Pronunciamento

Luciane Carminatti - 075ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 04/09/2013
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Quero cumprimentar o sr. presidente, os srs. deputados e todos que acompanham esta sessão.
Em primeiro lugar, quero referendar as palavras da deputada Angela Albino, no sentido de que esta Casa precisa responder todas as notícias que envolvem a corrupção na Casan e que tem sido alvo de discussão na imprensa. Infelizmente, esta Casa ainda não cumpriu o seu dever como deveria, qual seja, atender aos anseios da sociedade. E o fato é que não se justifica mais dizer que não cabe a este Poder investigar. Cabe sim, assim como o Ministério Público também o Parlamento tem essa prerrogativa constitucional.
Em segundo lugar, estamos comemorando de 3 a 6 de setembro os 40 anos do desaparecimento de um grande militante político, que foi deputado nesta Casa também, Paulo Stuart Wrigth. Esta semana estará ocorrendo o coletivo Memória, Verdade, Justiça, com o apoio da comissão de Direitos Humanos desta Assembleia Legislativa, da Comissão Nacional da Verdade e do Instituto Paulo Stuart Wrigth, e quero aproveitar a oportunidade para enaltecer essa iniciativa.
Hoje, às 17h, no plenarinho desta Casa, ocorrerá uma audiência pública com o objetivo de colher depoimentos sobre o referido deputado, com vistas à sessão solene que acontecerá às 19h, conforme requerimento da deputada Angela Albino.
Amanhã teremos, às 14h, uma audiência para ouvirmos as mulheres catarinenses que foram perseguidas e presas durante a ditadura. E no dia 6 do corrente haverá um programa na TV Floripa.
Já se encontram na Assembleia Legislativa, desde a manhã de hoje, tomando depoimentos de presos políticos dois membros da Comissão Nacional da Verdade: as sras. Márcia Baratto e Ariana Bazzano de Oliveira. Isso está ocorrendo em nosso gabinete, porque é preciso resgatar essa história que não está registrada em lugar algum e por isso mesmo passa despercebida e invisível aos olhos da maioria da sociedade catarinense e brasileira.
Então, quero fazer ressaltar a importância de construirmos a nossa história olhando para trás e contando toda a realidade, a história verdadeira, real, aquela que está escondida, mas que prendeu, torturou e matou muita gente.
Por último, sr. presidente, quero fazer menção a uma decisão que julgo histórica. Dezenove dos 27 ministros do Tribunal Superior do Trabalho redigiram uma carta condenando de forma muito dura e enfática o Projeto de Lei n. 4.330, de 2004, que trata da terceirização e que abre caminho para um processo dramático de fragilização das relações trabalhistas.
Gostaria de, neste momento, citar trechos da referida carta que, em minha avaliação, passa a ser um referencial até para alguns sindicatos que não se vêm mostrando ostensivamente contra o referido projeto de lei, muito embora no dia 11 julho de uma maneira geral as centrais sindicais tenham se posicionado contra.
Mas o que diz essa carta? Que o PL 4.330 autoriza a generalização plena e irrefreável da terceirização na economia e na sociedade brasileira, nos âmbitos privado e público, podendo atingir quaisquer segmentos econômicos ou profissionais, quaisquer atividades ou funções, desde que a empresa terceirizada seja especializada.
Diz ainda que ele negligencia e abandona os limites à terceirização já sedimentados no direito brasileiro e que consagra a terceirização em quatro hipóteses:
1. Na contratação de trabalhadores por empresa de trabalho temporário;
2. Na contratação de serviços de vigilância;
3. Na contratação de serviços de conservação e limpeza;
4. Na contratação de serviços especializados ligados a atividades/meio.
O citado projeto ainda, conforme os 19 ministros do TST, esvazia o conceito constitucional e legal de categoria, permitindo transformar a grande maioria dos trabalhadores em simples prestadores de serviços e não mais bancários, metalúrgicos e comerciários. E diz mais a carta, que a generalização e o aprofundamento da terceirização trabalhista, estimulados pelo projeto de lei, provocarão sobrecarga adicional e significativa ao SUS já fortemente sobrecarregado.
Por que ao SUS? É que os trabalhadores terceirizados são vítimas de acidentes do trabalho e doenças. Para termos ideia, há dados que mostram que a cada dez acidentes de trabalho, oito são de servidores e trabalhadores terceirizados.
Segundo a ministra Katia Arruda, a terceirização precisa ser mais bem avaliada, regulada e discutida no Brasil. Para o ministro Carlos Alberto Reis de Paula, o assunto é delicado e na questão da terceirização temos que ter muito cuidado, porque o trabalhador desprotegido se torna frágil.
Outro ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Vieira de Mello Filho, diz que as estatísticas brasileiras nesta área são tenebrosas e que grande parte desses acidentes envolve trabalhadores terceirizados, setor onde há mais descumprimento quanto às normas de segurança e higiene.
Já o ministro Maurício Godinho Delgado diz que o projeto de lei que está sendo debatido generaliza a terceirização, torna-a descontrolada e isso certamente vai rebaixar a renda do trabalho em índices alarmantes no país.
Por último, quero dizer que temos que não somente nos posicionar contra, mas fazer o debate com relação a esse projeto. O que significa a terceirização para a sociedade? Significa desproteção ao trabalhador, perda de direitos trabalhistas, portanto, um retrocesso, diminuição da sua renda, assim como um ônus ainda maior para o SUS, na medida em que são trabalhadores desprotegidos e, portanto, sujeitos a frequentes acidentes de trabalho.
Eu quero, neste momento, pedir que esta Casa combata a terceirização e cada vez mais fortaleça o serviço público através de concurso público.
Muito obrigada!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)