Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 075ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 20/09/2007
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Sra. presidente, srs. deputados, vou desviar um pouquinho o foco, mas ao mesmo tempo vou trazer presente uma realidade preocupante em nível nacional, em nível mundial, que está relacionada à questão ambiental, tendo em vista que o presidente Lula na próxima semana estará nos Estados Unidos discutindo com vários representantes de estado a questão do aquecimento global.
Quero trazer presente a esta Casa e àqueles que nos acompanham, um momento para pensar, para refletir na vida e na nossa caminhada. Trata-se de uma pequena crônica de alguém que se imaginou estar vivendo no ano 2070 e resolve escrever uma carta endereçada ao povo no momento que estamos vivendo.
Gostaria que a assessoria fosse exibindo o vídeo para que pudéssemos acompanhar, pelo painel, a leitura.
(Passa a ler.)
"Carta escrita no ano de 2070
Ano de 2070.
Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais, porque bebo pouca água e creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha cinco anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por aproximadamente uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem água. O meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. E hoje os meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma. Até recordo que havia muitos anúncios para cuidar da água, só que ninguém dava atenção. Pensávamos que a água jamais poderia terminar. E agora todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
As infecções gastrointestinais, as enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte. A indústria está paralisada, e o desemprego é dramático, as fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego, e pagam os empregados com água potável, em vez de salário. Os assaltos por um bujão de água são comuns nas ruas desertas. E a comida é 80% sintética. Antes, a quantidade de água indicada como o ideal para se beber era de oito copos por dia por pessoa adulta; hoje, só posso beber meio copo.
A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas sépticas, como no século passado, porque a rede de esgoto não funciona mais, por falta de água.
A aparência da população é horrorosa, corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele, pelos raios ultravioletas, eis que já não existe mais a camada de ozônio que os filtrava na atmosfera. Com o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40 anos. Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminui o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos e como conseqüência há muitas crianças com insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos, 137m³/dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das zonas ventiladas, que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas pode-se respirar. A idade média é de 35 anos.
Em alguns países restam manchas de vegetação, com seu respectivo rio, que é fortemente vigiado pelo Exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui não há árvores, porque quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, ela é de chuva ácida. As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas e pela poluição das indústrias do século XX. Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que fale de quando eu era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques. Falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse. Como éramos saudáveis! E ela pergunta: 'Papai, por que a água acabou?' Então, sinto um nó na garganta, não posso deixar de me sentir culpado, porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos. E agora os nossos filhos pagam um alto preço.
Sinceramente, creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isso, enquanto ainda é possível fazer algo para salvar o nosso planeta Terra."
Então, srs. deputados, sras. deputadas, essa crônica, uma publicação de uma das revistas da Crônica de Los Tiempos, em abril de 2002, pelo menos nos faz pensar, refletir, porque tudo se dá a partir da ação de cada um de nós.
Também quero dizer, deputado Professor Grando, que a natureza nos dá a resposta.
O Sr. Deputado Professor Grando - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Pois não, com prazer.
O Sr. Deputado Professor Grando - Nada mais justo do que neste momento essa poesia, ou esse texto, porque temos amanhã o Dia da Árvore, o início da primavera. E conclamo todo o povo de Santa Catarina para que, junto às matas ciliares, plante árvores nativas, árvores catarinenses.
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Muito obrigado, deputado Professor Grando. E nesse mesmo espírito tenho encaminhado um pedido ao governo para que envie a esta Casa um projeto de lei sobre as matas ciliares.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)