu frei Luiz ao povo nordestino. No seu conteúdo ele interpela o coração, a vida, porque essa luta do frei é para que haja vida.
Por isso a minha moção a ser enviada ao nosso presidente federal, para que possa reabrir o diálogo com os vários setores envolvidos, pois já existe sinalização do próprio presidente, para a revitalização do rio São Francisco.
Essa é a grande preocupação. Nós temos que devolver a água àquelas populações, água que é vida, base de sustentação da caminhada e da história de todos os seres vivos. A água, custe o que custar, tem que ser preservada, porque onde não existe água, e água de qualidade, não existe vida, em momento nenhum.
Para concluir, sr. presidente, desejamos que, primeiro, o governo dê continuidade à iniciativa de revitalização do rio São Francisco, recuperando-o e devolvendo-lhe a vida. Segundo, momentaneamente, que ele suspenda esse projeto e que reabra o diálogo, a discussão com a sociedade.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)