Pronunciamento

Ismael dos Santos - 068ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 07/08/2008
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Sr. presidente e srs. deputados, quero dar boas-vindas também ao deputado Aparecido Voltolini, de Benedito Novo. Seja bem-vindo a esta Casa e sucesso na sua caminhada.
Srs. deputados, há cerca de uma década tive a oportunidade de ser secretário municipal da Criança e do Adolescente em nosso município e naquela época já nos preocupávamos com a qualificação da mão-de-obra e do adolescente. Tínhamos um programa muito interessante, em que 250 adolescentes faziam estágios remunerados em diversas empresas da cidade. Daí veio uma lei federal proibindo o treinamento, a ocupação desses adolescentes. Embora eles cedessem apenas quatro horas por dia do seu tempo, porque tinham que estar vinculados à escola, tivemos que cessar com esse programa de formação profissional aos nossos adolescentes. Somente para adolescentes acima dos 16 anos, deputado presidente.
Eu estou citando esse exemplo porque é apenas um exemplo de minuta, é verdade, no grande mar da economia brasileira, mas são exemplos como esses que nos levaram e nos desembocaram num gargalo que estamos enfrentando hoje no Brasil e em Santa Catarina, que é o tal do apagão da mão-de-obra. O que é o apagão da mão-de-obra? É a escassez de profissionais qualificados no mercado de trabalho.
Eu escutava uma entrevista do presidente da Petrobras, José Gabrielli, que dizia que o principal problema hoje da maior estatal do país não é, sem dúvida alguma, a matéria-prima, não é a falta de investimentos, o maior problema da Petrobras hoje é a ausência de jovens talentos. No próximo ano, por exemplo, 73 mil vagas serão abertas pela Petrobras e suas parceiras, fornecedoras, e não há perspectiva para serem ocupadas essas vagas. Um exemplo nosso aqui catarinense é a WEG, grande empresa de Jaraguá do Sul, que no ano passado abriu 3.500 vagas, sendo preenchidas 3.000 vagas, restando 500, que não foram preenchidas exatamente por falta de mão-de-obra qualificada. Essas constatações, esses exemplos nos levam a convicção de que é pior do que um apagão elétrico ou um apagão portuário. Estamos à beira de um apagão da mão-de-obra.
Em 2007, por exemplo, segundo o IBGE, 90 mil vagas não foram ocupadas no país por falta de profissionais qualificados. Isso devido à escolaridade baixa, à pouca experiência, sem falar no gargalo da rotatividade. No ano passado, por exemplo, foram 10 milhões de demissões no mercado formal de trabalho e nesse jogo de admite, demite, levamos um prejuízo de R$ 13 bilhões, recursos esses que poderiam ser investidos na qualificação da mão-de-obra. Sem falar no desperdício da questão fiscal ou mesmo de termos que investir R$ 12 bilhões, por exemplo, no seguro-desemprego, questões que poderiam ser evitadas, até mesmo se a estrutura estatal, os planejamentos estatais funcionassem, porque percebemos que o governo tem-se mostrado muito mais preocupado com a transferência de recursos para os desempregados e menos com a sua formação. É a velha história que se acaba dando o peixe e se esquece de ensinar a pescar. Claro que o grande gargalo disso é a educação.
Nós tivemos, na última década, 35 milhões de crianças e adolescentes que passaram pelo ensino elementar, mas nove milhões apenas chegaram ao ensino médio. Onde ficou o restante, ou seja, esses 25 milhões? São os tais analfabetos funcionais, a maioria dependente de programas sociais, como o Bolsa Família, que atende hoje mais de 10 milhões de pessoas.
Na faixa etária entre 15 e 17 anos, 17,5% não estão estudando e aí temos o problema do desemprego: oito milhões de desempregados. Temos a questão do gargalo, com 2,5 milhões de novos ingressos por ano na força de trabalho, levando-nos a quatro trabalhadores disponíveis para cada vaga no mercado nacional de trabalho.
Embora a economia nacional esteja crescendo 5% ao ano, gerando 2,5 milhões de novos empregos, 82% das pessoas que ingressam no mercado de trabalho não atendem as exigências das empresas. É claro que a solução está em qualificar e qualificar um profissional leva tempo e exige investimento.
O ministério da Educação lançou um plano de expansão de escolas federais. Hoje, 160 mil vagas são oferecidas em 140 centros federais de educação tecnológica, mas é muito pouco. Nós precisaríamos pelo menos de 500 mil vagas. Outra solução é aproximar as empresas do centro de informação.
Eu tive a oportunidade de estar na Universidade Federal, deputado Pedro Uczai, durante oito anos, quatro anos no mestrado e quatro anos no doutorado, e uma das questões negativas que eu acompanhava era exatamente essa distância entre o mercado de trabalho e os centros de informação. Ainda estamos no modelo em que a qualificação é feita pela oferta de cursos e não pela demanda das empresas.
Por isso não há tempo a perder. Tanto o setor público quanto o setor privado, deputado Kennedy Nunes, e a sociedade como um todo necessitam priorizar o ensino, para que os estudantes ao saírem da escola tenham uma profissão e um emprego definido.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)