Pronunciamento

Ismael dos Santos - 009ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 27/02/2013
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Obrigado, presidente deputado Pedro Baldissera.
Quero cumprimentar os nossos telespectadores, os nossos ouvintes da Rádio Alesc, aqueles que nos prestigiam nesta tarde, especialmente os nossos parlamentares, vereadores e prefeitos. E vejo aqui o meu amigo Adilson Batista, de Indaial.
É uma satisfação cumprimentar os srs. deputados e sras. deputadas.
Quero, deputada Angela Albino, dar prosseguimento ao foco de seu discurso. De fato, ontem, fomos representar esta Assembleia Legislativa de Santa Catarina na Assembleia Legislativa de São Paulo, na comissão da Verdade ali instalada.
É bom lembrar que são mais de 700 desaparecidos no Brasil, pelo menos 150 em São Paulo e, segundo informação, cerca de 10 no estado de Santa Catarina, entre eles a ilustre personagem do deputado Paulo Stuart Wright.
Eu dizia ontem na comissão da Verdade, deputado Padre Baldissera, que tenho algumas lembranças da minha infância, dos meus sete anos de idade, quando morava na cidade de Chapecó. Papai era pastor lá, e o pai do deputado Paulo Stuart Wright, pastor Lathan Stuart, missionário norte-americano presbiteriano. Ele era de Joaçaba.
Então havia certa convergência, inclusive geográfica, e isso foi há 40 anos. Por isso, esta data é importante para nós, porque foi em 1973, exatamente há 40 anos, o desaparecimento do deputado Paulo Stuart Wright, e sequer, deputado Neodi Saretta, os seus restos mortais foram encontrados.
Acompanhei muito de perto a história do deputado Paulo Stuart Wright. Ele nasceu em Joaçaba. Não pôde estudar numa escola evangélica, deputado Padre Pedro Baldissera, porque naquele tempo as escolas católicas da região não permitiam que um evangélico estudasse numa escola católica, e o pai dele teve que fundar uma escola evangélica em Joaçaba para que ele pudesse estudar. Depois, ainda na infância, teve a trágica notícia da morte de seus dois irmãos nadando no rio do Peixe, em Joaçaba.
O tempo passou, ele foi se envolvendo em política, candidatou-se a prefeito, a vereador em Joaçaba, perdeu as eleições. Candidatou-se a prefeito em Joaçaba, perdeu por 11 votos, naturalmente manipulados, já naquela época.
Veio à capital a convite do governador e tornou-se coordenador-geral da Imprensa Oficial. Aqui se envolveu com os pescadores. Conseguiu reunir, deputado Edison Andrino, mais de 25 mil pescadores em Santa Catarina, há 40 anos. Fato histórico! Conseguiu formar 27 sindicatos de pescadores no estado de Santa Catarina e a primeira federação no estado de Santa Catarina. E aí se elegeu deputado estadual, por dois anos.
Estou vendo aqui os colegas que ontem nos acompanharam na comitiva em São Paulo, assessores da deputada Angela Albino, da deputada Luciane Carminatti. E em especial o nosso agradecimento à funcionária desta Casa, Derlei Catarina de Luca.
É claro que essa sua movimentação, esse seu envolvimento popular, esse seu envolvimento com os pescadores mexeu com os poderosos, e por determinação direta de Brasília foi pedida a cassação do seu mandato. Mas como cassar o mandato de um deputado popular, íntegro, reto e coerente? Não havia nenhuma brecha. Aí, surpreendentemente, de forma inusitada na história de Santa Catarina, do Brasil, quiçá da América Latina e até do mundo em um Parlamento, cassaram o mandato do deputado Paulo Stuart Wright por decoro parlamentar, porque não usava gravata! Porque não usava gravata! Essa foi a brecha que encontraram, deputado Edison Andrino, v.exa. que muito militou na questão da democracia brasileira.
Cassado em 1964. Ficou sem essa couraça, sem essa proteção que lhe daria condições de prosseguir a sua vida como homem público neste país e neste estado. Teve que ir para a clandestinidade. Ficou um ano no México. Retornou ao Brasil, muito atuante na chamada ação popular, e finalmente em 1973 conseguiram dar um jeito de eliminar em alguma estação ferroviária de São Paulo o ex-deputado Paulo Stuart Wright. E esta Casa teve a nobreza de revogar essa cassação.
A Igreja Evangélica Presbiteriana, que também tinha feito uma espécie de excomunhão do deputado na época, voltou atrás. E em 1985 revogou a sua membresia. E este Parlamento soube inclusive homenageá-lo dando o seu nome a um dos plenários desta Casa, o Plenário Paulo Stuart Wright.
Ouvimos ontem ali o filho do Paulo Stuart Wright, único filho vivo, o João Paulo. Ouvíamos até de forma emocionada as suas palavras, o seu testemunho, porque a família foi totalmente destruída - a mulher morreu aos 50 anos, uma filha sofreu homicídio. Felizmente o João Paulo conseguiu dar a volta por cima. Mas ele dizia em lágrimas que o sonho da sua vida é de fato sepultar os insepultos. Sem isso não haverá democracia, sem isso não poderemos hastear a bandeira da verdade.
A Sra. Deputada Angela Albino - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Pois não!
A Sra. Deputada Angela Albino - Ontem protocolei um documento para que façamos uma grande sessão em setembro de 2013, quando faz 40 anos do desaparecimento do Paulo Stuart Wright. Eu vou retirá-lo para que possamos fazer um requerimento em nome desta Casa, no sentido de reinaugurar o memorial do deputado.
Pretendemos fazer uma homenagem da nossa comissão em uma sessão solene, que com o seu apoio conseguiremos aprovar. E já em setembro devemos fazer um grande ato de recuperação da memória de Paulo Stuart Wright.
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Será mais do que justa essa homenagem aos 40 anos do desaparecimento do Paulo Stuart Wright.
Eu conversei com várias testemunhas da época, inclusive com o sr. Padilha, pai do atual ministro da Saúde, que conviveu na época com Paulo Stuart Wright. E foram membros da União Brasileira de Estudantes Evangélicos, da qual Paulo foi um dos líderes e principalmente um mentor intelectual daquele movimento, e todas essas pessoas que ali estavam que colocaram não apenas o seu depoimento, mas a sua disposição de vir a Santa Catarina prestar a sua solidariedade nesta sessão que deveremos acolher nesta Casa, para homenagear tão ilustre figura que infelizmente ainda continua desaparecida.
Era o que tinha a dizer.
(SEM REVISÃO DO ORADOR)