Pronunciamento

Dr Vicente - 016ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 12/03/2015
O SR. DEPUTADO DR. VICENTE CAROPRESO - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, público presente, parece que hoje a maioria dos discursos serão a respeito da situação do país.
O Brasil apresenta sintomas ruins de doença que são descritos não muitas vezes por grandes políticos ou grandes discursos, aliás, a política, que me perdoem meus amigos, é a grande responsável pela situação em que estamos. E se formos ver e analisar tudo que o Brasil está passando, veremos que a política é a responsável pela falta de credibilidade, com graves implicações na área econômica do país. Essa é a grande verdade, sr. presidente e srs. parlamentares!
Tenho aqui alguns dados para ilustrar essa afirmação. A inflação já bate a casa dos 8%; a taxa de juros sobe a mais de 12.75%; a retração da indústria está gravíssima. Há pouco assisti pela televisão que em São Paulo, estado que pertence àquele eixo de grande desenvolvimento da indústria automobilística, houve uma retração de 35% na produção e que muitas demissões já estão previstas. Aliás, o país já perdeu 81 mil empregos no primeiro mês deste ano. Santa Catarina, pela sua diversificação de atuação ainda está escapando, mas há setores que já estão sendo altamente penalizados pela situação.
A receita do governo federal está caindo; a balança comercial vem batendo recordes negativos e as exportações vêm caindo; a crise da Petrobras vai arrastando ladeira abaixo toda a cadeia produtiva que a ela está "linkada"; e aumentam os impostos em todos os níveis para manter a máquina pública.
Há crescimento? Que PIB espera-se este ano?Há poucos meses podíamos ver pessoas satisfeitas com a caixa de benefícios sociais que era e que ainda está sendo dada pelo governo federal. Agora, essas mesmas pessoas estão atônitas vendo que na metade do mês o dinheiro já acabou.
Deputado Leonel Pavan, meu presidente, porta-voz do n nosso partido, pequenas atitudes acabam marcando uma semana. Fui abordado esses dias por uma pessoa que me reconheceu. Ela é de Jaraguá do Sul e estava lá em Joinville. Eu fui fazer uma compra no supermercado e ela, ao ver-me, agarrou meu braço e disse: "Doutor, ajuda porque o dinheiro já não dá mais para fazer o rancho".
Então, esse é o sintoma de que a crise está muito além dos limites do Planalto, muito além dos limites da Justiça. A crise é real e nós temos que realmente rever alguns passos da política. Esta é a hora, inclusive, meus colegas parlamentares, de atos de estadista, é hora de aproveitarmos essa dificuldade que estamos passando e enfrentarmos de vez algumas mazelas, independentemente de cara feia, de cortarmos os benefícios, por exemplo, na Previdência.
Alguns países da Europa já se anteciparam, deputado Silvio Dreveck, como a Bélgica e a Alemanha, elevando a idade da aposentadoria, prevendo a dificuldade, porque hoje todo mundo vive muito mais do que antigamente.Alguns anos atrás se esperava que a maioria das pessoas morresse com 69 anos, 70 anos. Hoje estamos batendo a casa dos 80 anos. E a lei continua a mesma, os déficits continuam aumentando e nada de fazermos algo substancial para mudar. Com isso, a máquina pública vai estourando os seus limites, cada um vai tentando espernear para um lado e para outro e os investimentos não ocorrem mais.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, que realizou uma auditoria criteriosa, o governo federal entregou apenas uma em cada quatro obras prometidas para a saúde. O dado é muito preocupante, porque das novas Unidades Básicas de Saúde previstas, no valor de R$ 3,8 bilhões, apenas 12% foram entregues, sendo que das Upas (Unidades de Pronto Atendimento de Saúde) apenas 8% foram concluídas.
Esses são sintomas de que as coisas não estão boas. O povo percebeu, foi para as ruas e assumiu posições que nós, políticos, é que deveríamos ter assumido. E vêm aí mais manifestações no dia 15 em todo o Brasil.
De outro lado, assistimos a uma movimentação do governo tentando contrapor-se a isso. O fato é que no ano passado quem venceu as eleições foi a sra. Dilma Rousseff, por uma pequena margem, é verdade, mas venceu, e num regime democrático, quem vence comanda. Porém, durante o período eleitoral a verdadeira situação do Brasil não foi passada para a população. Houve muitos golpes de marketing, que resultaram na vitória do PT.
Portanto, temos de um lado quem venceu democraticamente e, por outro lado, uma multidão que hoje em dia se irmana e realiza, com toda razão, com toda pureza, movimentos de protesto muito verdadeiros, porque vêm debaixo para cima.
O meu partido, o PSDB, não prevê o impeachment, ninguém vai para a rua para dizer que tem que tirar quem quer que seja. Mas todo mundo está com goela pronta para estourar justamente para exigir que mudanças sejam feitas, que cortes sejam feitos e que se restaure a decência dentro da atividade política.
Essa era a mensagem que eu queria passar para vocês, além de dizer para os meus amigos, para os meus eleitores, para as pessoas que me conhecem que no dia 15 estarei na praça. E eu penso que elas poderão conversar comigo, pois assim vamos aprofundando esse grande debate da nação que se avizinha para o dia 15 de março.
O Sr. Deputado Mario Marcondes - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO DR. VICENTE CAROPRESO - Pois não!
O Sr. Deputado Mario Marcondes - Obrigado, deputado. V.Exa. abordou há pouco dois temas: a crise brasileira e os manifestos. Quanto ao primeiro tema, gostaria de contribuir com o colega dizendo o seguinte: esperamos que desta vez, a exemplo de tantas outras, a carga não venha novamente para a população pagar. Porque no Brasil é típico: cada vez que ocorre uma crise, cada vez que há um rombo para tapar, tributa-se mais. Os empresários e a população não aguentam mais pagar imposto. A carga tributária que recai sobre os empresários e, consequentemente, sobre cada cidadão já é muito pesada. Esse fardo está muito pesado para cada um de nós. O que é preciso, neste país, é um pacto de vergonha, um pacto de coragem, para que consigamos fazer com que a administração pública ande como efetivamente deva andar.
Quanto às manifestações, o que se espera é que nenhum político tente apropriar-se delas, pois, como disse o deputado Leonel Pavan, elas não têm dono, não há um coronel à frente, elas não pertencem a nenhum partido político, elas nasceram do povo, da população e ninguém tem o direito de usá-las como palanque eleitoral, seja adversário, seja oposição, seja situação, para que efetivamente seu objetivo seja alcançado: chamar a atenção da sociedade e, principalmente, da classe política e dos governantes de que as coisas não estão andando bem.
Obrigado, deputado.
O SR. DEPUTADO DR. VICENTE CAROPRESO - Para concluir, sr. presidente e srs. parlamentares, estamos já bem perto do dia 15 de março. O que vai ocorrer é uma incógnita, mas o que tudo indica é que será um grande movimento popular de indignação nacional, que, espero, sirva para estimular os brios de muita gente que tem a caneta na mão, para que realmente comece a mudar, porque se nós que somos pagos pela população não resolvermos, alguém vai resolver.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)