Pronunciamento

Marcos Vieira - 033ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 08/05/2008
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - Sra. presidente e srs. deputados, a cada dia que passa, deputado José Natal, os preços das mercadorias que estão expostas nas gôndolas dos supermercados têm aumentado. E isso tem trazido preocupação para a população catarinense e brasileira.
(Passa a ler.)
"O preço da cesta básica consumida pelo brasileiro subiu cerca de 30% nos últimos 12 meses. Só em quatro meses, de janeiro a abril deste ano, a alta do custo de vida, a alta da cesta básica, já beira 20%.
Não sou eu que estou dizendo isso, é a pesquisa do Dieese, que diz que nos quatro primeiros meses do ano a cesta básica já subiu cerca de 20%. O Dieese apurou a variação dos preços de 13 alimentos básicos em 16 capitais. Em abril o valor da cesta básica aumentou em todas as cidades pesquisadas.
A elevação da cesta básica supera de longe a variação do salário mínimo no mesmo período, que foi de 9,2%. Deputado Professor Grando, nos últimos 12 meses a cesta básica aumentou cerca de 30% no Brasil e o salário mínimo só 9,2%. O trabalhador brasileiro está comendo menos, está comprando menos.
É o agricultor que está ganhando? Gostaria que eles estivessem aqui em plenário para dizer que é claro que não estão ganhando. O pequeno agricultor, aquele que faz com que a sua família trabalhe de sol a sol, não ganha nada ou quando ganha, ganha muito pouco. Quem está ganhando, então?
Os alimentos puxaram a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, que poderá encerrar este ano em 5%. Se a previsão se confirmar, será a maior marca desde 2004."
O Sr. Deputado Professor Grando - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - Pois não!
O Sr. Deputado Professor Grando - Meu querido amigo, deputado Marcos Vieira, fiz o meu pronunciamento que vai ao encontro das suas idéias. E eu me lembro um pouco desse último ciclone que passou lá em Miamar. Começou com dois mil mortos, depois foi para 20 mil, 80 mil e já se admite mais de 100 mil mortos.
Na questão do biocombustível, a diferença entre a expansão agrícola brasileira e a produção de alimentos é muito maior do que se imagina. A tendência agora é aparecerem as verdadeiras causas. E o aumento será maior, até porque nós ainda não sofremos o efeito da suspensão da exportação do trigo pela Argentina, do qual nossa dependência chega a 60% para a produção do pão nosso de dia-a-dia e de tantos outros alimentos, como o caso do arroz, do feijão, dos quais tivemos boas safras. Com o tempo nós vamos ver que realmente o aumento será muito maior. Quem perderá com isso? O trabalhador, as pessoas mais necessitadas, em conseqüência de uma política que teve euforias. E não somos contra. Acho que o agronegócio pode continuar produzindo biocombustível, mas urgentemente o governo brasileiro, através dos governos estaduais e até municipais, deve realizar, dentro da lei, uma reforma agrária com função social.
O que eu quero dizer com função social? É o uso da terra voltado para a produção de alimentos, sendo que a terra não pode ser vendida, mas doada aos filhos como herança para continuar produzindo alimentos. Essa é a verdadeira reforma agrária.
Então, só solucionaremos esse problema de maneira urgente, e assim mesmo demorará mais de um ano, se houver uma política nessa área. Se não houver, essa crise poderá prorrogar-se por muitos e muitos anos, porque essa crise é mundial. O secretariado das Nações Unidas já advertiu a Europa, os Estados Unidos, a América Latina e todos os países. A Ásia, inclusive, tomou a iniciativa de dizer que vai plantar mais arroz, vai estabelecer uma política para atender a demanda mundial. E o que vai acontecer com o milho, com a beterraba e com tantos outros produtos da alimentação?
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - Mas, deputado Professor Grando, o Brasil tem terras suficientes e preparadas para...
O Sr. Deputado Professor Grando - É o único país do mundo que pode fazer reforma agrária!
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - E por quê?
O Sr. Deputado Professor Grando - Porque pode dividir a terra em pequenas propriedades, com os nossos agricultores inseridos na produção e protegendo o meio ambiente!
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - E se o Brasil é um país apto à agricultura, por que os alimentos estão subindo tanto, como o feijão, o óleo de soja?!
O Sr. Deputado Professor Grando - Temos que valorizar o nosso trabalhador agrícola, v.exa. tem razão.
O SR. DEPUTADO MARCOS VIEIRA - Imaginem v.exas. que o leite longa vida teve um aumento, só no mês de abril, de 3,5%! Quase ¹/³ ou mais de ¹/³ do aumento que teve o salário mínimo nos últimos 12 meses. Só o leite teve um aumento de 3,5%. Depois da energia elétrica, o pãozinho francês foi o campeão de altas no mês. Imaginem v.exas. e todos os telespectadores que estão nos assistindo: quem vai à padaria todos os dias desembolsou 9% a mais. O pãozinho nosso de cada dia está custando quase 10% mais caro só num único mês, no mês de abril. É a maior variação desde a primeira quadrissemana de dezembro de 2002, quando o pãozinho aumentou 9,37%.
Deputada Ana Paula Lima, no município administrado por um correligionário do seu partido, o ex-deputado Volnei Morastoni, Itajaí, a cesta básica subiu 13,2%! Isso saiu numa matéria de hoje. Claro que a culpa não é do deputado Volnei Morastoni, evidentemente que não, mesmo ele pertencendo ao Partido dos Trabalhadores, mas ele, como prefeito, está lá segurando uma barra, que é a reclamação da população, que quando sai do supermercado sai com menos dinheiro no bolso e com menos compras no carrinho!
(Continua lendo.)
"Os economistas apontam que pressões de custos de produtos industrializados que já foram detectados no atacado, nas cadeias do plástico e do aço, também vão começar a aparecer no varejo.
Outro fator de pressão apontado pelos economistas é o preço dos produtos que dependem de autorização do governo para ser reajustados. Esse grupo, que vinha com variação abaixo do Índice de Preços ao Consumidor até meados de fevereiro, hoje está muito próximo do índice cheio da inflação.
Embora o grupo alimentação tenha subido menos em abril do que em março, os economistas dizem que essa desaceleração foi proporcionada pelas hortaliças, legumes e frutas, cujos preços perderam fôlego no período. E a Grande Florianópolis é altamente produtora desses itens que fazem parte da nossa mesa.
Em contrapartida, os preços dos alimentos básicos, como grãos e carnes, continuarão pressionando a inflação no mês de abril e com tendência de alta para o mês de maio. Nesse rol, os economistas apontam produtos panificados e biscoitos com elevação de 5,78%; carnes bovinas com elevação de 1,28%; arroz com elevação de 1,19% e leite com elevação de 1,90%. Já o preço do feijão subiu 11,5% no mês passado. É arroz com feijão mais caros na mesa do brasileiro."
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)