Pronunciamento

Moacir Sopelsa - 049ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 07/06/2011
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Sr. presidente, deputado Nilson Gonçalves, sras. deputadas, srs. deputados, imprensa, senhoras e senhores.
Deputado Neodi Saretta, v.exa. falou sobre a nossa Expo Concórdia e quero dizer que sou parceiro. Vamos torcer para fazer um grande evento. Falava nesses dias, deputado Silvio Dreveck, sobre a crise da suinocultura e imaginava que a situação estivesse difícil, mas não tanto. Nas duas últimas semanas percebi que, se não for tomada medida alguma, vamos perder milhares de pequenos produtores que deixarão de produzir suínos integrados para algum empresário. Por exemplo, em Seara há mais de 150 pequenos produtores que produzem para o sr. Biondo. E se formos olhar para o meio-oeste, encontraremos produtores que integram pequenos produtores para a produção de suínos.
(Passa a ler.)
"O país que quer ser o maior produtor de grãos e de carne está longe de ter uma política agrícola de longo prazo, que dê impulso a esses dois setores.
O governo estadual tem procurado auxiliar o produtor. Concedeu isenção de ICMS desde o início do ano, mas apesar disso o mercado continua complicado, pois a crise está a cada dia mais grave, e as notícias que recebemos diariamente são muito ruins. Até o primeiro semestre de 2010, a produção nacional de milho mostrava um excedente de oferta sinalizando um estoque alto para essa safra. A partir de agosto, o governo federal, através da Conab, interferiu no mercado com políticas de incentivo à exportação, e a saca de milho, que há um ano estava abaixo de R$ 20,00, agora está acima de R$ 32,00. Em 2010, as exportações de milho chegaram a dez milhões de toneladas, ou seja, 3,3 milhões de toneladas a mais que em 2009.
Há um desequilíbrio total no mercado interno entre o produtor de grãos e o consumidor, que é o criador de suínos e aves. Para completar, o preço do suíno despencou no mercado interno, motivado pelo excedente de oferta, em função da produtividade dos nossos rebanhos de suínos. Ou seja, os produtores estão pagando caro pela sua eficiência, e grandes criadores estão liquidando os seus plantéis.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da UFSC se posicionou no dia de ontem: considera que a queda do poder de compra do suinocultor, no sentido de adquirir milho e farelo de soja, está tornando a atividade difícil, sendo apontada como insustentável para os produtores independentes.
Onde queremos chegar? O governo federal não vai fazer nada, não vai modificar essa situação? Em Santa Catarina a suinocultura ainda é considerada uma locomotiva do setor agrícola. Mas até quando essa locomotiva vai descarrilar sem chances de voltar ao trilho?
O preço do suíno em Santa Catarina é o mais baixo do mercado brasileiro, conforme dados apresentados ontem. Em Goiás, o quilo do suíno estava sendo comercializado a R$ 2,85; em São Paulo, a R$ 2,45; e em Santa Catarina, de R$ 1,90 a R$ 1,60, sendo que o custo de produção é de R$ 2,70 a R$ 2,80, calculado pela Embrapa."
Precisamos dar segurança para esses produtores. Estivemos, na segunda-feira, com o secretário de Agricultura do governo estado e levamos a ele essa preocupação. Havia, há 20 anos, 60 mil produtores de suínos em Santa Catarina. Hoje, temos de 11 a 12 mil produtores no estado. Se não interferirmos para abastecer esses produtores com farelo de soja e milho para o seu rebanho, vamos perder mais dois mil produtores.
Acredito, por aquilo que se vê, que tanto o governo federal como o estadual precisam fazer alguma ação imediata que venha propiciar a permanência dessas famílias na agricultura, pois senão serão menos dois mil produtores.
É preocupante o que estamos vendo. Imagine, deputado Silvio Dreveck, um produtor que disponibiliza para abate mil suínos por ano ter um prejuízo de R$ 100,00 por suíno. Em mil suínos terá um prejuízo de R$ 100 mil. Esse produtor não se sustenta mais há muitos anos, e o desespero é tão grande que os telefones não param de tocar. Entidades como a Associação de Criadores de Suínos de Santa Catarina e do Brasil estão tentando buscar auxílio e pedindo apoio, mas estamos vendo pouca ação, estamos vendo pouca possibilidade de podermos fazer alguma coisa para sustentar essas pessoas na agricultura.
Muitas vezes me torno até um pouco inconveniente, um pouco chato, porque levanto essa preocupação reiteradas vezes, mas como deputado que vem da região produtora de suínos não posso ficar calado, preciso tomar uma posição e fazer alguma coisa para salvar um setor que tem uma importância muito grande na economia do estado de Santa Catarina.
A Sadia e a Perdigão, que compravam e pagavam à vista, a partir desta semana começaram a pagar em 20 dias. O produtor, que contava com os recursos no dia em que entregava o suíno ou, no máximo, dois dias depois, vai ter que esperar 20 dias para receber. Estão oferecendo aos produtores que não são integrados de R$ 1,60 a R$ 1,30 o quilo. Para não ficar com o produto, daqui a pouco o produtor pode até dar de presente. A região de Braço do Norte é outra da qual recebemos muitos pleitos, pois está passando por dificuldades.
O Sr. Deputado Silvio Dreveck - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Pois não!
O Sr. Deputado Silvio Dreveck - Quero parabenizá-lo pelo pronunciamento e dizer que não há nenhum inconveniente em v.exa. trazer tantas vezes esse assunto, uma vez que demonstra a sua preocupação com um setor que é muito significativo para Santa Catarina e para o Brasil.
De fato, nos últimos anos temos vivido essa instabilidade no setor da suinocultura e, de um modo geral, na pecuária e na agricultura. Nos últimos dias o preço caiu por mais uma interferência de interesses inexplicáveis do mercado internacional. O fato é que temo-nos manifestado acerca da necessidade de uma política permanente com algumas estratégias. Por exemplo, quando o mercado interno não absorver, que o mercado externo não interrompa simplesmente suspendendo a compra do dia para a noite, o que estamos enfrentando mais uma vez.
Cumprimento v.exa. e deixo registrado que sou solidário à sua manifestação, porque principalmente aqueles pequenos produtores que se não receberem auxílio ou uma política pública permanente do governo federal, juntamente com o governo do estado, terão sua situação piorada.
Parabéns pela manifestação de v.exa.
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Obrigado, deputado, sei que v.exa. tem essa sensibilidade e conhece o setor.
Estamos exportando milho para os Estados Unidos, para a produção de etanol e de carne e como contrapartida temos o prejuízo dos produtores de carne em nosso país. Aí vem o prejuízo à carne bovina, à carne de aves e, especialmente, à carne suína. Há que se tomar uma posição firme, uma posição duradoura, que dê estabilidade a esse setor. Se esse setor tem importância para o país, precisamos dar-lhe a devida importância. Quando dizem que a Rússia não está mais comprando carne suína do Brasil, de Santa Catarina, muitas vezes é chute, estão vendendo uma imagem que não é verdadeira. A Rússia não está mais comprando alguns produtos industrializados com carne suína de Santa Catarina e do Brasil, mas a carne suína a Rússia continua comprando. O que precisamos é não depender apenas de um país.
Foi feito um trabalho no estado, à custa do nosso produtor, levando-o à categoria de estado livre de febre aftosa sem vacinação. Não foi apenas o poder público que investiu, o produtor também se sacrificou, fez o seu trabalho, o seu dever de casa e deu esse status a Santa Catarina, fato que nos orgulha, mas, na verdade, isso não representou nada para o seu bolso, para a sua atividade.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)