Pronunciamento

Moacir Sopelsa - 109ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 06/11/2012
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Muito obrigado, sra. presidente, srs. e sras. deputadas, não estava previsto eu fazer uso desse horário, mas os pronunciamentos hoje dos deputados Valmir Comin, Silvio Dreveck e Antônio Aguiar me fizeram vir aqui também testemunhar sobre a questão do agronegócio em Santa Catarina.
Não faz muitos dias, deputado Comin, que nós falávamos que, se não fossem tomadas medidas fortes, deputada Ana Paula, na questão de infraestrutura e de abastecimento de milho e soja, em nossas agroindústrias, iniciaríamos o ano perdendo os produtores independentes, que por falta de condições diminuíram seus plantéis e fecharam seus estabelecimentos. Perdemos agora os produtores e com o passar dos dias vamos perder as nossas agroindústrias.
Analisando o agronegócio que se construiu em Santa Catarina, nos últimos 50 anos, vimos que é exemplo para o nosso país e para o mundo. Somos um estado pequeno que tem um pouquinho mais do que 1.12% do território brasileiro e é o quinto produtor de alimentos do país. Isso, deputado Dado Cherem, significa que uma pequena propriedade, menos de dez hectares, se transforma numa grande produtora de carne e de alimentos.
Primeiramente, vimos a fusão da Sadia com a Perdigão, depois fomos vendo pequenas indústrias fechando por falta de infraestrutura, e agora estamos vendo, como disse o deputado Valmir Comin, uma indústria como a Agrovêneto, uma família que sempre procurou com a tradição de seu trabalho cumprir com os seus compromissos, hoje, são obrigados a se desfazerem de seu patrimônio para cumprirem com os seus deveres e obrigações.
Temos notícias de que muitas outras agroindústrias que têm um abate de 100 mil, 150 mil abates de aves por dia, se não encontrarem uma forma de abastecimento de milho e de soja, também irão abandonar suas atividades.
Tive a felicidade, na companhia de outro parlamentar nosso, o deputado Reno Caramori, de acompanhar, deputada Dirce Heiderscheidt, uma missão das cooperativas à Europa.
Tive a felicidade, deputado Dado Cherem, de participar em Paris de uma das maiores feiras do mundo de alimentos. Lá pude ver a presença senão de 100% ou de mais de 99% dos países com mais de 6.000 indústrias, como também a visitação de mais de 100.000 pessoas, onde grandes negócios são efetuados. Vimos mais uma vez a presença do Brasil, das nossas indústrias, dos nossos empresários, mas sentimos a falta de estrutura para bancar as nossas exportações, para produzir de forma a competir com os países que fazem frente hoje ao Brasil na questão do agronegócio.
A apresentação de seus produtos, o incentivo dos seus governos na grande maioria da Europa, um produtor de leite, como exemplo, possui em sua propriedade o incentivo em cada vaca alojada de mil euros, ou seja, transformados em nossa moeda equivalem em torno de R$ 2.500,00, R$ 2.600,00 de incentivo para produzir, enquanto vemos o nosso produtor, o produtor brasileiro, recebendo isso e, às vezes, nem alcança esse valor com o produtor que colhe, que tira dessa vaca e que é comercializado.
São produtores brasileiros persistentes, são indústrias brasileiras persistentes, mas não sei até quando terão paciência, até quando terão vontade para sobreviver à política agrícola que ainda não conseguimos implantar em nosso país dando segurança para nosso agricultor e dando segurança para as nossas indústrias.
Não quero aqui criticar o produtor de milho nem produtor de soja, pois o produtor de milho e o produtor de soja também precisam ter lucro na sua atividade, mas não é suportável, e ninguém vai sustentar a produção agrícola de carnes tanto de suínos quanto de aves, a produção de leite e a produção de carne bovina, enquanto tivermos o preço do milho acima dos R$ 30,00 a saca, o farelo de soja acima de R$ 800,00 a tonelada.
O milho e a soja são os produtos mais importantes para a alimentação dessas espécies, e se não tivermos infraestrutura para fazer com que esses produtos venham dos centros mais produtores onde se produz com menos custos, com menos preços para sustentar a nossa agricultura de Santa Catarina, vamos perder aquilo que disse no início da minha fala, aquilo que construímos num modelo exemplar para o mundo todo, o nosso agronegócio em Santa Catarina, onde já tivemos mais de 150 mil famílias, deputado Joares Ponticelli, que trabalhavam nessa atividade no campo. Na suinocultura eram mais de 40 mil, e hoje, talvez, não sejamos mais do que 15 mil ou 20 mil. Essas pessoas deixaram de estar no campo e vieram para a cidade, muitas delas aumentaram o volume das favelas, muitos desses agricultores, hoje, quem sabe, estão envolvidos com o tráfico de drogas.
Portanto, devemos buscar uma solução para esse setor e atendimento a essas pessoas, que custa muito mais barato lá no campo do que aqui na cidade, pois lá produziriam alimentos e aqui nos grandes centros têm dificuldade para conseguir um emprego.
O governo federal precisa rever a política de um estado do porte de Santa Catarina, que tem trabalhadores de qualidade, e oferecer essa segurança ao produtor, dando incentivo e apoio à agroindústria. Hoje, dentre indústrias familiares e grandes indústrias, há mais de 500, mas amanhã poderão existir quatro ou cinco, e estaremos perdendo aquilo que construímos com o trabalho, o mérito e a especialidade tanto da indústria quanto do trabalhador.
O governo federal precisa olhar para esse setor se quisermos manter a qualidade de vida que Santa Catarina possui; precisa assegurar a permanência do nosso homem no campo, a diversificação das indústrias e da agricultura. Não tenho nenhuma dúvida de que sem isso estaremos aumentando o desemprego, os crimes, as favelas. Se não investirmos em alimento, trabalho, educação e saúde, precisaremos aumentar cada vez mais o número de presídios.
O Sr. Deputado Dirceu Dresch - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Pois não!
O Sr. Deputado Dirceu Dresch - Deputado, quero fazer um aparte à sua fala para cumprimentá-lo por essa preocupação com a agricultura, com a produção de suínos. Isso nos motiva sempre mais a estarmos lutando pela infraestrutura, pelas ferrovias. Inclusive hoje pela manhã tivemos a confirmação de uma audiência com o ministro do Parlasul para discutir esse tema também aqui em Santa Catarina, que nos interessa muito.
Este estado tem a vocação da produção de carnes e precisamos de fato, coletivamente, enfrentar esse debate, para que não aconteça como em outras áreas, o caso do leite, também da suinocultura. Precisamos olhar para frente e prevenir os agricultores para que não aconteça com eles o que ocorreu com os suinocultores.
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Muito obrigado!
Santa Catarina é um estado privilegiado. Quando os empresários escolheram este estado para operar foi porque tínhamos os melhores trabalhadores, os nossos agricultores.
(SEM REVISÃO DO ORADOR)