Pronunciamento

Julio Garcia - 073ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 01/09/2009
O SR. DEPUTADO JULIO GARCIA - Sr. presidente, deputado Gelson Merísio, srs. membros da Mesa Diretora, deputada Ada De Luca, deputado Valmir Comin, deputado Padre Pedro Baldissera, deputado Dionei Walter da Silva, que se faz presente, deputado Jailson Lima, srs. deputados, servidores da Assembléia Legislativa, senhoras e senhores, eu não sei se estou diante de um sonho ou de um pesadelo, sendo que estou pela última vez nesta tribuna na condição de deputado estadual.
Foram 17 anos de mandato! Ressalto de todo este longo período um grande aprendizado: o aprendizado da convivência, da boa convivência; o aprendizado do respeito às diferenças e às pessoas; o aprendizado do exercício da democracia. Eu não posso negar, com um pouquinho de orgulho e vaidade, acabei aprendendo e acostumando-me às vitórias. Vou falar muito pouco sobre as mais importantes.
Na primeira eleição para presidente da Assembléia Legislativa, destacava bem há pouco o deputado Joares Ponticelli, antes mesmo do pleito demos uma contribuição inestimável a este Poder, que foi permitir que o voto para a escolha da Mesa Diretora, do presidente ao quarto-secretário, fosse feita de forma aberta, limpa e transparente. E a partir daí, as eleições deste Parlamento passaram a ser exemplares. Essa foi uma vitória maiúscula, não a vitória do presidente eleito naquele momento histórico, mas a vitória do Parlamento catarinense. Vitória de um Parlamento que começava a se sobressair, de um Parlamento que começava a viver uma fase extraordinária de convivência harmônica e, por isso mesmo, de conquistas. Ninguém chega a presidente apenas com o seu voto, mas naquela eleição nós obtivemos 40 votos. Digo isso para ressaltar a importância de todos e de cada um para a construção de um Parlamento soberano, de um Parlamento que se impõe e que por isso mesmo cumpre os seus compromissos e presta serviços à sociedade catarinense.
Tive, pela condição de presidente, a oportunidade de chegar ao governo do estado. Fui governador por 12 dias, e certamente todos que militam politicamente se sentem envaidecidos com essa possibilidade. E como eu contava com o apoio de todos vocês novamente, fiz questão de marcar aquela passagem no governo do estado com um projeto de lei.
Quando conversei com o governador Luiz Henrique, com o vice-governador de então, Eduardo Pinho Moreira, disse-lhes que não queria avião, não queria convênio, não queria passear pelo estado, não queria exibicionismo, não queria nada. Queria apenas a oportunidade e a compreensão deles para um projeto de lei que considerava um dos mais relevantes e um dos mais elevados sob o aspecto do alcance social - a lei das Apaes.
À época tive no Parlamento uma trajetória muito dinâmica: o governador em exercício manda o projeto, deixa o governo, vem aqui e ajuda a aprovar o projeto. O projeto foi aprovado por unanimidade para a nossa alegria e para a alegria das Apaes, sem nenhuma emenda, permitindo que aquela vitória fosse uma vitória maiúscula. Vitória também não do autor do projeto, nem do governo do estado, nem apenas das Apaes, vitória do Parlamento catarinense, que soberanamente soube reconhecer a necessidade daquele segmento e soube prestigiá-lo através daquele projeto de lei que ficou marcado na história da Assembleia Legislativa, tanto na sua tramitação como de modo especial nas suas benéficas consequências para o movimento apaeano.
Veio a eleição para deputado estadual e tive a oportunidade, como presidente, de disputar com colegas o pleito na forma mais tranquilia possível, sem nenhuma disputa particular nem mesmo na região onde militávamos politicamente, que era a mais congestionada de candidatos e que elegeu o maior número de deputados.
Nobres pares, essa convivência nos fez perceber que é possível conviver com diferenças e trabalhar em favor do povo e do estado que aqui representamos. Vindo dessa eleição, no dia 1º de fevereiro, com alguns novos componentes na Assembleia Legislativa, tivemos uma nova vitória, uma nova vitória do Parlamento catarinense, que por outra vez elegeu a Mesa Diretora, ressalto, fruto de um amplo entendimento, com 40 votos, por unanimidade. E o Parlamento continuou sendo respeitado, crescendo perante a opinião pública e cumprindo o seu papel.
Terminado esse meu segundo mandato no dia 1º de fevereiro, passado o cargo à nova Mesa Diretora, tomei a decisão de não mais disputar as eleições no ano de 2010. E teria até o final do meu mandato tempo para decidir o que fazer. Mas não escondo que desejava continuar na vida pública. Foi nela que forjei a minha carreira como office-boy do Banco do Estado de Santa Catarina, como escriturário, ajudante de serviço, chefe de expediente, contador, gerente e diretor, quando, por uma decisão política, com um misto de partidária, deixei o cargo a que mais almejei na minha caminhada, na minha carreira de bancário, para ingressar no Partido da Frente Liberal num momento histórico! Não foi num momento de negociação nem no meio de nenhum mandato, foi num momento histórico, quando no Brasil se consolidava a democracia pela eleição do presidente Tancredo Neves. E daí, em 1986, disputei a eleição de deputado estadual. Venci, e foi uma sequência de vitórias. Mas tive duas derrotas as quais agradeço a Deus, porque as duas derrotas foram as disputas que mais me ensinaram as lições de humildade, de compreensão, de respeito ao próximo, coisas fundamentais na minha vida.
Então, tendo decidido não disputar a eleição de 2010, surge, como que numa decisão divina, a aposentaria antecipada do conselheiro Gilson dos Santos e a oportunidade de continuar no serviço público apenas atravessando a praça. Inclusive, tenho dito aos servidores da Casa que me cumprimentam, que eu gosto tanto deles que vou ficar bem próximo, logo ali, no Tribunal de Contas.
Tive a indicação do sr. governador do estado, e meu nome foi submetido à Assembléia Legislativa. E foi mais uma vitória, por unanimidade. Estava em São Paulo cuidando da saúde de um filho e ponderei aos deputados que talvez devêssemos deixar a eleição, a escolha, para a semana seguinte. Obtive a resposta de que não era possível e que eu fosse para São Paulo cumprir o que eu tivesse que fazer que eles cuidariam da minha eleição.
Confesso que não tive nenhum receio. O clima de confiança que vivemos nesta Casa, apesar do voto secreto, era muito grande. É muito grande. E a vitória foi uma vitória maiúscula, uma vitória novamente do Parlamento, que soberanamente decidiu e decidiu por consenso, por unanimidade.
Evidentemente que os elogios daquela sessão, a que só pude assistir depois, através do DVD que recebi da competente diretoria de Imprensa da Casa, as manifestações daquela sessão, extrapolaram o que efetivamente mereço. Mas não posso dizer nem negar que saio daqui envaidecido pela oportunidade recebida de todos vocês. Foram manifestações carinhosas, de respeito, de apreço, que vou guardar, levar junto comigo, no meu coração, para o resto da minha vida.
Sou muito grato por isto, pela convivência, pelo aprendizado, pelas unanimidades aqui conquistadas, que, como disse e faço questão de frisar, não foram vitórias minhas, não foram vitórias pessoais, foram vitórias do Parlamento composto por deputados que honram a palavra. Não é possível fazer política sem honrar a palavra. É impossível fazer a boa política sem cumprir compromissos; é impossível praticar a boa política sem transparência, sem verdade. E foi isso que fizemos aqui, permitindo que todos tivessem o seu espaço. E, por incrível que pareça, a minha constatação é de que quanto mais espaço se abre mais espaço se tem. É uma questão de compreensão. E vocês são responsáveis, também, por essa compreensão.
Quero, de coração, dizer a todos vocês o meu muito obrigado. Tive a felicidade de ser presidente da Casa por duas vezes. E já disse aqui, em outro pronunciamento, que uma das melhores coisas que me aconteceram foi a oportunidade de conhecer o quadro funcional da Assembleia Legislativa, um quadro qualificado, de pessoas que se dedicam, a despeito do que às vezes possa parecer. Temos que julgar o conjunto pela sua maioria e não pela sua minoria. E nós, voluntariamente, posso aqui dar o meu testemunho de presidente que fui durante quatro anos, da dedicação da maioria esmagadora dos funcionários, daqueles que costumei chamar carregadores de piano do Parlamento catarinense, sem os quais não teria havido sucesso na abertura e nas reformulações a que procedemos aqui, nesse período, com a participação das Mesas Diretoras, tanto do primeiro quanto do segundo mandato.
Saio com a consciência tranquila, mas sinto-me como aquele viajante que decide a viagem, decide o destino, recebe o apoio de todos e na hora de ir embora fica triste, com uma saudade antecipada, com dúvida sobre se está adotando a viagem correta ou não. Mas a viagem é irreversível, ela se consumará daqui a uma hora.
Tenham certeza, colegas deputados, servidores da Assembleia Legislativa, que vocês terão muito próximo, no Tribunal de Contas do Estado, um amigo, alguém que respeita o Parlamento catarinense e que deseja de alguma forma continuar a participar da vida pública catarinense, procurando contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna. E isso só será possível através da política com P maiúsculo, da política feita por gente séria, da política feita por gente que efetivamente quer contribuir e que sabe por que está na vida pública. Só vale a pena estar na vida pública se tivermos a consciência de que a política é um instrumento para fazer o bem. E acho que praticamos isso aqui, durante esse período; por isso, deixo a Assembleia Legislativa muito feliz pela consciência tranquila de me ter esforçado para dar a minha contribuição.
Quero, na pessoa dos meus colaboradores mais próximos, a Graça, que é praticamente patrimônio da Casa, e acho que nem vou conseguir levá-la, porque ela tem aquela plaquinha do departamento de patrimônio, e isso pode gerar algum desconforto com o deputado Jorginho Mello, meu amigo de tantos anos; e o Eron, que foram no meu gabinete os esteios, além dos demais funcionários, em nome deles prestar uma homenagem a todos os servidores da Casa.
Aos deputados deixo um sonoro muito obrigado! Quisera ter a eloquência para dizer o que vai no meu coração, neste momento, para lhes dizer o meu muito obrigado. O meu muito obrigado sonoro, para que fique gravado no coração de todos vocês, e que possamos, mesmo em posições diferentes, continuar com esse relacionamento respeitoso, que foi a grande marca da nossa passagem pela Assembleia Legislativa, porque essa passagem não teve uma mão apenas, foi uma respeitosa passagem de mão dupla, houve reciprocidade.
Por isso, o meu muito obrigado, deputada Ada De Luca; muito obrigado, deputado Valmir Comin; muito obrigado, deputado Jorginho Mello; muito obrigado, deputado Gelson Merísio; muito obrigado, deputado Dionei Walter da Silva, que na condição de suplente queria votar em mim, mas achava que não iria dar tempo. Mas os homens da Mesa foram rápidos e permitiram que v.exa. pudesse votar em mim novamente, deputado Dionei Walter da Silva.
Deputado Genésio Goulart, também muito obrigado a v.exa.; obrigado ao deputado Adherbal Deba Cabral, ao deputado Manoel Mota, ao deputado José Natal. O meu muito obrigado ao deputado Giancarlo Tomelin, ao deputado Antônio Aguiar, ao deputado Sargento Amauri Soares, ao deputado Marcos Vieira, ao deputado Professor Grando, ao deputado Narcizo Parisotto, ao deputado Serafim Venzon, ao deputado Elizeu Mattos.
Deputado Joares Ponticelli, muito obrigado. Com v.exa. tive uma convivência muito estreita, porque disputávamos espaços na região e volta e meia estávamos lá, trabalhando em conjunto. V.Exa. foi reitor da universidade da Assembleia Legislativa no período em que presidi esta Casa.
Muito obrigado, deputado Silvio Dreveck, deputado Dirceu Dresch, deputado Cesar Souza Júnior, querido amigo, afilhado, companheiro e líder; muito obrigado, deputado Décio Góes, querido amigo; muito obrigado, deputada Odete de Jesus, de quem recebi tantas palavras de conforto e de estímulo para continuar na jornada; muito obrigado, deputado Jailson Lima, nessa convivência tão boa ficamos devendo ainda uma palestra daquele autor do livro famoso, mas, se Deus quiser, vamos realizá-la; muito obrigado, deputado Pedro Uczai, deputado Ismael dos Santos, deputado Padre Pedro Baldissera. Enfim, agradeço a todos os deputados, inclusive àqueles que não estão presentes.
Deputado Jean Kuhlmann, muito obrigado. E sou muito grato, estou muito feliz. Deputado Edison Andrino, muito obrigado a v.exa. também.
Levo daqui apenas boas recordações. Feliz de quem convive 17 anos sob o mesmo teto e só leva alegrias, nenhuma mágoa. A vocês desejo o que estou sentindo neste momento. E eu estou muito feliz!
Muito obrigado!
(Palmas)
(SEM REVISÃO DO ORADOR)