Pronunciamento

Nilson Gonçalves - 050ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 20/05/2014
O SR. DEPUTADO NILSON GONÇALVES - Sr. presidente, srs. deputados, dando sequência a esse depoimento do deputado Eni Voltolini, nós que trabalhamos com rádio e TV, o nosso programa tem esse perfil de noticiário, então, toda segunda-feira que apresentamos esses programas, que é diário, saio com o astral lá embaixo e, às vezes, tenho dificuldade de encarar o resto do dia pela saraivada de informações e sequências de todo tipo de morte, especialmente no trânsito. É impressionante!
Sou motociclista há pelo menos 40 anos e já perdi muitos amigos nesse meio, por conta dos acidentes. E nesta semana perdi mais um naquela reta entre São Francisco do Sul e Enseada. Um motociclista que estava num evento para arrecadar donativos, dinheiro, para ajudar o Corpo de Bombeiros Voluntários de São Francisco do Sul, quando saiu do evento e entrou na rodovia, foi literalmente atropelado por uma caminhonete que vinha pela rodovia. Logo em seguida, foi constado que a pessoa que atropelou e matou esse nosso amigo estava com alto teor de álcool no sangue. Ou seja, foi dito textualmente, não sou eu quem está falando, estava embriagado e era uma moça.
Então, a sequência de mortes e acidentes no trânsito tem várias facetas no nosso país, primeiramente a questão cultural da velocidade que o brasileiro tem por conta da certeza absoluta de quem comete exageros no trânsito não vai preso. Pode ir até a delegacia de Polícia, mas não vai preso. Muito raramente alguém fica preso por conta de um acidente, mesmo que tenha provocado a morte de alguém. Muito raramente alguém vai preso, pois temos essa cultura da velocidade.
Praticamente estou todos os dias na rodovia. E quando tenho pressa e quero podar um carro que está um pouco mais devagar, e o mesmo acelera, aí acelero e vice-versa. É uma cultura de que não posso deixar passar, tenho que correr.
Faço um paralelo disso em relação aos Estados Unidos, por exemplo. Já transitei por lá várias vezes e a última vez fui com meu irmão, no ano passado, fazer a Rota 66, de motociclistas. Essas motos são grandes, desenvolvem uma boa velocidade, mas nós, aqui, culturalmente andamos numa velocidade superior. Mas lá tem as tais 70 milhas, não pode passar dos 110 quilômetros, se não estou enganado.
Então, é interessante ver a autopista com seis pistas de cada lado e aquele comboio todo andando na mesma velocidade. Mas para nós brasileiros dá uma vontade de acelerar, passar e sair daquele comboio, mas acaba se adaptando àquele esquema. Vez por outra passa um mais rápido, e não demora muito a viatura policial passa atrás e para o elemento. O que quer dizer estão sendo vigiados, vistos, por isso, a cultura de se respeitar a velocidade, e naturalmente os acidentes diminuem.
Ao formar esse paralelo, volto ao Brasil, para as nossas rodovias, primeiramente precárias. Pegamos a BR-470 e a BR-280, dois verdadeiros corredores da morte, as rodovias da morte em Santa Catarina. Não tem como dizer não, porque toda semana ou temos acidentes violentos ou temos atropelamentos, porque essas rodovias passam por perímetros urbanos.
Assim, por mais que você queira respeitar a velocidade de transitar a 100 km/h na BR-101, por exemplo, vem um caminhão e passa por cima da gente. E dependendo do lugar há risco de acidente por conta da velocidade empregada, pois não existe limite de velocidade. Vez por outra a Polícia Rodoviária resolve colocar um desses radares móveis em determinado lugar, faz um caminhão de multas, porque ninguém espera ou está acostumado com isso, e aquilo vira uma grande surpresa. Se passar uma tarde lá, sai centenas de multas, por conta dessa surpresa que o cidadão tem ao transitar pela rodovia.
Fora isso, a velocidade quem faz é a sensatez do cidadão. Se ele é sensato, anda dentro de uma velocidade razoável e consegue transitar, não dentro do limite, porque se fizer isso o caminhão passa por cima. Agora, quem quer andar a 150 km/h, 140 km/h, 160 km/h, 180 km/h, anda tranquilamente, e em determinados momentos a rodovia vira uma pista de automobilismo, porque há uma competição, pois esses carros potentes que desenvolvem mais de 200 km/h com facilidade passam em altíssima velocidade por nós, um colado no outro, tentando passar pelo outro. Então, há essa cultura.
Aliado a isso temos o problema da lei seca aqui no país, que é a tolerância zero, mas toda semana tem gente sendo presa, porque estava dirigindo embriagado.
Se todos fossem presos ao dirigir embriagados, não teríamos nem prisão para tanta gente. E o que tenho? Existe também o sentimento de impunidade, que está fazendo os crimes de trânsito e também multiplicando os assaltos à mão armada. É a mesma coisa. E agora temos um esquema: o cidadão que cometeu um crime com pena de no máximo quatro anos de prisão, nem na cadeia fica. Isso quer dizer que ele vai cumprir outro regime, mas não fica preso. Então, com toda essa sensação de impunidade tanto no trânsito como também nos eventos penais é que está levando o nosso país a ser conhecido como um país cheio de criminosos, de acidentes, como um dos maiores causadores de acidente de trânsito no mundo.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)