Pronunciamento

Moacir Sopelsa - 042ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 30/05/2006
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Sr. presidente srs. deputados, ouvi hoje nesta tribuna, deputado Reno Caramori, v.exa. que se manifestou sobre a crise da agricultura, envolvendo a suinocultura, a avicultura e a produção de cereais. Ouvi também o deputado Romildo Titon, que da mesma forma se pronunciou a respeito da situação que vive a agricultura, as indústrias demitindo funcionários, tentando buscar alternativas e imaginando que as coisas possam ficar ainda piores.
Na mesma esteira, venho hoje à tribuna, para falar sobre a situação da agricultura. Vou citar o nome de duas pessoas, que v.exa., deputado Reno Caramori, talvez conheça: Osvaldo Chiuchetta, irmão de um dos assessores do Tribunal de Contas, José Chiuchetta e o pai dessas duas pessoas, Gaetano Chiuchetta, que foi o primeiro comerciante da cidade de Concórdia, ou seja, dono da primeira loja de secos e molhados.
O Osvaldo nos anos 50 foi morar na cidade de Maringá. Ele seguidamente se comunica, por ter raízes em Santa Catarina, falando sempre sobre o mesmo assunto, que é agricultura, porque desde essa época tinha um moinho de trigo na referida cidade, no estado do Paraná. O mesmo sempre nos manda correspondências escritas à mão, mas essa, datilografada, se refere ao ano de 1958, quando houve a primeira marcha, deputado Lício Silveira, a Brasília, pelos produtores de café da região do Paraná, tentando minimizar, buscando uma solução para a crise. Conseguiram minimizar, mas até hoje a crise do café existe, ou seja, um ano é positivo e o outro é negativo.
Ele se refere especificamente sobre a crise da agricultura brasileira.
A carta diz o seguinte:
(Passa a ler)
"Hoje estamos vivendo uma situação idêntica a de 1958; enormes protestos em todo o Brasil, no interior e nos grandes centros, com fechamento de estradas, ferrovias, com a incorporação de cooperativas, de agroindústrias, e a participação de todos os segmentos.
A nossa agricultura sempre esteve esquecida em Brasília; em todos os países que têm uma agricultura forte, ela é generosamente subsidiada. Aqui além de não receber subsídios, a situação é agravada com juros altos, câmbio desfavorável, péssimas estradas, péssimos portos, sem uma política agrícola, sem seguro agrário e sem honrar os preços mínimos justos e compatíveis com os custos de produção.
É urgente que o governo estabeleça uma política firme em benefício de nossa agricultura, para que nossa vocação natural de maior produtor de grãos do planeta seja brevemente alcançada."
Ele continua dizendo que se o governo federal não tomar efetivamente uma providência, aquelas palavras que v.exa. disse há pouco, deputado Reno Caramori, se concretizarão, pois, no ano que vem nós teremos uma queda de no mínimo 30% na produção agrícola do país.
Há poucos dias nós vimos o pacote de medidas que o governo federal anunciou aos nossos produtores e que traz, temos que ser justos aqui, em muitas ações, benefícios ao produtor. Mas que nós precisamos pensar, de sã consciência, que isso não vai resolver o problema da agricultura, mas, sim, apenas prorrogar a falência do nosso produtor.
Nós tivemos as dívidas de 2004 prorrogadas, ou seja, parte das dívidas de 2004 e 2005, e estamos prorrogando as dívidas de 2005 para 2006. Isso me deixa preocupado, porque ontem aqui foi homenageado o trabalho da Cidasc, ocasião em que v.exa. estava presente, deputado Reno Caramori, onde foi mostrando o crescimento da produção de alimentos no país. No Brasil, até há pouco tempo produzia-se uma média - e se achava até que era uma produção alta - de 70, 80 e até 100 sacas de milho, mas hoje se produz 200 sacas de milho por hectare. Falava-se da alta produtividade da suinocultura quando se dizia que a produção era de 14 leitões/porca/ano, mas hoje temos tecnologia para 30. Falava-se da produção de um suíno de seis meses com 100 quilos e hoje um suíno com menos de cinco meses atinge 100 quilos. Falava-se do abate de aves, por exemplo, de um frango ser abatido com 90 dias, hoje se abate frangos com 28 dias, com mais de 1,5 quilos.
Essa alta produtividade de alimentos que o Brasil está produzindo através da tecnologia e da pesquisa dos nossos técnicos e, às vezes, uma pesquisa muito maior por parte da iniciativa privada do que da pública, nos leva a ver que estamos caminhando muito lentamente para garantir a produção deste país.
Então deputado Paulo Eccel, não é a política do governo atual, é a política que vem se fazendo ao longo desses anos e que deixou o setor agrícola nessa situação. E quando o setor agrícola vai mal... Nós estamos num estado em que 1/3 das nossas exportações vem do agronegócio, estamos num estado em que, dos 293 municípios, mais de 250 municípios têm a base da economia na agricultura. E se não tomarmos uma providência para que se possa, através de algum programa firme, melhorar essa situação, a partir do ano que vem os municípios terão as suas receitas ainda menores e o comércio, com certeza, vai estar com muito mais dificuldades do que está agora. E junto com isso haverá, sem dúvida nenhuma, o desemprego.
Por isso precisamos pensar em garantir recursos, mas recursos que não venham apenas prorrogar a falência do nosso produtor. Que esses recursos possam vir para minimizar a situação e garantir as safras 2006 e 2007, e que tenhamos preços que dêem suporte a essa produção.
Quando tínhamos o crescimento do combustível e do petróleo, que cresciam quando o dólar disparava mediante a nossa moeda, mediante o real, isso elevava o custo da produção. Agora com a baixa do dólar, esse custo de produção não caiu e os preços não foram reajustados.
Então, na mesma esteira dos demais deputados que estiveram aqui nesta tribuna levantando essa situação e junto com todos os 40 deputados, quero sensibilizar especialmente o governo federal e o próprio governo do estado para que haja maiores investimentos na agricultura para segurar a nossa gente no campo. Precisamos ter realmente recursos assegurados e uma política segura para garantirmos a manutenção do nosso agricultor no campo, uma vez que ele que tem a missão de produzir aquilo que é mais sagrado para todos nós: o alimento.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)