Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 051ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 02/07/2008
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Sr. presidente, srs. deputados e sras. deputadas, o que me traz à tribuna na tarde de hoje é exatamente esse momento político em que vivemos, em nível nacional e mundial, naquilo que diz respeito à questão da política que envolve a produção de alimentos, ao mesmo tempo também vinculada à questão do preço e do consumo dos produtos advindos da nossa agricultura camponesa, da nossa agricultura familiar, que é a grande responsável para colocar o alimento na mesa de cada um dos seres humanos.
Acompanhando um pouquinho o discorrer dessa ou daquela intervenção, parece-me que se tenta atribuir o aumento dos produtos que vão à mesa dos nossos trabalhadores e trabalhadoras a questão política do governo do presidente Lula. Isso é interessante porque tudo aquilo que está acontecendo de bom na sociedade brasileira, os mesmos fazem referência ao governo do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso. Mas tudo aquilo que é ruim, que não é bom, tenta-se fazer um esforço terrível para jogar a responsabilidade em cima do governo do presidente Lula. Em nenhum momento se tenta buscar e pontuar a questão da causa do aumento dos produtos que fazem parte da vida, do dia-a-dia das pessoas do nosso país.
Qual seria a origem, a causa de tudo isso? Em nenhum momento se faz menção ao sistema globalizado, do qual a sociedade brasileira faz parte; ao mesmo tempo, em nenhum momento também se traz presente aqui as transnacionais, que têm o monopólio em cima de todos os insumos que fazem parte da diferente produção exercida pelos cidadãos e cidadãs brasileiros.
Eu gostaria de aproveitar o momento para dizer que, de acordo com a FAO, de um ano para cá, no Brasil, 23 milhões de hectares foram para a monocultura da soja e da cana-de-açúcar. Além disso, segundo a própria FAO, o aumento também tem sua origem na questão meteorológica, ou seja, na seca ou nas inundações que são provocadas pelo aquecimento global. Isso tudo tem a ver, mas existem causas também mais profundas que estão presentes na especulação das transnacionais que fazem parte desse sistema globalizado.
Nós temos hoje, em nível mundial, em torno de 40 grandes empresas. Podemos citar aqui algumas delas, como a Monsanto, a Cargill, a Bunge, a Continental Grin, a Bayer, a Coca-Cola, a Pepsi-Cola e por aí afora, que controlam a produção e o comércio agrícola de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, e até mesmo o comércio da própria produção. Esse grupelho, que tem o monopólio e o domínio, teve em média 60% do lucro líquido no ano que passou. Quem é que está pagando essa conta? Quem paga essa conta?
Mas eu me lembro de que a empresa Ultrafértil foi negociada - aliás, nós estamos celebrando os 15 anos da privatização dessa empresa. Ela foi privatizada, se não estou enganado, no governo Itamar Franco, em 1993, e hoje faz parte da produção de todos os fertilizantes que têm o controle e o domínio a fim de fazer com que a terra possa produzir com qualidade e quantidade os nossos produtos.
Na época, foi privatizada com recursos públicos, sendo mais de R$ 1 bilhão financiado pelo suor e pelo sangue do nosso povo brasileiro, e colocada nas mãos da iniciativa privada, de uma multinacional! É isso que temos de trazer presente nesse momento. E é em conseqüência disso que os preços estão subindo e a população está pagando. É por isso que temos que denunciar.
Temos que ter coerência porque não dá para viver numa sociedade em que alguns pagam a conta, enquanto outros, uma minoria, enriquecem ilicitamente, injustamente em cima do trabalho, do sacrifício dos brasileiros e das brasileiras. É preciso colocar um basta nisso.
Existe, sim, um incremento na questão dos preços dos alimentos, mas temos que buscar a origem. Onde está a causa? Aqueles que, hoje, criticam, ontem privatizaram, deram condições para que isso acontecesse.
Então, não dá para haver uma incoerência no discurso relacionado à prática. Nesse sentido, a fala na tarde de hoje já foi de minha iniciativa, ou seja, de uma denúncia ao Ministério Público!
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)