Pronunciamento

Luciane Carminatti - 086ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 15/09/2011
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Sr. presidentes, nobres colegas deputados, gostaria de dizer que exatamente no dia 15 de setembro de 2009, às 15h, na sala de audiências do Centro Cultural do Banco do Brasil, há dois anos, portanto, o nosso presidente Lula sancionou a lei de criação da segunda universidade federal de Santa Catarina, a nossa Universidade Federal da Fronteira Sul. Naquela ocasião, o presidente Lula, extremamente emocionado, deputado Neodi Saretta, não conseguiu pronunciar uma única palavra, demonstrando a necessidade de mudar uma realidade nacional: apenas 4,9 milhões de brasileiros, o que representa 16% da população jovem do país, têm oportunidade de cursar o ensino superior.
A segunda universidade federal de Santa Catarina comprova aquilo um jornal francês, no dia 14 de outubro de 2009, afirmou: "Lula inventa a universidade do século XXI".
Um presidente operário, que não esteve nos bancos universitários, criou a Universidade do ABC e a Universidade Federal da Fronteira Sul que, somadas às demais universidades criadas no seu governo, chega ao número de 14 novas universidades federais no Brasil. Inclusive, essas 14 universidades federais têm propiciado um novo jeito de fazer ensino superior. A Universidade do ABC, por exemplo, acabou com a história da departamentalização e instituiu a multidisciplinaridade, que faz com que os centros de pesquisa tenham um enfoque central e não mais de disciplinas.
A nossa Universidade Federal da Fronteira Sul para sua criação contou com o esforço do deputado Neodi Saretta, do deputado Padre Pedro Baldissera, do ex-deputado estadual Pedro Uczai, do líder da nossa bancada, deputado Dirceu Dresch, e do querido companheiro Cláudio Vignatti, que foi o timoneiro da luta no sentido de unir forças em Brasília e fazer um movimento organizado com a participação dos três estados do sul do país.
Sr. presidente, é justo lembrarmos também que no dia 25 de agosto de 2009 tivemos, no Senado Federal, como relatora do projeto de criação da UFFS, a então senadora Ideli Salvatti, que, é claro, deu parecer favorável. No dia 15 de setembro, menos de um mês depois, tivemos a sanção da lei e no dia 15 de outubro, um mês depois, às 15h, assumiu o primeiro reitor pro tempore, professor Dilvo Ristoff.
Mas é importante que os ouvintes da Rádio Alesc Digital e os expectadores da TVAL compreendam o que foi a luta dessa universidade federal. Não pensem que foi algo simples, que hoje professores e alunos comemoram, pois muito se lutou para chegar à conquista dessa segunda universidade federal no estado.
É importante lembrar aqui a luta dos movimentos sociais, dos movimentos sindicais, da igreja, dos parlamentares, enfim, daquelas lideranças que compreenderam que a luta faz a lei, pois a lei somente vem se é resultado da união de todas as forças sociais.
Há uma passagem nessa história que passei a acompanhar de perto em 2005, deputado Ismael do Santos, que me marcou muito. Nas diversas idas a Brasília sempre conversarmos com o ministro, até o momento em que ele disse o seguinte: "No dia em que vocês se entenderem, organizarem-se e escolherem um interlocutor com o ministério, essa universidade sairá, porque todos os dias recebo inúmeros prefeitos e parlamentares que querem uma universidade na sua cidade, mas não dá para construir uma universidade em cada município".
Foi essa manifestação do ministro Fernando Haddad que fez com que voltássemos à região e criássemos, então, um movimento organizado que culminou na criação de uma universidade que já nasceu grande, em três estados, 396 municípios, com sede em Chapecó e com mais quatro campi.
Imaginem o que representa pensar, elaborar, implantar e organizar concurso público concomitante em cinco cidades, prédios em cinco cidades, organizar a grade curricular e ainda manter a interlocução com o movimento social organizado!
Por isso, quero destacar, nesse processo todo também, srs. deputados, uma história que talvez não seja contada. Porque muitos, hoje, olham para a universidade federal e dizem: "Muito obrigado, está aí", mas o que foi feito até chegar ao ponto de esses alunos terem acesso às aulas nem imaginam!
Esse movimento começou, inicialmente, no extremo oeste catarinense, depois de grandes discussões sobre o tema. O ex-deputado Cláudio Vignatti apresentou uma emenda parlamentar e foi criada, juntamente com o ex-reitor Lúcio Botelho, na Universidade Federal de Santa Catarina, uma comissão que começou a fazer estudos e elaborou o primeiro projeto técnico da universidade que, na época, foi chamada de Universidade Federal do Mercosul, porque se pretendia dar uma identidade para uma região que é tão pobre em termos de renda.
Então, resolvemos apresentar aquele primeiro projeto técnico para os movimentos sociais organizados, para as entidades e instituições, a fim de dar mais força e caldo político para o processo. E foi aí que o movimento social decidiu que não queria apenas aprovar o projeto, mas redesenhar, resignificar, dar outro sentido àquela universidade.
Começamos quase do zero, ou seja, instituímos um movimento que começou a discutir a criação de uma universidade comprometida com o desenvolvimento regional, comprometida com o acesso ao ensino superior e, mais ainda, comprometida com uma população que nunca teve acesso ao ensino superior público e gratuito.
O deputado Neodi Saretta sabe muito bem quantos debates fizemos para incluir os alunos do ensino médio público como critério fundamental para o acesso. Hoje chegamos a um número muito expressivo, ou seja, mais de 92% dos alunos da Universidade Federal da Fronteira Sul vieram da escola pública.
O Sr. Deputado Neodi Saretta - V.Exa. nos concede um aparte?
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Pois não!
O Sr. Deputado Neodi Saretta - Deputada Luciane Carminatti, também estava prevendo fazer uma fala sobre esse assunto, mas a minha fala já está contemplada na sua. E reforço as suas palavras porque, enquanto v.exa. falava, na minha mente passava um filme. Eu era prefeito de Concórdia na ocasião e participei ativamente do movimento pela criação da UFFS, com muitas idas e vindas a reuniões. Lembro de uma famosa reunião em Erechim, em que houve umas 30 falas, 28 contra a criação da universidade e duas a favor, a minha e a do prefeito de Getúlio Vargas, porque era um encontro promovido por quem não queria e fomos lá dizer o contrário.
Na época de grandes mobilizações, também fizemos uma em Concórdia e um prefeito de uma cidade da região oeste ligou para as emissoras de rádio de Concórdia dizendo que a universidade nunca sairia do papel.
Ainda bem, deputada Luciane Carminatti, que sonhamos e acreditamos que o sonho poderia tornar-se realidade, porque, como dizem, um sonho sonhado é apenas um sonho, mas um sonho sonhado coletivamente torna-se realidade.
Estamos todos felizes pela conquista da Universidade Federal da Fronteira Sul e pelo seu aniversário de dois anos.
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Muito obrigada, deputado, v.exa. contribuiu muito para isso.
Gostaria de destacar que nós assumimos compromissos também na luta dessa Universidade. Compromissos em que, além da consolidação do campus sede em Chapecó e nas quatro cidades, Realeza, Laranjeiras, no Paraná; Erechim, Cerro Largo, no Rio Grande do Sul, também assumimos compromisso da expansão na região de Concórdia e na região do extremo oeste. E compromissos são para serem cumpridos.
Quero destacar, nesse sentido, a importância de consolidar os campi, o que já temos de estrutura, mas também de avançar para que outros alunos tenham acesso à universidade pública.
Mas quero destacar, além de todo esse histórico sobre o qual poderia falar o dia inteiro, que a Universidade Federal da Fronteira Sul precisa cada vez mais se abrir à comunidade, fortalecer os espaços de discussão, implantar novos cursos na área da saúde e das engenharias e ser, acima de tudo, uma universidade do povo, que foi quem a conquistou.
Então, no dia de hoje quero deixar registrada a passagem dos dois anos dessa importante conquista para a sociedade de Santa Catarina.
(SEM REVISÃO DA ORADORA)