Pronunciamento
Luciane Carminatti - 028ª SESSÃO ORDINÁRIA
Em 14/04/2015
A SRA. DEPUTADA LUCIANE CARMINATTI - Quero cumprimentá-lo, sr. presidente, demais membros da mesa diretora, os srs. deputados e os que acompanham esta sessão.
Antes de fazer a minha manifestação no dia de hoje, gostaria de deixar uma mensagem aos professores. Muitos estão acompanhando, inclusive, neste momento, apreensivos com relação ao desenrolar da nova proposta do plano de carreira apresentado à imprensa e também a alguns parlamentares.
Quero dizer que nós temos uma preocupação muito grande com relação a este plano de carreira. Na próxima quarta-feira, amanhã, portanto, O sindicato, que tem autonomia, delibera a continuidade ou não da greve e não nos cabe interferir neste processo de autonomia do sindicato.
Mas nós temos pedido aos deputados, e assim o fiz hoje pela manhã na CCJ, que todos se debrucem sobre o plano de carreira apresentado, estudem, analisem, para que possamos discutir com o governo efetivamente melhorias para o Magistério catarinense.
E quando falo para o Magistério catarinense, me refiro a todos os profissionais da Educação, sejam efetivos, aposentados ou contratados, de sala de aula, de fora de sala de aula. Acredito que esse debate seja fundamental para que possamos avançar. E não temos dúvidas de que só haverá avanço se de fato o governo do estado colocar novos recursos, novos investimentos na carreira do Magistério catarinense.
Então, quero deixar aqui a minha mensagem aos professores, e dizer que a nossa luta continua.
(Passa a ler)
"Bem, Eduardo Galeano é mais um imortal que estará sempre presente!
Dizia ele: Vivemos em plena cultura da aparência. O contrato de casamento importa mais que o amor. O funeral mais que o morto. As roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus. Também dizia que na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem, ou seja, ainda existe gente que brinca.
São destacadas frases como essas que caracterizam o espírito livre de um símbolo da literatura, do jornalismo, da esquerda e do ativismo social. Galeano foi exemplar na arte de encantar o mundo com sua crítica sagaz e com a profunda capacidade de não se resignar, entendendo a condição humana e as mazelas das quais milhares estão submetidos.
Internado desde a última sexta-feira em razão de complicações de um câncer no pulmão, o escritor uruguaio morreu nesta segunda-feira, dia 13, aos 74 anos em Montevidéu. Para nós militantes, a morte de Eduardo Galeano é um momento de demarcar no histórico mais do que a perda de um ser humano fantástico e brilhante, é inscrever no tempo o tempo de uma ideia, de um exemplo, de uma esperança que irradiou para milhares de corações a luta pela liberdade e conquistas de direitos.
Neste sentido, uso a tribuna não para destacar a morte, mas para distinguir a intensidade com que viveu Eduardo Galeano.
Nós latino-americanos, que recentemente elegemos vários governos de esquerda e progressista, nos orgulhamos e devemos a pessoas como ele que sempre acreditaram na capacidade de conquistas da independência do nosso povo, da doutrinação econômica e cultural dos países centrais, do capitalismo moderno como o dos estados Unidos e da Europa.
Rememoraremos aquele que sobreviveu ao terror e ódio das ditaduras em nosso continente sem jamais perder a ternura. Durante o golpe militar no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Para fugir da cadeia exilou-se na Argentina. Em 1976, em outro golpe militar, dessa vez liderado pelo general Jorge Videla, colocou novamente sua vida em risco. O nome do escritor é colocado na lista dos esquadrões da morte, que executavam opositores ao regime. Para salvar a sua vida refugia-se na Espanha e apenas voltaria ao Uruguai em 1985, com a redemocratização do país. Viveu em Montevidéu até a sua morte.
Uma de suas reflexões marcantes sobre o Uruguai predominantemente agrário dos idos de 1960 era de que o país 'produzia mais violência do que carne ou lã'. Uma das suas obras mais célebres está As Veias Abertas da América Latina, livro em que denuncia a opressão e amargura do continente e que foi traduzido para dezenas de idiomas. Anos mais tarde, com a humildade que poucos conseguem ter, afirmou que era um livro de economia política, mas à época eu não tinha o treino necessário. Se a superficialidade que ele afirma ter escrito a obra, habilmente encantou milhares, quero crer que, com maior profundidade, nossa capacidade de indignação, formulação e critica latino-americana acompanhariam a evolução do autor.
Além de ser autor de mais de 40 obras, Eduardo Galeano também era um apaixonado por futebol, torcedor do clube Nacional, escritor de livros e artigos sobre o esporte. Costumava afirmar que, como todos os uruguaios, nasceu gritando gol e se definia como um perna de pau sem perdão.
Recebeu vários prêmios, dentre eles, o prêmio Casa de Las Américas em 1975 e 1978, e em 1993 o prêmio Aloa, promovido pelas casas editoras dinamarquesas.
A trilogia Memória do Fogo foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai e recebeu o American Book Award (Washington University, EUA), em 1989. Militante político histórico em seu país, Galeano escreveu o artigo intitulado Onde as pessoas votaram contra o medo, para celebrar a vitória de Tabaré Vásquez, primeiro presidente de esquerda eleito na história uruguaia, no qual afirma que a população de seu país finalmente usou o bom senso para parar de ser traída pelos partidos Colorado e Nacional.
Com sua intensa militância e produção intelectual, Eduardo Galeano nos deixou um legado deslumbrante que sempre resgataremos em nossas lutas, seja pela educação, justiça social, igualdade e direitos humanos.
Dizia ele: 'A utopia das nossas lutas está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve então a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.'
Aos uruguaios, aos brasileiros, aos latinos americanos! Eduardo Galeano! Sempre presente."
Essa é a nossa homenagem a um grande lutador da América Latina e do povo latino americano.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)
Antes de fazer a minha manifestação no dia de hoje, gostaria de deixar uma mensagem aos professores. Muitos estão acompanhando, inclusive, neste momento, apreensivos com relação ao desenrolar da nova proposta do plano de carreira apresentado à imprensa e também a alguns parlamentares.
Quero dizer que nós temos uma preocupação muito grande com relação a este plano de carreira. Na próxima quarta-feira, amanhã, portanto, O sindicato, que tem autonomia, delibera a continuidade ou não da greve e não nos cabe interferir neste processo de autonomia do sindicato.
Mas nós temos pedido aos deputados, e assim o fiz hoje pela manhã na CCJ, que todos se debrucem sobre o plano de carreira apresentado, estudem, analisem, para que possamos discutir com o governo efetivamente melhorias para o Magistério catarinense.
E quando falo para o Magistério catarinense, me refiro a todos os profissionais da Educação, sejam efetivos, aposentados ou contratados, de sala de aula, de fora de sala de aula. Acredito que esse debate seja fundamental para que possamos avançar. E não temos dúvidas de que só haverá avanço se de fato o governo do estado colocar novos recursos, novos investimentos na carreira do Magistério catarinense.
Então, quero deixar aqui a minha mensagem aos professores, e dizer que a nossa luta continua.
(Passa a ler)
"Bem, Eduardo Galeano é mais um imortal que estará sempre presente!
Dizia ele: Vivemos em plena cultura da aparência. O contrato de casamento importa mais que o amor. O funeral mais que o morto. As roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus. Também dizia que na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem, ou seja, ainda existe gente que brinca.
São destacadas frases como essas que caracterizam o espírito livre de um símbolo da literatura, do jornalismo, da esquerda e do ativismo social. Galeano foi exemplar na arte de encantar o mundo com sua crítica sagaz e com a profunda capacidade de não se resignar, entendendo a condição humana e as mazelas das quais milhares estão submetidos.
Internado desde a última sexta-feira em razão de complicações de um câncer no pulmão, o escritor uruguaio morreu nesta segunda-feira, dia 13, aos 74 anos em Montevidéu. Para nós militantes, a morte de Eduardo Galeano é um momento de demarcar no histórico mais do que a perda de um ser humano fantástico e brilhante, é inscrever no tempo o tempo de uma ideia, de um exemplo, de uma esperança que irradiou para milhares de corações a luta pela liberdade e conquistas de direitos.
Neste sentido, uso a tribuna não para destacar a morte, mas para distinguir a intensidade com que viveu Eduardo Galeano.
Nós latino-americanos, que recentemente elegemos vários governos de esquerda e progressista, nos orgulhamos e devemos a pessoas como ele que sempre acreditaram na capacidade de conquistas da independência do nosso povo, da doutrinação econômica e cultural dos países centrais, do capitalismo moderno como o dos estados Unidos e da Europa.
Rememoraremos aquele que sobreviveu ao terror e ódio das ditaduras em nosso continente sem jamais perder a ternura. Durante o golpe militar no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Para fugir da cadeia exilou-se na Argentina. Em 1976, em outro golpe militar, dessa vez liderado pelo general Jorge Videla, colocou novamente sua vida em risco. O nome do escritor é colocado na lista dos esquadrões da morte, que executavam opositores ao regime. Para salvar a sua vida refugia-se na Espanha e apenas voltaria ao Uruguai em 1985, com a redemocratização do país. Viveu em Montevidéu até a sua morte.
Uma de suas reflexões marcantes sobre o Uruguai predominantemente agrário dos idos de 1960 era de que o país 'produzia mais violência do que carne ou lã'. Uma das suas obras mais célebres está As Veias Abertas da América Latina, livro em que denuncia a opressão e amargura do continente e que foi traduzido para dezenas de idiomas. Anos mais tarde, com a humildade que poucos conseguem ter, afirmou que era um livro de economia política, mas à época eu não tinha o treino necessário. Se a superficialidade que ele afirma ter escrito a obra, habilmente encantou milhares, quero crer que, com maior profundidade, nossa capacidade de indignação, formulação e critica latino-americana acompanhariam a evolução do autor.
Além de ser autor de mais de 40 obras, Eduardo Galeano também era um apaixonado por futebol, torcedor do clube Nacional, escritor de livros e artigos sobre o esporte. Costumava afirmar que, como todos os uruguaios, nasceu gritando gol e se definia como um perna de pau sem perdão.
Recebeu vários prêmios, dentre eles, o prêmio Casa de Las Américas em 1975 e 1978, e em 1993 o prêmio Aloa, promovido pelas casas editoras dinamarquesas.
A trilogia Memória do Fogo foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai e recebeu o American Book Award (Washington University, EUA), em 1989. Militante político histórico em seu país, Galeano escreveu o artigo intitulado Onde as pessoas votaram contra o medo, para celebrar a vitória de Tabaré Vásquez, primeiro presidente de esquerda eleito na história uruguaia, no qual afirma que a população de seu país finalmente usou o bom senso para parar de ser traída pelos partidos Colorado e Nacional.
Com sua intensa militância e produção intelectual, Eduardo Galeano nos deixou um legado deslumbrante que sempre resgataremos em nossas lutas, seja pela educação, justiça social, igualdade e direitos humanos.
Dizia ele: 'A utopia das nossas lutas está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve então a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.'
Aos uruguaios, aos brasileiros, aos latinos americanos! Eduardo Galeano! Sempre presente."
Essa é a nossa homenagem a um grande lutador da América Latina e do povo latino americano.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)