Pronunciamento

Dirceu Dresch - 053ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 08/07/2008
O SR. DEPUTADO DIRCEU DRESCH - Sr. presidente, sras. deputadas, srs. deputados, telespectadores que nos acompanham pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital, nós estamos dando uma olhada aqui na Lei n. 11.718, que trata de vários temas relacionados à questão da agricultura, sancionada pelo presidente Lula no dia 18 de junho, que trata da questão da contribuição da agricultura familiar, trata da contratação temporária de trabalhadores assalariados rurais e trata de outro tema que interessa muito para Santa Catarina e para a agricultura familiar que é a isenção do ICMS e também do produto comercializado pelo PAA, o Programa de Aquisição de Alimentos.
Srs. deputados, inclusive há uma indicação aprovada por esta Casa, o que mostra que já viemos debatendo desde o ano 2007, e entendemos que seja uma ação importante do estado, já que Santa Catarina no ano passado, deputado Silvio Dreveck, se destacou com mais de R$ 20 milhões liberados para o Programa de Aquisição de Alimentos da agricultura familiar. Nós entendíamos que o estado deveria participar desse programa isentando o ICMS dos produtos que têm valor agregado nas nossas pequenas agroindústrias familiares. Isso já dá uma injeção aí de recursos e possibilidades para esses grupos de agricultores que com tanto sacrifício se desafiam a agregar valores a seus produtos lá nas propriedades contribuindo com o desenvolvimento e com a geração de empregos.
Infelizmente, não fomos atendidos na nossa reivindicação. Mas nesse decreto, o presidente Lula encaminha uma nova perspectiva na qual o governo federal, a própria Conab vai pagar o ICMS desses produtos para os agricultores familiares. Então, nós entendemos que o estado, sim, deveria contribuir com esse programa e pensar mais numa política de comercialização para a agricultura familiar.
Então, essa iniciativa é importante, pois atinge um grande número de agricultores. Esperamos que esse ano possamos ampliar muito os recursos para esse setor da agricultura familiar e para o Programa de Aquisição de Alimentos para melhorar a renda dos nossos agricultores.
Mas, deputado Pedro Uczai, o que vimos hoje aqui quando se falou na questão do aumento da cesta básica foi tratar, sim, das conseqüências. Eu sempre - e aí falo de cadeira, deputado Herneus de Nadal - passei a minha vida discutindo isso. E como agricultor familiar profissional passei a vida toda produzindo feijão, milho, arroz, leite e sei o que isso significa, desde os anos 80, quando este país destruiu a sua política de regulamentação de preços mínimos, quando a política pública e o estado privatizaram mais de 500 armazéns públicos no nosso país.
E esse é o problema hoje do feijão, pois se tivéssemos no país uma política de preços e uma política de estoques reguladores, com certeza hoje teríamos feijão em estoque, teríamos agricultores que iriam se propor a produzir feijão, porque há dois anos esses agricultores produziram feijão a menos de R$ 50,00 a saca e não compensa mais produzir feijão. E como não se tem construído historicamente uma política pública de intervenção, os agricultores e os consumidores acabam pagando o preço do desmonte da política pública em nosso país.
Srs. deputados, por incrível que pareça os que destruíram essa política pública, os que financiaram a privatização e o desmonte do estado, da intervenção pública, vêm aqui falar de regulamentação de preços de cesta básica no Brasil. Para os que defendem o livre mercado, é o mercado que dá conta dessa questão da oferta e da procura. E nós sempre defendemos isso, porque a agricultura familiar não tem controle, nem a patronal para viver sem a intervenção do estado. Porque a patronal, os grandes empresários rurais, que sempre defenderam o livre mercado, tiveram agora uma grande parcela de renegociação das suas dívidas porque o negócio deles também não é tão lucrativo como pregam por aí. Então, o estado tem que intervir, sim! E esse é o bom momento para discutir isso.
Por isso, estamos comemorando, infelizmente, dez anos de privatização, do desmonte de duas empresas públicas que produziam insumos no nosso país, mas, infelizmente, foram doadas - e não dá para dizer aqui que foram vendidas a preço de banana porque a banana também está com um preço bom - para as multinacionais que hoje têm o controle dos insumos nas mãos. E os agricultores, consequentemente, estão nas mãos das multinacionais.
Então, precisamos deixar muito claro o que está acontecendo, que é o controle dos insumos e não termos uma política pública de intervenção. Ainda bem que temos um governo hoje que começará a discutir, a intervir, sim. É um compromisso do governo construir novamente empresas que vão produzir adubos a preços mais baixos para justamente baratear o preço de custo da produção.
Tomara que estes mesmos que fizeram isso, não assumam o governo no futuro e desmontem novamente a política pública de armazenagem que está sendo construída hoje por políticas de preços mínimos. O reajuste, por exemplo, do feijão em 65% do preço mínimo, então, para o ano que vem nós teremos feijão na mesa do consumidor brasileiro. O agricultor produz, sim, mas ele quer uma garantia. Se ele tiver garantia de preço no ano que vem, ele vai produzir feijão e vai colocá-lo mais barato na mesa do consumidor.
E nós podemos dizer que hoje o Brasil tem condições de voltar a intervir no processo de insumo, de poder discutir novamente a armazenagem de preços mínimos para garantir a oferta e a renegociação de R$ 72 bilhões de dívidas anunciados há dias. É um investimento na agricultura como jamais se viu neste país, com mais de 65 bilhões para a agricultura empresarial, R$ 13 bilhões para a agricultura familiar ou mais de R$ 13 bilhões do Pronaf. Enquanto esses mesmos que vêm aqui hoje criticar a questão da política agrícola, investiam 2.4 em 2002 e R$ 6 bilhões do programa para garantir a produção de mais alimentos para o nosso país.
Tenho certeza de que a agricultura brasileira tem condições de dar a resposta. Com estes investimentos, com a melhora do preço mínimo, com a garantia de preço, com a política de investimentos em produção de insumos, com crédito para maquinário e com crédito para produzir alimentos, com certeza, este Brasil dará mais um salto de qualidade na produção de alimentos que está a cada ano dobrando, aumentando a sua produção.
Neste sentido nós queríamos deixar aqui, enquanto conhecedor de causa, de quase 20 anos de debates, de organização e de discussão de uma nova perspectiva do desenvolvimento do meio rural brasileiro, que entendemos fundamental esta perspectiva que vem sendo construída a partir do governo Lula.
O Sr. Deputado Pedro Uczai - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO DIRCEU DRESCH - Pois não!
O Sr. Deputado Pedro Uczai - Deputado Dirceu Dresch, é bom o PFL vir aqui falar de inflação, do aumento do preço dos alimentos, porque aí vamos discutir as causas e quem são os responsáveis pelo desmonte do país, das políticas públicas e pela privatização da infra-estrutura de regulação de mercado.
Então, se o problema é o aumento do preço dos alimentos nós temos que ampliar a produção de alimentos, por um lado, e os patrões, que são uma grande parte de empresários, transferem a inflação para o salário dos trabalhadores. Aí poderá haver equilíbrio. E no ano que vem não se concede mais aumento e aí equilibra a inflação. Zero mata zero e volta à normalidade.
O PFL tem que ajudar a não atrapalhar e criar terrorismo na sociedade brasileira.
O SR. DEPUTADO DIRCEU DRESCH - Nós gostaríamos que de fato conseguíssemos aqui no estado uma política agrícola mais avançada...
(Discurso interrompido por término do horário regimental.)
(SEM REVISÃO DO ORADOR)