Pronunciamento

Antônio Aguiar - 039ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 12/05/2015
O SR. DEPUTADO ANTÔNIO AGUIAR - Sr. presidente, deputado Aldo Schneider, em exercício; srs. deputados, sras. deputadas, na condição de líder do PMDB hoje peço especial deferência para meu pronunciamento, se ultrapassar um pouco o tempo.
(Passa a ler.)
"Prezados colegas, família peemedebista, catarinenses:
Santa Catarina está de luto, ainda estamos vivendo o clima de comoção com a perda de nosso líder, o senador Luiz Henrique, tendo presente as imagens de Joinville veiculadas em todo o país, dos funerais de nosso ex-governador, com a presença da presidente Dilma Rousseff, de mais de 20 senadores da República, do mundo político catarinense, com as reverências de lideranças de todos os partidos, e especialmente da população.
Em vida Luiz Henrique sempre foi reconhecido e respeitado. A morte o consagrou como o maior político catarinense de nossa história recente. Até porque nos deixou no auge da carreira, com protagonismo no cenário nacional e sempre valorizado como ponto de equilíbrio do maior partido catarinense, interlocutor com ascendência em todas as siglas, exímio articulador, um verdadeiro ser político.
Vindo de família simples, com pai jornalista, ele mesmo um intelectual que se consagrou articulista de temas momentosos, o advogado que foi professor ainda jovem chegou à vida pública pelas mãos do nosso saudoso ex-governador, Pedro Ivo Campos, que viu em Luiz Henrique um quadro promissor para a política catarinense.
Luiz Henrique superou todas as expectativas, se elegendo deputado estadual, ocupando a liderança da bancada do então MDB, chegando à Câmara como deputado federal em Brasília, depois prefeito de nossa maior cidade, a Joinville que o adotou como dileto filho, e, daí em diante foi se mostrando um político com grande capacidade administrativa.
Ele foi partícipe em momentos na luta pela democracia, acompanhou Ulysses Guimarães como fiel discípulo na elaboração de nossa Constituição e chegou à Presidência nacional do PMDB, o que dá a exata dimensão de sua participação na vida partidária.
Foram 44 anos de mandatos sucessivos, de deputado estadual, cinco como deputado federal, três como prefeito da Manchester Catarinense, dois como governador, e agora desempenhava com brilhantismo a função de senador.
Falar de Luiz Henrique hoje é necessário, aqui nesta Assembleia onde iniciou sua carreira política, e quero abordar um aspecto particular de sua trajetória, que considero ser o momento marcante em que o homem público com uma trajetória vitoriosa, cada vez mais reconhecida, buscou a superação do improvável, reuniu coragem e se lançou candidato a governador em 2002, para de fato se transformar num mito.
Luiz Henrique renunciou a prefeitura de Joinville e decidiu cruzar Santa Catarina como o personagem Quixote de Cervantes, para saltar nas pesquisas de um patamar inicial de 2% de intenções de votos até os 30% que obteve no primeiro turno.
Andava pelas estradas de Santa Catarina com seu motorista Joãozinho numa caminhonete Blazer verde escuro, com um banco de ônibus adaptado para dormir entre um ponto e outro de seu roteiro de campanha.
Tinha uma pequena maleta com troca de roupas e dois travesseiros como bagagem. Nada de propaganda nas primeiras semanas.
O motorista dormia quando Luiz Henrique estava num palanque. E muitos foram os companheiros que precisaram arrumar combustível para abastecer aquele veículo, que era toda a estrutura de uma campanha desigual, e que ganhou corpo no segundo turno, quando ele acabou vitorioso, abrindo um novo ciclo da política em nosso estado.
Vou pedir o testemunho de meu mais experiente colega de bancada, Manoel Mota, para ele me confirmar como era pedir para abastecer aquela caminhonete, como acontecia lá em Araranguá no Posto Irmão da Estrada.
De fato, isso aconteceu em Canoinhas, no oeste, na serra, no alto Vale, num périplo que parecia sem fim, para levar uma proposta de mudança que foi ganhando a simpatia da população.
Luiz Henrique reconstruiu sua história a partir daquela eleição, apresentando uma proposta nova de governo e mostrando a disposição que foi sua marca, desde então, a de governar com o olhar para todas as regiões, e construindo alianças com a valorização de todos os que queriam mudar e projetar Santa Catarina.
Eduardo Pinho Moreira recorda os tempos em que chegou a Brasília, ainda moço, para exercer o mandato de deputado federal e teve no já experiente Luiz Henrique apoio para conhecer o Congresso. Em 2002, Eduardo foi desafiado por Luiz Henrique a formar uma dobrada peemedebista na chapa majoritária, que para ele era o início de um tempo de mudanças.
Naquela eleição, Leonel Pavan foi eleito senador e Ideli Salvatti ficou com a segunda vaga de Santa Catarina.
Luiz Henrique contou de forma decisiva com 130 mil votos de diferença no segundo turno em Joinville, cuja administração ficou a cargo de Marco Tebaldi, quando ele renunciou à prefeitura. E o articulador Luiz Henrique obteve o apoio de grande parte dos eleitores petistas que fizeram a onda Lula no segundo turno. Depois, para articular a base parlamentar na Assembleia, ajudou a conduzir Volnei Morastoni à Presidência de nosso Parlamento.
Luiz Henrique criou uma nova proposta administrativa com as secretarias de Desenvolvimento Regional. Assumiu o compromisso de garantir acesso pavimentado a todos os municípios.
Levou o governo para sua nova sede, o Centro Administrativo.
Governou sem discriminar adversários e mostrou habilidade para fazer a economia crescer.
Mostrou perseverança na articulação política e valorizou o Parlamento. Nenhum projeto do governo chegava a esta Casa sem que antes fosse submetido à base de governo, mas se depois de apresentado ao Legislativo surgissem boas propostas para aprimorar, era o primeiro a incentivar que essas fossem incorporadas.
Luiz Henrique da Silveira, também deixou marca em outra área, já desde os tempos de prefeito em Joinville, quando incentivou a criação do Festival de Dança.
Para a sua cidade ajudou, foi decisivo para viabilizar a instalação da primeira Escola do Balé Bolshoi fora da Rússia.
Incentivou a criação do Festival de Música em Jaraguá do Sul, o Femusc. Construiu um novo teatro em Florianópolis, o Teatro Pedro Ivo, junto ao Centro Administrativo.
Deu condições para várias cidades ganharem arenas multiusos e centros de convenções que estimulam a cultura e o esporte, bem como o mundo dos negócios e o intercâmbio profissional e científico.
Luiz Henrique da Silveira, sempre se destacou como um articulador no xadrez da política, também como um construtor de alianças possíveis. Foi o primeiro governador reeleito em Santa Catarina, e trouxe nosso hoje colega, deputado Leonel Pavan, para ser seu vice-governador e depois governador, aproximou Raimundo Colombo com sua eleição ao Senado, e abriu espaço para Raimundo Colombo chegar ao governo do estado. Saiu com o senador Paulo Bauer pelo estado pedindo o voto dobrado para o Senado. Trabalhou espaços para muitos outros políticos. Dário Berger, outro político de trajetória vitorioso diz que Luiz Henrique da Silveira era seu mestre.
Eu mesmo tive abertas as portas para voltar ao PMDB por Luiz Henrique da Silveira. E ele sempre fez o possível para me apoiar em minha representação do planalto norte.
Era um homem de muita energia e incansável!
Prezados colegas, enquanto governador, e mesmo adiante, quando se tornou senador da república, Luiz Henrique da Silveira, costumava manter a rotina incomum para um homem que já havia atingido o que se convencionou chamar como terceira idade: ele procurava sempre cumprir roteiros no interior a cada final de semana, visitando municípios de todas as regiões, marcando presença em atos e festividades até nas comunidades mais longínquas.
Há pouco mais de duas semanas, ainda tive a oportunidade de com ele dividir momentos de grande satisfação para a comunidade de Volta Grande, distrito de Rio Negrinho, onde estavam várias lideranças, colegas desta Assembleia Legislativa e o deputado federal Mauro Mariani, para celebrarmos, com Luiz Henrique da Silveira e o também senador Dário Berger, com o governador Raimundo Colombo a inauguração da pavimentação da estrada entre aquela localidade e a sede do município.
Naquele dia Luiz Henrique da Silveira ainda seguiria para outros compromissos, antes de ter o diagnóstico de uma fratura no pé que ocorrera antes do inicio do roteiro, quando em Joinville visitou um hospital e sofreu um acidente aparentemente pouco significativo ao torcer o pé num desnível do terreno. Só depois de confirmada a fratura é que assumiu o repouso que lhe foi recomendado.
Esse era Luiz Henrique da Silveira, sempre incansável, capaz de cochilar num pequeno deslocamento entre um e outro compromisso de sua agenda, para em seguida, na próxima parada, exibir um sorriso e estar sempre atento aos que dele se socorriam com pedidos e sugestões para ações que pudessem beneficiar suas comunidades, entidades e pessoas que precisavam de uma mão amiga sempre estendida e da ação de quem conhecia os caminhos para encontrar soluções possíveis, como são próprios somente de grandes políticos.
Luiz Henrique vai permanecer num patamar superior no panteão da política brasileira e será sempre lembrado pelos catarinenses como representante que fez por merecer e dignificar mandatos e representações que lhe foram confiadas.
Dizia que não pretendia mais disputar eleições e que cumpria seu último mandato eletivo. Mas estava sempre disposto a enfrentar desafios, como aconteceu em fevereiro, quando se colocou como candidato de um grupo de senadores, os chamados independentes, e lançou seu nome à disputa para a Presidência do Senado. Se for verdade que não ganhou aquela disputa, deixou a sensação de que seria imbatível numa próxima disputa, por sua postura íntegra, que reforçou a confiança e o respeito à ele dedicados pelos colegas da chamada Câmara Alta.
Tinha seu nome apontado como possível candidato a mais uma disputa pelo governo de Santa Catarina, como candidato natural do PMDB. Nunca confirmou disposição para essa empreitada, mas há quem garantisse ser esse um desafio possível, em se tratando de um ícone da política. Para muitos, no entanto, ele afirmava que estava perto de chegar a outro plano, de se ocupar apenas com a "netoterapia", tal o encanto que tinha por seus netos.
O infarto fulminante que tirou a vida de Luiz Henrique impediu o futuro de apontar qual o caminho do senador que era o grande articulador da política catarinense. Tirou de cena o político no auge de sua carreira, causou comoção, deixou um vazio em sua família, tornou os peemedebistas órfãos de seu grande líder, os líderes da política estadual perplexos e certos que o plano de entendimento desse momento trágico vai passar por um bom tempo de decantação dos arranjos e rearranjos que são próprios da atividade política.
Santa Catarina está ferida, a comunidade sente a perda de seu grande representante político, que lutava pelo estado e por sua gente, ainda com a imagem de Luiz Henrique presente e já com um vulto que se sobrepõe ao tempo, pairando com alguém que fez muito para dignificar a condição de homem público, que tanto precisamos como exemplo para as novas gerações.
Luiz Henrique foi sol para Santa Catarina, iluminando os catarinenses com sua forma de fazer política, com decisões não partidárias, sempre em favor do estado. Ele brilhou em vida, e certamente sua luz fica sobre sua família, a esposa dona Ivete, filhos e netos.
Luiz Henrique foi para outro plano, e que Deus o acolha! Para nós, fica seu exemplo e as saudades.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)