Pronunciamento

Moacir Sopelsa - 038ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 23/05/2006
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Sr. presidente e srs. deputados, hoje eu ouvi atentamente o deputado Onofre Santo Agostini falando sobre a situação difícil da agricultura e o deputado Gelson Sorgato apresentando uma moção a ser dirigida ao presidente da República e aos ministros da Agricultura e da Fazenda. E eu pediria que houvesse um entendimento de lideranças e que essa moção pudesse ser assinada por mim, já que fui convidado pelo deputado Gelson Sorgato para assiná-la, e por todos os líderes.
Temos certeza de que todos estão sabendo da dificuldade por que passa, deputado Reno Caramori, a agricultura brasileira e a agricultura de Santa Catarina. Portanto, seria importante que essa moção pudesse ser votada no dia de amanhã e encaminhada antes que houvesse, de fato, a deliberação, tanto do presidente da República quanto do ministro da Agricultura, sobre o pacote de auxílio à agricultura brasileira.
Mas também ouvi aqui os apartes que foram feitos na direção da dificuldade da agricultura brasileira. De fato, deputado Onofre Santo Agostini, se nós não tivermos posições firmes do governo federal, se nós não tivermos uma política segura de atendimento a nossa agricultura, a todos os setores - e eu, assim como muitos deputados, já me pronunciei muitas vezes sobre isso -, eu vejo, deputado Pedro Baldissera, que nós estaremos tirando do campo o nosso pequeno agricultor.
É claro que temos que ter consciência que são necessários mais investimentos do governo do estado, que está fazendo, dentro de suas possibilidades, mas precisamos, efetivamente, do investimento do governo federal. Não podemos deixar o nosso agricultor à mercê dos financiamentos e da vontade dos bancos de prorrogar, ou não, os seus financiamentos. Ele tem que ter preços justos para os seus produtos, em todos os setores: no do milho, do soja, do arroz, na produção de suínos e de aves.
Enfim, aqui já foi dito, e vou repetir mais uma vez, que, hoje, na agricultura, a única coisa que deixa resultado para o nosso produtor é a produção de cana-de-açúcar, já que o produto é a base da produção de álcool usado para a locomoção dos nossos veículos.
Então nós precisamos, efetivamente, nos unir e buscarmos juntos uma solução. Eu acompanhei, na semana passada, muitos movimentos em Chapecó, em Campos Novos e no sul do estado, pelo descontentamento e a dificuldade que passa o nosso agricultor.
Ontem, mais uma vez, no oeste de Santa Catarina, em Abelardo Luz, os agricultores estiveram reunidos e queimaram os seus equipamentos. Vimos lá no Mato Grosso os agricultores dando as suas máquinas por R$ 1,99. Quer dizer, as notícias que temos, deputados Onofre Santo Agostini e Joares Ponticelli, são de que no ano que vem nós teremos uma produção de alimentos diminuída em 30%. Se isso acontecer, podem ter certeza de que vai faltar alimento na mesa dos brasileiros. Não serão mais só aqueles 30 milhões de brasileiros que vivem abaixo do nível de pobreza e que não conseguem se alimentar. Aqueles que têm recursos também vão ter dificuldades para adquirir o seu alimento.
O Sr. Deputado Onofre Santo Agostini - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Pois não!
O Sr. Deputado Onofre Santo Agostini - Deputado Moacir Sopelsa, tenho duas colocações. A primeira é que a nossa esperança é o dia 25. Esse número 25 faz coisas, deputado: nasceu Cristo nessa data, surgiu um grande partido político de número 25.
Agora, no dia 25, o presidente da República vai dar a grande notícia à nação brasileira desta solução da agricultura. Então, estamos com esperança no dia 25. Este é o ponto número 1.
Ponto número 2: nós escutamos um zum zum de que nunca o Brasil teve comida tão barata como está tendo hoje. Nunca o pobre comeu tanto por tão pouco. Só que quem está pagando não é o governo, e sim o agricultor! Quem produz de manhã, à noite, é o agricultor!
Eu, há pouco, li os dados e vi que em 2004 para se comprar um trator gastava-se o equivalente a 1.700 sacas de soja. Hoje, custa o equivalente a 4.025 sacas de soja. A situação é gravíssima, muito mais grave do que estamos imaginando, deputado Moacir Sopelsa! E agora ouvimos dizerem: "Não, mas nunca a comida esteve tão barata como está hoje. Nunca o pobre comeu tão bem como come hoje". Mas come graças ao agricultor! E se nós matarmos a galinha que bota os ovos de ouro, a situação ficará complicada.
Por isso acho importante a colocação de v.exa., e já pedi autorização ao deputado Gelson Sorgato para também assinar. Todos nós, deputados, estamos muito preocupados. Quer na agricultura ou não, a situação é muito grave e se não tomarmos providências, o Brasil irá para o brejo.
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Muito obrigado, deputado Onofre Santo Agostini!
O Sr. Deputado Joares Ponticelli - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Pois não!
O Sr. Deputado Joares Ponticelli - Quero me associar à manifestação e à preocupação de v.exa.
Eu vi, com muita preocupação também, as cenas ontem da queima da colheitadeira, daqueles milhares de agricultores desesperados, em Abelardo Luz. Essas manifestações não vão parar e as notícias que temos, deputado Moacir Sopelsa, é de que elas tendem a se avolumar, especialmente no sul do País, na região centro oeste, que é a principal região produtora do país. E no estado de Santa Catarina é um desespero em todas as regiões.
V.Exa. bem conhece a região que represento, a região do vale do Braço do Norte, que é umas das grandes produtoras de suínos de Santa Catarina. Ela se encontra em verdadeira situação de desespero. O custo de produção de um quilo de suíno oscila na casa de R$ 1,60, como v.exa. sabe, e o produtor está vendendo esse mesmo quilo por R$ 1,08, que é o que se está ofertando por um quilo de suíno.
A situação do plantador de arroz não é menos dramática, pois uma saca com o custo de produção de R$ 22,00 está sendo vendida por R$ 14,00. Ou seja, é uma situação de falência, de descapitalização total e nós não estamos vendo nenhuma ação concreta, efetiva em socorro do nosso setor produtivo. E sabemos que não resolver o problema do campo é aumentar, em curto espaço de tempo, o problema das cidades, porque é nas cidades, é nas periferias das cidades que esse problema vai acabar desembocando.
Mas quero também me associar a essa moção de autoria do deputado Gelson Sorgato e cumprimentá-lo pela manifestação muito preocupante neste momento.
O SR. DEPUTADO MOACIR SOPELSA - Agradeço aos deputados Joares Ponticelli e Onofre Santo Agostini pela contribuição.
Deputado Joares Ponticelli, acabei de falar, há poucos minutos, com o secretário de estado da Agricultura Felipe Luz, que está na Rússia, e eu espero que nesses primeiros dias possamos levantar esse embargo dessa conta que estamos pagando sem que devêssemos.
Infelizmente, essa não é a nossa vontade, não é a vontade de ninguém, mas quem está sendo penalizado é o estado de Santa Catarina. É uma questão para a qual precisamos nos unir e repito aqui, mais uma vez, de que é preciso a participação mais efetiva do governo federal, porque parte da culpa cabe a ele quando deixou de ter posições firmes junto ao estado do Paraná. E quando a agricultura padece, como disse v.exa., deputado Joares Ponticelli, padece também o comércio, a indústria, porque o nosso estado tem mais de um terço da sua economia baseada na agricultura.
Se não fizermos alguma coisa no sentido de garantirmos essa produção, de assegurarmos o trabalho desse nosso agricultor, e aí é necessária efetivamente a participação do governo federal, que é onde está a maioria dos recursos dos tributos que pagamos...
Independentemente de qualquer ação política, é preciso haver ações de boa vontade buscando esse apoio à nossa agricultura, e se nós não fizermos isso, com certeza vamos ver o reflexo dessa crise no ano que vem. Vai ser muito mais difícil, pois o preço dos alimentos não vai poder ser suportado pelo poder econômico baixo da sociedade brasileira.
Enfim, precisamos efetivamente buscar uma solução para esse setor.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)