Pronunciamento

Luciane Carminatti - 004ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 12/02/2014
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Sr. presidente, sras. deputadas, srs. deputados, a minha manifestação, hoje, em nome do Partido dos Trabalhadores, refere-se ao fato que tem sido divulgado muito pela mídia, nos últimos dias.
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"O fato que estampou muitas capas de jornais e foi destaque no Brasil e no mundo, infelizmente, não é uma boa notícia. A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, faz-nos retomar a história e repensar o que é manifestar-se, livremente, em um país democrático. Por outro lado, como ações de grupos isolados podem tirar o foco de lutas legítimas, assim como essa ocorrida no Rio de Janeiro.
Quando pensamos nas lutas enfrentadas para que hoje tivéssemos a liberdade de expressar nossa opinião, de escolher os nossos representantes, os nossos deputados e governadores temos a convicção de que essas conquistas não aconteceram da noite para o dia.
Voltamos à época em que somente a minoria tinha acesso aos livros, guardando muitos segredos, ou onde a escravidão era a lei, as terras eram distribuídas entre os nobres.
E em um passado mais recente mulher não votava, agricultores não tinham direito à aposentadoria e até mesmo onde a democracia cedia espaço para a ditadura.
Vamos imaginar o que teria acontecido se em cada um desses movimentos não houvesse líderes que tomassem a frente e empunhassem a bandeira em favor dos direitos de toda a população. Como viveríamos hoje se pessoas corajosas não fossem à rua combater a ditadura, lutar pelo direito a terra, ao alimento, ao voto e o acesso à educação?
Parte de toda essa história fica ofuscada quando vimos nossas lutas confundirem-se com fatos isolados, manchando a bandeira da democracia, dos movimentos sociais, da voz do povo nas ruas. Um profissional da comunicação se foi. Ele estava trabalhando, prestando serviço para a sociedade.
Vamos lembrar-nos de líderes, como Chico Mendes, Margarida Alves, Irmã Dorothy que perderam suas vidas defendendo causas que julgavam importantes para a construção de um mundo melhor. Eles queriam a preservação do meio ambiente, o respeito aos direitos trabalhistas, a reforma agrária, mais empregos, mas principalmente mais vida digna aos brasileiros. Suas lutas não foram em vão, embora ainda precisemos avançar e muito em cada um desses setores para alcançar a realidade tão almejada por esses representantes da nação brasileira.
A morte de Santiago Andrade também não pode ter sido em vão. Isso é o que a família espera, o que a sociedade espera, o que o Brasil espera.
Desde que as manifestações tomaram conta das ruas mais ou menos na metade do ano passado, assistimos uma caminhada pacífica em direção ao estado democrático de direito, lutando não só pelos R$ 0,20, mas por grandes mudanças sociais.
Manifesto, neste momento, minha preocupação, pois sempre fui defensora dos movimentos sociais e das suas lutas. Defendo também a greve dos professores, dos policiais, dos agentes de saúde, dos motoristas e de todos aqueles que lutam com dignidade por melhores condições, por um salário melhor, por valorização, por acesso à educação de qualidade ou atendimento nos postos de saúde. São direitos legítimos e precisam acontecer para a construção de uma sociedade mais justa.
Porém, repudiamos qualquer ato de violência, venha de quem vier, seja da polícia, dos manifestantes, ou da população. Qualquer ato de violência precisa ser contido.
Nossas bandeiras não são mascaradas, escondidas, se queremos reduzir o valor das passagens, o fim da corrupção, mais investimento na saúde e educação, por que não mostrar a nossa cara, por que não mostrar a identidade e lutar de cara limpa, sem medo de se posicionar?
Tenho certeza que a sociedade brasileira não tem saudades da ditadura. Por isso, vamos defender sempre o direito à livre opinião e, especialmente, a liberdade de expressão da imprensa deste país.
Finalizo com uma frase do grande líder, nosso companheiro, ex-presidente da República, um grande defensor da democracia neste país: 'Não há outra via se não a via democrática. Democracia que se constrói pela participação do povo, mas também pela política. Sem a democracia, sem a participação nós temos a volta da ditadura'.
É isso, sr. presidente, que gostaria deixar como mensagem, neste momento, onde muitas pessoas têm se posicionado contra ou favor às manifestações, esquecendo que muito do que conquistamos é resultado, sim, das mobilizações.
Mas também é preciso que se diga, e falei, ontem, especialmente nas redes sociais, que as nossas pautas, deputado Antônio Aguiar, podem ser as mais nobres, mas se os nossos métodos não forem dignos, perderemos sempre.
Então, na luta pela democracia não vale qualquer método, na luta pela democracia vale o respeito e o amor ao ser humano. É isso que precisamos perseguir."
Muito obrigada!
(SEM REVISÃO DA ORADORA)