Pronunciamento

Moacir Sopelsa - 023ª SESSÃO ORDINARIA

Em 12/04/2000
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Sr. Presidente e Srs. Deputados, uso hoje esta tribuna mais uma vez lamentando, Deputado Neodi Saretta, os acontecimentos sobre a nossa produção agrícola.
Nós, hoje de manhã e ontem, vimos nos veículos de comunicação - e hoje falávamos com o Deputado Sandro Tarzan - a situação da maçã na região de São Joaquim e nas regiões produtoras do nosso Estado.
Quando temos o produto; quando o nosso agricultor tem o produto; quando temos a sorte de Deus nos dar uma safra abundante; temos a infelicidade, Deputado Milton Sander, do preço. E acabo, Deputado Milton Sander, de receber da Cooperativa Alfa, e V.Exa. também deve ter recebido, correspondência assinada pelo nosso ilustre Sr. Aury Bodanese, uma pessoa valorosa do setor cooperativista, dando-nos as informações sobre a aquisição de feijão em nosso Estado.
Tivemos a oportunidade de protocolar aqui um requerimento apoiado por todos os Deputados desta Casa, também aprovamos o do Deputado Herneus e o da Comissão de Agricultura, solicitando o envio de mensagem telegráfica ao Governo Federal, no sentido de que olhe para Santa Catarina e, Deputado Nelson Goetten, libere os recursos necessários através do AGF, para que as cooperativas possam adquirir esse produto. Infelizmente, até o presente momento não temos ainda nenhuma informação de que o Governo Federal possa ter melhorado a extensão desses recursos para o nosso Estado.
Mas o que me preocupa são as informações que vêm dessa cooperativa, as quais dão conta de que as cooperativas também estão suspendendo a aquisição desse produto, o que deixa em dificuldade ainda maior o nosso produtor.
Diz o Presidente da Cooperativa, Sr. Aury Bodanese, que existem em torno de 215 mil sacas depositadas nas cooperativas sem condições de AGF. Mas que existe ainda um estoque de 470 mil sacas que faltam entrar e que estão na mão dos produtores.
Portanto, falta dar acesso às cooperativas. E se esse produto não for nem recebido pelas cooperativas, imaginem a dificuldade que terão os nossos produtores.
Esse é um produto produzido por pequenos produtores, com exceção de algumas regiões. Esses produtores produzem de 20 a 30 sacas, e o preço mínimo do Governo Federal é de R$28,00 a saca. Mas hoje não se consegue nem entregar o produto nem um preço superior a R$15,00 a saca.
Isso me deixa mais uma vez extremamente aborrecido, porque vejo que não temos, de forma alguma, através do Governo Federal, uma política séria, uma política justa, que venha beneficiar o nosso produtor.
Iniciei dizendo que os produtores de maçã estão deixando o seu produto se perder na lavoura, porque não vale a pena colher. O produtor de batatas, há poucos dias, dizia aqui o nosso ex-Deputado Beto Herbst, na região de Mafra estava deixando de colher o seu produto, porque o preço não valia a pena. E agora vemos o nosso produtor de feijão na mesma situação, vemos o nosso produtor de suínos, vemos o nosso produtor de frangos, vemos, enfim, a nossa agricultura cada dia mais abandonada.
Lamentavelmente, a cada dia que passa, vemos o Governo Federal dar incentivos para aqueles que não têm nada a ver com o setor produtivo, para o setor que explora a nossa população, que são os incentivos do Governo Federal para os bancos, como foi o incentivo do Governo Federal, através do BNDS, para que os estrangeiros adquirissem aquilo que estava sendo uma empresa de Primeiro Mundo no nosso Estado, por exemplo, a Telesc, e hoje os catarinenses têm dificuldades para saber com quem devem tratar de uma reclamação.
O Sr. Deputado Antônio Ceron - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Então, Deputado Antônio Ceron, precisamos colocar um basta nesta política do Governo Federal, e que se dê, de uma vez por todas, a oportunidade para os brasileiros, àqueles que querem produzir, especialmente àqueles que produzem comida.
Mas concedo um aparte ao Sr. Deputado Antônio Ceron. Tenho certeza de que S.Exa. virá endossar o pensamento de que precisamos, aqui, neste Parlamento, defender os nossos produtores, sob pena de no dia de amanhã faltar comida na mesa, quem sabe, de milhares de brasileiros.
O Sr. Deputado Antônio Ceron - Deputado Moacir Sopelsa, queria cumprimentá-lo pelo assunto, que é do momento, um assunto atual e importante.
Nesta última sexta-feira estivemos visitando o Município de São José do Serrito, que é um grande produtor de feijão do Estado de Santa Catarina, e ali, conversando com os produtores, pudemos constatar in loco a dificuldade, a angústia que aquelas pessoas estão passando no momento, eis que o produto que elas têm estocado está na base 13, 14 reais a saca, quando o custo, o preço de equilíbrio, e V.Exa. sabe bem mais do que eu, está na faixa de 20 a 21 reais a saca, para começar a não ter prejuízo, porque para começar a ganhar dinheiro, é acima de 22 reais a saca.
Quero, nesta oportunidade do aparte, poder deixar novamente registrado nos Anais desta Casa o mesmo pronunciamento que já deixei no passado.
Primeiro, eu até não concordo com V.Exa. quando fala em política agrícola do País, que não tem, porque na verdade o que enfrentamos é a falta de uma política agrícola em nível federal, estadual e municipal, é a falta de políticas agrícolas.
Quero registrar também é que até existem muitas vezes algumas ameaças, digamos, de políticas de adubo, de semente, de implementos agrícolas, etc. Mas na minha avaliação o grande problema da agricultura no País é produzir e não ter para quem vender.
Eu até dito o seguinte: se tivéssemos uma segurança, como produtores, de que na hora que colhermos o feijão teremos para quem vender, com um preço que dê rentabilidade, aí, sim, até encontraríamos uma maneira de autofinanciar a compra da semente, do adubo, da enxada, da carroça, etc.
Então, tendo, e já deixei registrado na Casa, essa oportunidade do aparte, gostaria dizer que devemos pensar, no País, no futuro, em uma segurança para que aquele que produz - porque se pensa muito na ponta inicial, que é como produzir, mas o mais importante é vender - tenha a segurança da venda quando há uma safra boa. Infelizmente, quando dá uma safra ruim, até tem preço, mas daí não tem produto para vender.
Se dermos segurança aos nossos produtores da agricultura de que vão vender o produto por um preço com rentabilidade, com retorno daquilo que eles investiram, eles por si só vão procurar buscar a fase inicial.
Agradeço a oportunidade e gostaria de dizer da importância do seu pronunciamento e da importância de os Governos como um todo tratarem seriamente desse ponto de início para o desenvolvimento da economia e mais justiça social no nosso País.
Muito obrigado!
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Muito obrigado, Deputado Antônio Ceron, V.Exa. realmente vem complementar aquilo que pensam os nossos Parlamentares. Mas de fato, se não olharmos para esse setor e não tivermos a sensibilidade dos Governos, a cada dia o setor estará mais desestimulado, com mais dificuldades e com os filhos dos nossos agricultores abandonando o campo; e aqueles que residem na cidade, pagam o preço do abandono das nossas famílias do campo, porque com certeza a cesta básica, os produtos alimentícios tendem a subir.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)