Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 010ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 12/03/2003
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA -
(Passa a ler)
"Sr. Presidente, Sra. Deputada, Srs. Deputados, desde a sua fundação, o Partido dos Trabalhadores dedica boa parte de suas lutas à busca de soluções para os problemas relacionados à agricultura. Não porque o discurso fácil e demagógico, envolvendo as angústias do homem seja uma máquina de produzir votos, mas porque, desde logo, e não poderia ser diferente, aceitou uma verdade histórica. A agricultura é a mais importante das atividades econômicas praticadas pela humanidade.
Desde sempre o homem alimenta-se de raízes, frutas, carnes e grãos. E isso dificilmente se modificará.
Não há como garantir aos indivíduos que eles terão o que comer se a agricultura não for compreendida por aqueles que têm responsabilidade de Estado, como uma atividade econômica diferenciada de outras na moderna economia. Caso a humanidade fosse vitimada por uma grande tragédia, uma hecatombe, por certo poderíamos sobreviver sem os bancos, sem os grandes meios de produção, transporte, sem energia, sem os complexos industriais de transformação, etc., mas ninguém sobreviveria de barriga vazia.
Portanto, nesta Assembléia popular, ao tratarmos das questões agrícolas e das questões envolvendo a pecuária, não podemos fazer o discurso ou o debate miúdo, infundado.
A agricultura precisa ser compreendida como o instrumento econômico indispensável à sobrevivência da espécie humana. Mais do que isso, se temos responsabilidade com a vida de homens e mulheres, vida com dignidade, não podemos lembrar da agricultura apenas quando nos deparamos com crises setoriais, quando o capitalismo mostra suas garras, quando o propalado livre mercado resolve diminuir ou até fazer zerar os lucros dos desavisados para alimentar a prosperidade daqueles que especulam mercadorias e moedas.
Nenhuma civilização conheceu a prosperidade sem que tenha satisfeito alguns requisitos básicos, entre eles: garantir a produção agrícola para alimentar a sua gente; criar e fortalecer o mercado interno.
O modelo agro-exportador, que nos caracteriza desde os tempos do colonialismo explícito, nada mais é do que a forma de promover o abastecimento dos centros do capital mundial com enorme lucratividade para os mercenários do mercado.
Não posso assomar esta tribuna para expressar solidariedade com aqueles setores cuja única preocupação é a recuperação da lucratividade e retomada dos privilégios perdidos em disputas tipicamente capitalistas. A dor de cotovelo dos que idolatram os ‘deuses do mercado’ é resultado da incapacidade do sistema vigente em produzir relações econômicas minimamente justas.
No entanto, Sr. Presidente, Sra. Deputada, Srs. Deputados, não posso deixar de ser solidário com todos aqueles vitimados pelas relações que desgraçadamente o mesmo sistema produz e reproduz. Cultivamos alimentos sem planejamento estratégico e sem os cuidados necessários para garantir comida de qualidade para o nosso povo.
Preocupamo-nos muito mais em servir a mesa dos nossos algozes que vivem além-mar do que com nossos irmãos e irmãs, filhos e filhas, a nossa gente desta nossa querida terra.
A classe trabalhadora, aí incluídos todos aqueles e aquelas que verdadeiramente trabalham e produzem as riquezas, é a grande vítima econômica do sistema de exclusão existente, já que entre as vítimas sociais estão outros tantos brasileiros e brasileiras condenados a viver como párias de uma sociedade de desiguais.
Esses últimos, há muito, deixaram de ser parte do proletariado, pois o sistema nem os quer como contingente e reserva de mão-de-obra barata."
O Sr. Deputado Afrânio Boppré - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Pois não!
O Sr. Deputado Afrânio Boppré - Deputado Pedro Baldissera, aproveito a oportunidade porque hoje, neste Plenário, muito se falou de coerência, e quero aproveitar a sua intervenção para colaborar no seguinte sentido: não é verdade que coerência limita-se a uma relação entre discurso e prática.
Coerência, ela tem um tripé. Tem três categorias que precisam ser questionadas: o discurso, a prática e a base teórica, que fundamenta o discurso e a prática.
É preciso trazer para o plano do Legislativo o debate sobre a teoria, sob pena de ficarmos no plano da mera superficialidade, no plano da mera agitação, e usando setores da sociedade, dos trabalhadores, e até mesmo do empresariado, como marionetes para atender a determinado palanque eleitoreiro.
E quero chamar a atenção de que vivemos, e ainda no plano internacional, sob a égide de uma doutrina econômica e social, que é o liberalismo. A teoria liberal defende a retirada do Estado da intervenção econômica.
Por isso não podemos aceitar aqueles que têm filiação partidária num Partido, que se diz da Frente Liberal, vir aqui pregar intervencionismo econômico, caindo em plena incoerência, no plano da conjuntura, porque fere de morte a sua doutrina econômica.
Além disso, sabemos que o desejo dos movimentos sociais, do setor progressista da Igreja Católica, da CUT, do PT, do MST, nunca foi meramente governar o Brasil. Sempre lutamos pela transformação do Brasil. E o Governo do Lula, neste momento, é uma das ferramentas, um dos instrumentos que vão potencializar a possibilidade e a transformação social.
Por isso, aqui, vamos sempre exigir daqueles que vêm fazer discurso fácil, com fundamentação teórica. Se eles não têm fundamentação teórica, vamos apelar para o seu Partido, porque no seu Partido tem fundamentação teórica, estão conectados numa compreensão de vida, de mundo, de relações sociais. E vamos sempre, assim como V.Exa. neste momento eleva o nível do debate na Assembléia Legislativa, a nossa Bancada, estar dispostos a fazer o debate no diapasão que V.Exa. traz ao Plenário.
Meus parabéns!
SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Agradeço o seu aparte, Deputado Afrânio Boppré. Isso, sem dúvida nenhuma, vem enriquecer profundamente a colocação, a qual gostaria, sim, de maneira muito especial, de realçar, que essa realidade, o PT, ao longo de toda a sua história, de sua vida, tem se colocado à disposição para mudar.
(Continua lendo)
"Para isso o povo elegeu Lula, para isso a democracia concedeu ao Partido dos Trabalhadores um mandato de quatro anos.
Ao longo de décadas, para não dizer de séculos, as minorias que detinham o controle do aparato do Estado, serviçais dos interesses das elites nacionais e internacionais, construíram o que aí está.
Hoje, vez por outra, leio, vejo e ouço viúvas da velha ordem pedindo providências, pedindo pressa nas mudanças, com a convicção de quem sabe que Governo elegeu, a Bancada do Partido dos Trabalhadores lhes assegura que as mudanças virão, inclusive na agricultura e na pecuária, mas virão de acordo com os instrumentos de que o Governo dispõe, na mais absoluta ordem democrática e institucional.
Podemos combater a fome distribuindo comida. Mas, também, podemos resolver o problema da fome. Para isso estamos desafiados a fazer uma grande revolução produtiva a partir da agricultura. Primeiro assegurando o abastecimento do mercado interno para depois e, somente depois, exportar o excedente.
O Programa Fome Zero pode e está sendo construído nestes termos. O PT, Sr. Presidente e Srs. Deputados, aliado a outras forças populares, democráticas ou progressistas vai mudar o Brasil, não apenas porque queremos, mas porque o Brasil precisa mudar."
É nesse compromisso que assumimos este mandato, para exatamente contribuir para que hajam mais grandes e importantes mudanças na face da sociedade brasileira a qual nós vivemos.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)