Pronunciamento

Ismael dos Santos - 072ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 03/09/2008
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Sr. presidente, srs. deputados, nesta tarde gostaria de fazer uma homenagem a um deputado que já passou por esta Casa, que fez história nesta Casa e que no mês de setembro anota-se 35 anos de seu desaparecimento, ou melhor, deputado Sargento Amauri Soares, desapareceram com ele. Falo de Paulo Stuart Wright, que dá, inclusive, seu nome ao plenarinho desta Casa.
Paulo Stuart Wright, deputado Jorginho Mello, seu conterrâneo lá da cidade de Joaçaba, nasceu no ano de 1933, filho de um pastor evangélico, Evair Wright, e cresceu empolgado pelos ideais democratas. Fundou os primeiros sindicatos no oeste e meio-oeste catarinense e foi candidato a prefeito na cidade de Joaçaba. Naquela época, nos idos de 1962, perdeu por apenas 11 votos. Em seguida se elegeu deputado estadual e como deputado estadual fez um trabalho brilhante, organizou mais de 27 cooperativas de pescadores no estado de Santa Catarina, foi um dos mentores da Fecopesca - federação de pesca em nível nacional - e inspirou, mais tarde, o escritor Dias Gomes na primeira novela em cores da Globo, O Bem Amado.
Em 1964, Paulo Wright se elegeu deputado estadual, na época da perseguição, da ditadura. Como tinham que achar um deputado subversivo também em Florianópolis, Paulo Stuart Wright foi cassado por falta de decoro parlamentar. Pasmem os senhores, deputado Peninha, Paulo Stuart Wright foi cassado nesta Casa porque não usava gravata. Está nos anais históricos da Assembléia Legislativa. Entenderam-no como rebelde. É por isso que o deputado Sargento Amauri Soares só vem de gravata vermelha, não é deputado?
Depois de cassado, foi para o México, ficou um ano lá, voltou, teve uma atuação nos movimentos populares durante oito anos. E em setembro de 1973 estava ele em um ônibus, na cidade de São Paulo, quando foi levado para os porões da ditadura, tendo sido assassinado nas primeiras 48 horas - um mártir da democracia. Até hoje não encontraram os restos mortais de Paulo Stuart Wright.
Mas faço essa homenagem nesses 35 anos de seu desaparecimento, anotados agora no mês setembro, primeiro, pela sua formação política, pela sua formação intelectual e também pela sua formação religiosa.
O Sr. Deputado Sargento Amauri Soares - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Ouço v.exa., deputado.
O Sr. Deputado Sargento Amauri Soares - Deputado Ismael dos Santos, quero agradecer o aparte que v.exa. me concede para parabenizá-lo pelo seu pronunciamento nesta tarde, falando desse assunto que para nós também é muito caro. Até estamos participando e já realizamos audiência pública neste Poder, no plenarinho Paulo Stuart Wright, ainda neste ano, para discutir a criminalização dos movimentos sociais, justamente lembrando esses episódios do período da história do Brasil que não haverá de regressar, e lutando para que possamos cada vez mais avançar nas liberdades civis, nas liberdades democráticas, no direito de expressão, de organização do povo trabalhador, do povo pobre do nosso país, condenando a criminalização dos movimentos sociais e a criminalização da pobreza.
Então, é muito importante lembrar que Paulo Stuart Wright foi um deputado deste Parlamento e que foi violentamente, de forma vil, de forma covarde, assassinado. E da mesma forma, de forma vil e covarde, até hoje não foram entregues os seus restos mortais aos seus familiares, que continuam procurando.
Parabéns a v.exa. pela lembrança, por esse pronunciamento na tarde de hoje.
Muito obrigado!
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Eu é que agradeço, deputado!
Como dizia, o deputado Paulo Stuart Wright foi um dos líderes da Igreja Presbiteriana no estado de Santa Catarina. Uma das suas últimas cartas dirigida à sua esposa dizia o seguinte:
(Passa a ler.)
"Diante de tanta injustiça e miséria que vemos no mundo e da opressão generalizada aos necessitados, proclamar-se indiferente é inconcebível para quem busca servir a Cristo. Querer ser indiferente é aceitar as regras da injustiça, é aceitar passivamente a opressão, é não ter feito nada pelos que sofrem."[sic]
Esse é um trecho da carta que Paulo Wright dirigiu à sua esposa, um pouco antes da sua morte, nos anos 1970.
Para a sua formação intelectual, ele chegou a buscar conhecimentos nos Estados Unidos, estudou lá, trabalhou lá com os operários, nos subúrbios de Los Angeles, para conhecer um pouquinho mais da realidade dos Estados Unidos. Voltando para o Brasil, a sua atuação comunitária foi não só com os operários, com os movimentos populares, mas foi, sobretudo, com os pescadores de Santa Catarina.
Também, além de ser deputado estadual, exerceu a função de diretor da Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, um homem público persistente, idealista. E por isso prestamos aqui essa homenagem aos 35 anos do martírio de Paulo Stuart Wright.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)