Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 050ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 02/08/2005
O SR. DEPUTADO PEDRO BALDISSERA - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, teríamos, com certeza, muitos assuntos para serem abordados, tratados e refletidos nesta tribuna, mas hoje gostaria de me ater ao tema da sessão solene da noite de hoje, assunto esse que foi tratado também no ano passado nesta Casa, que diz respeito à Semana Nacional da Família.
Portanto, esta noite a Assembléia fará, a partir das 19h, uma sessão solene em homenagem à Semana Nacional da Família.
O tema trazido para este ano de 2005 é: Família, Fonte de Vida e Construtora da Paz.
(Passa a ler)
"A primeira semana dedicada à família ocorreu no ano de 1992, como resposta às inquietações vividas diante do desenvolvimento frenético da vida moderna e do progressivo ofuscamento e perda dos mais diversos valores do ser humano.
Em sintonia a esta iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Assembléia Geral da ONU proclamou, pela Resolução nº 47/237, de 20 de setembro de 1993, o dia 15 de maio como o Dia Internacional da Família, com o objetivo de chamar a atenção de todo o mundo, governos, responsáveis por políticas locais e familiares, para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para os seus direitos e responsabilidades.
Em 1994, a Igreja Católica escolheu a família como tema da Campanha da Fraternidade. Tendo como lema ‘A família como vai?’, a campanha veio para celebrar o primeiro dia e o primeiro ano internacional da família, instituído pela ONU. Ao mesmo tempo, lançou-se um olhar sobre a realidade do mundo atual, na busca de sensibilizar a sociedade sobre a situação extremamente delicada vivida pelas pessoas que convivem em família.
Dentro do contexto proposto desde 1992, passando-se a 1993 e 1994, torna-se imperioso aprofundar a reflexão sobre a realidade da família na sociedade contemporânea. Hoje, a entidade familiar é constituída das mais diferentes formas, desde a ‘real-tradicional’ (pai, mãe e filhos convivendo juntos) até a família do ‘possível’, criada pela necessidade de sobrevivência das pessoas.
Entretanto, não se pode perder de vista a família cristã, que vive na gratuita e generosa solidariedade, mas que, como diversas instituições, está desvalorizada ou sendo questionada pela modernidade.
Mais do que uma abordagem religiosa, temos que destacar a família de forma antropológica e sociológica, afirmando a sua cidadania e reconhecendo o seu papel de sujeito na construção de uma nova sociedade, com condutas inspiradas em critérios de solidariedade e de plena reciprocidade, pois a família é indispensável para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.
A problemática que envolve a família tem sua origem em profundas transformações sociais, culturais, econômicas, filosóficas e religiosas. São realidades extremamente delicadas que mostram que a família está sofrendo profundas mudanças, tanto em sua estrutura quanto em suas funções, devido a uma nova compreensão das relações intrafamiliares que vai desde a redução do número de filhos, a emancipação e o trabalho da mulher, até a mudança no conflito de gerações.
Apesar da sua fundamental importância, a realidade nos mostra que a família ainda não é tratada com o devido respeito e reconhecimento. Mais de 20 milhões de famílias não alcançam mais de três salários mínimos por mês, ou seja, não possuem condições materiais para o sustento dos seus integrantes. Porém, não há como justificar o fato de que a família não esteja no foco das atenções públicas.
Um dos maiores males que afetam a família é a decisão do estado e de organismos da sociedade civil no sentido de privilegiar apenas o indivíduo, como objeto e destinatário de suas ações. A família precisa e merece estar no foco das atenções privadas e ser a referência para as políticas públicas.
É certo que não escolhemos nossa família ao nascer. Encontramos pais, irmãos e parentes formando um núcleo no qual seremos acolhidos ou não. São as mais diferentes situações e circunstâncias que o recém-nascido experimenta. Daí nos perguntamos: qual é a forma ideal para se constituir uma família? Quais os requisitos necessários para uma família no contexto em que vivemos? Temos muitas perguntas para responder, mas podemos afirmar que a família é a grande e primeira escola de convivência humana.
Por isso, devemos nos empenhar na superação das inúmeras diversidades e provações que surgem a cada dia. A família é um recurso que acolhe a vida, forma o homem, garante a troca de gerações e o intercâmbio entre elas. É o lugar onde se experimenta a gratuidade, o dom recíproco, a importância de amar e ser amado. É um recurso porque produz capital humano, educa os filhos, transmite cultura e os valores que formam o homem, além de desempenhar a função de amortecedor social em momentos de crise econômica.
É na família que se responde a inúmeras necessidades. É onde se acolhe, educa, cuida, cura. É o lugar em que se socializam as alegrias e as tristezas. É nela que se aprende a conviver com as diferenças e com os limites, fundamental para o bom convívio em sociedade.
A família não é apenas um ‘mundo privado’, mas um espaço público, no qual são vividos valores e práticas sociais. É um sujeito social dotado de cidadania, titular de direitos e de deveres, pois precede ao estado na sua constituição e o precede na relação com os cidadãos. Nos diversos ambientes, a família possibilita o exercício da cidadania e a participação democrática de maneira positiva, sendo protagonista do próprio projeto de vida do indivíduo.
Este projeto de vida deve se contrapor ao nosso mundo frio e ‘duro’, que perdeu a delicadeza do bom trato. Devemos ter em mente a missão de viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas. A família deve ser santuário e servidora da vida, já que o direito à vida é a base de todos os direitos humanos.
Não basta a família existir ou apenas sobreviver. Ela tem papel relevante a cumprir para o bem de cada um de seus membros e para o bem-estar da sociedade. Temos a certeza de que o seu papel é decisivo na busca de caminhos e respostas às dificuldades que as pessoas encontram.
A família constitui o lugar nativo e o instrumento mais eficaz de humanização e de personalização da sociedade. A entidade familiar bem constituída é uma certeza de que todas as formas de opressão, autoritarismo, exclusão, violência, intolerância e manipulação política são superadas, podendo-se viver uma paz social duradoura na justiça e na solidariedade.
Na família dá-se e recebe-se ternura, carinho, apreço, segurança, generosidade, partilha. Ali se fortalece o elo de ligação entre o passado, o presente e o futuro, onde se constitui a esperança da sociedade e da igreja.
Será que se tem valorizado a família como instituição e agente sócio-transformadora, como protagonista privilegiada da construção de uma nova realidade e das próprias razões de se ter esperança?
Então, cabe a cada um de nós um grande desafio. Mãos à obra! Exerçamos, neste sentido, o nosso direito de cidadania, para que a Semana Nacional da Família possa atingir o seu objetivo.
Quem sabe assim poderemos fazer com que os interesses da família e da vida possam marcar presença nas políticas públicas gestadas em nosso estado, em nosso país. O momento é agora e a família poderá ser sempre fonte de vida e construtora da paz."
Este é o lema que envolve a Semana Nacional da Família que tem este mês dedicado às vocações, e entre os dias 14 e 21 de agosto estaremos convidados a fazer esse debate, essa reflexão em todo o nosso estado e país.
Deixo aqui o meu convite a todas as Deputadas e a todos os Deputados para participarem desta sessão especial que acontecerá, nesta Casa, a partir das 19h, tendo como tema: Família, Fonte de Vida e Construtora da Paz.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)