Pronunciamento

Nilson Gonçalves - 093ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 27/10/2010
O SR. DEPUTADO NILSON GONÇALVES - Sr. presidente e srs. deputados, há pouco recebi a visita, em meu gabinete, de um joinvilense, na verdade de um atleta joinvilense, o lutador de boxe mais conhecido por Alazão. Ele me contava que quando estava chegando a Florianópolis havia, na ponte, uma barreira que estava parando todo mundo. Pararam-no, mandaram-no erguer os braços e colocar as mãos no capô, revistaram-no e coisa e tal. Acabaram reconhecendo-o, porque ele é um atleta, um lutador de boxe bastante conhecido em Santa Catarina e fora do estado também. Mas explicaram a ele que estavam fazendo essas barreiras para poder coibir ou minimizar a onda de assaltos que acontecem em Florianópolis e também nas cidades vizinhas.
Nesses últimos dias, tem-se intensificado de maneira bastante forte a questão dos assaltos a estabelecimentos comerciais na nossa capital. Hoje, pela manhã, ouvia um dos comandantes da Polícia Militar comentar que o problema da segurança pública tomou uma dimensão muito maior do que os limites apenas da Polícia Militar. O problema da segurança pública tornou-se de cunho social e para achar uma solução para esse problema seriíssimo teriam que estar envolvidos todos os segmentos da sociedade organizada. Todos, exatamente todos, e não deveriam debitar apenas e tão somente à Polícia Militar a responsabilidade para resolver esse problema, até porque ela não tem como resolver. Ela tem como coibir determinadas situações e não pode fazer milagres.
A situação que vemos hoje, em Florianópolis e na região, segundo o conhecimento que temos, é que quando o tráfico de drogas flui normalmente na capital e nas cidades vizinhas, e aqui com muito mais redundância porque é a capital do estado, é porque é o local onde acontecem eventos de toda ordem e de toda forma e porque a droga é companheira dessas ocasiões.
Mas quando a polícia repreende de forma ostensiva essa questão que está acontecendo agora, por exemplo, em que a polícia desbaratou pelo menos umas três ou quatro quadrilhas de traficantes aqui da região e fez a apreensão de drogas, que eu diria até bastante grande, esse pessoal migra para outro tipo de delito. Por quê? Porque eles não estão conseguindo vender o seu produto que é a droga. Como eles não estão conseguindo vender drogas por conta da repressão forte da polícia, eles migram para outro tipo de delito para fazer dinheiro, porque têm dívidas. E nesse submundo o cara dever R$ 5,00, R$ 10,00, R$ 100,00 ou R$ 10 mil é a mesma coisa. Se não pagar, paga com a morte, paga com a própria vida. Perde a vida, porque não há conversa nesse submundo, não há meio termo.
Então, o que eles fazem quando se vêem pressionados por conta da repressão dos policiais em cima das drogas? Eles migram para outro tipo de delito. E aí começam a se suceder assaltos a estabelecimentos comerciais com muito mais redundância, com muito mais incidência do que normalmente se vê. E é isso exatamente o que está acontecendo em Florianópolis e também nas cidades vizinhas à capital.
Esses mesmos elementos estão migrando para outro tipo de atividade, enquanto a polícia está nessa repressão. Na hora em que ela der uma afrouxada, na hora em que der uma acalmada na questão das drogas, eles voltam ao seu lugar comum e passam a verter dinheiro através das drogas. É uma situação que não é novidade para mim que conheço bastante esse segmento, trabalho com isso há pelo menos 30 anos e convivo quase que diariamente com esse tipo de problema.
Eu tenho, em Joinville, há pelo menos 20 anos, um programa de televisão e há 30 anos um programa de rádio, de cunho policial; temos repórteres todos os dias em delegacias; temos repórteres todos os dias convivendo com policiais militares e policiais civis e lá acontece exatamente a mesma coisa que aqui em Florianópolis, ou seja, se a polícia faz a repressão em determinado segmento da criminalidade, ela migra para outro local. Pressionou lá, ela migra para outro local, e assim vai. Porque na cadeia mesmo ficam apenas 30%. Até porque, se ficassem presos todos os elementos que a polícia prende diariamente, não teríamos presídios suficientes para manter essa turma lá.
Então, é uma situação muito complicada, é uma situação que envolve toda a sociedade organizada, não só a polícia, como todos os segmentos organizados da sociedade que precisam ter um envolvimento nisso para se achar uma solução.
Mas o cerne do problema está nas drogas, começa tudo nas drogas. E agora muito pior ainda, porque nós temos o crack. Até não muito tempo atrás a droga mais pesada que víamos por aí era a cocaína. No meu tempo era maconha, LSD, essas coisas todas dos anos 70. Fumava-se um baseado e todo mundo ficava muito down. Então, era o LSD, as bolinhas, cheirava-se as bolinhas arrebentadas no lenço e todo mundo ficava down. Hoje, não. Até pouco tempo era cocaína e agora é o crack. E o crack é o grande negócio do traficante, porque basta apenas e tão somente uma experimentada ou no máximo duas vezes para ter ali um cliente perpétuo, um cliente para sempre, um refém seu.
E é por isso que a coisa se alastrou. Tanto que o crack hoje já entrou também na classe média e na classe alta. Antes o crack era a droga do pobre, do pé de chinelo, daquele que não tinha onde cair morto. Agora o crack migrou para a classe média e para a alta sociedade, porque faz a vítima no seu primeiro ato e a partir daí adeus. Então, essa é a situação.
Eu tinha outros três assuntos para tratar, mas acabei envolvido com esse assunto que certamente preocupa todos nós que temos filhos. No meu caso, me preocupo mais com os meus netos. Eu já tenho um neto com 15 anos e mais duas netinhas que estão entrando na adolescência. Eu pensava que quando criasse os filhos já não teria mais problema, mas aí vem a preocupação com os netos. Esse é o problema, não é, sr. presidente.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)