Pronunciamento

Padre Pedro Baldissera - 016ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 14/03/2012
O SR. DEPUTADO PADRE PEDRO BALDISSERA - Sr. presidente e srs. deputados, aproveito a tarde de hoje para trazer presente alguns aspectos que dizem respeito ao dia 14 de março, que marca o Dia Internacional de Luta contra as Barragens. E é exatamente em torno disso que muitas vozes têm-se levantado e através de suas organizações têm feito mobilizações para mostrar à sociedade brasileira e mundial os problemas ambientais, humanos, sociais e econômicos causados pela maioria das barragens nas diferentes regiões em que estão sendo construídas.
Só para se ter ideia, no Brasil foram construídas, até o presente momento, mais de duas mil barragens e está prevista a construção, nos próximos anos, de mais 1.443 barragens.
Sabemos que a energia é uma necessidade para a população. É preciso que haja energia, é preciso que se produza energia, mas temos que ter também a capacidade e a ousadia de buscar alternativas de produção de energia. Existem alguns encaminhamentos, mas muito tímidos, infelizmente, com relação à produção alternativa de energia.
É por isso que em Santa Catarina, que não é diferente do resto do país, têm ocorrido várias mobilizações, como as que ocorreram ontem e hoje, que ocorrerão também amanhã, em função exatamente do dia 14, que é o Dia Internacional de Luta contra as Barragens.
É claro que o foco principal de todas essas mobilizações está concentrado em denunciar as graves consequências, sejam elas sociais, econômicas, culturais ou ambientais, desse modelo energético em nível mundial. Então, ele está diretamente direcionado, centralizado na denúncia desse modelo que provoca terríveis consequências à vida das pessoas e à questão econômica, social, e ambiental.
Nessa mesma direção, as mobilizações estão revestidas da busca de uma cobrança, para que as construtoras dos lagos ofereçam uma atenção mais forte aos desalojados. São muitas famílias que estão sendo desalojadas e que não têm rumo, não sabem para onde ir e muito menos o que fazer. Portanto, além de denunciar esse modelo energético, essas mobilizações têm a finalidade de tornar presente essa situação cruel, dramática, para milhares de famílias no país e no mundo. Além disso, acompanhamos, ontem, a ocupação do canteiro de obras da Usina Garibaldi, em Abdon Batista, por mais de 400 pessoas, no sentido de provocar negociação por parte da empresa Triunfo, pois há muito tempo os atingidos vêm procurando sentar-se à mesa de negociação, mas infelizmente a empresa não está propiciando o diálogo com as famílias atingidas por aquela usina.
Portanto, quando a violência é extrema, temos que tomar atitudes mais drásticas, mais fortes, para poder sensibilizar ou pelo menos convencer aqueles que dominam o processo da construção a sentar e a dialogar.
Na manhã de hoje, mais de 400 pessoas desocuparam a área por força de decisão judicial, mas continuam mobilizadas e organizadas. Querem também que os poderes constituídos intervenham nessa situação que estão enfrentando.
É claro que outro aspecto extremamente importante e essencial é exatamente a luta por melhores condições de vida e de alojamento dos trabalhadores daquela usina, que estão em instalações precárias, sem condição nenhuma de poder viver. É uma situação desumana, além de ter que prestar o serviço durante todo o dia.
Fora isso, é claro que o movimento busca uma política nacional que defina diretrizes e critérios para o tratamento dos atingidos por barragens. Ao mesmo tempo, pede que se crie o fundo de auxílio para reparar os prejuízos e garantir o reassentamento das famílias desalojadas.
Então, parece-me que são reivindicações extremamente justas. Não estão pedindo nada mais do que aquilo que lhes pertence, aquilo que construíram com muito suor, com muito trabalho e com muito esforço e que agora veem ameaçado: seu patrimônio, sua cultura, sua história e sua vida, sem perspectiva nenhuma para seus filhos e filhas.
Portanto, é uma situação dramática, difícil, e é preciso que se faça alguma coisa. Não dá para, em nome do capital, em nome do poder econômico, tirar a dignidade e a vida de pessoas. É preciso, sim, que haja preocupação com a questão financeira e econômica, mas a vida tem que ser colocada acima de tudo!
Por isso esse desabafo, neste momento, mas é preciso que haja uma política diferenciada com relação aos atingidos pelas barragens.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)