Pronunciamento
Ana Paula Lima - 001ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA
Em 09/03/2004
A SRA. DEPUTADA ANA PAULA LIMA - Sr. Presidente e Srs. Deputados, ontem foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Aqui agradeço a Bancada do PMDB, a Deputada Simone Schramm pelas flores ofertadas e pelos votos que recebi da Bancada do PT e da Presidência desta Casa. Aqui há três mulheres que fazem a diferença.
Sr. Presidente, não poderia ficar calada diante de algumas manifestações vindas do ano passado e que vem se acalorando durante este ano, denegrindo a imagem do Governo Lula.
Quero dizer às Bancadas que se dizem da Oposição que desde a época de Tomé de Souza eles nunca saíram do poder, sempre se alternaram. Desde a época em que o Brasil ainda era Capitania eles mandavam. Ficavam no poder.
Então, pela primeira vez um trabalhador, um homem eleito pelo povo, e vai fazer a diferença, está governando este País com muita seriedade e vai fazer as mudanças que nós queremos.
Para ser até mais precisa, Deputado Ronaldo Benedet, o Brasil vai fazer 504 anos. Será que os problemas do Brasil foram só do ano passado para cá? Será que foi Lula que deixou o Brasil com milhões e milhões de desempregados, de famintos e de excluídos? Será que um Presidente da República vai resolver o problema deste imenso Brasil em apenas um ano de mandato? Não! Vai ficar estes quatro anos e, se Deus quiser, vai se eleger, porque este é o Presidente que vai fazer as mudanças que queremos.
Eles deixaram sem dar respostas para os nossos povos. Se hoje tem desempregados foram eles que deixaram sem resposta.
O Lula veio e é o ícone dessas mudanças que irão acontecer no nosso País. O retrato da situação da mulher é o retrato que eles deixaram! É o retrato da sociedade que aí está!
Por isso que no dia 8 de março, como falou a Deputada Odete de Jesus, temos pouco a comemorar, muito pouco. Em 504 anos de história, pouca coisa se avançou.
Antes de nós, Deputada Odete de Jesus, várias mulheres saíram às ruas, perdendo até suas vidas para podermos estar sentadas hoje aqui na Assembléia Legislativa. E não pensem que vamos ficar só em três! Seremos milhões, porque a participação da mulher na política é imprescindível para fazer as mudanças que queremos.
O Presidente Lula já deu sinal dessas mudanças, pois instituiu um projeto de lei que determina o ano de 2004 como o Ano da Mulher. E várias ações e atividades estão previstas em todo o País para marcar essa homenagem. O Governo Lula também instituiu a Secretaria Nacional da Mulher para desenvolver as políticas específicas devido a força da mulher. São mudanças pequenas que estão acontecendo e se fazem necessárias.
Mas temos muito pouco a comemorar. No emprego, a realidade da mulher no mercado de trabalho no Brasil é uma das mais injustas do mundo. O desemprego feminino, por exemplo, foi de 18,3% enquanto o masculino 13,6%. Dos trabalhadores empregados, pesquisas revelam que 64,5% têm carteira assinada e somente 35,5% as mulheres são registradas.
Aí já começa a discriminação, através do emprego. No salário é a mesma coisa. Pesquisas da ONU indicam que os salários dos homens, às vezes exercendo a mesma função, chega a ser 200% maior do que o das mulheres. É uma vergonha! E com jornadas de trabalho idênticas. No trabalho! Porque em casa a mulher tem dupla jornada.
Na questão da pobreza, Deputada Odete de Jesus, dos um bilhão e 300 mil pessoas miseráveis do mundo 70% são mulheres, dados da ONU.
Ao mesmo tempo em que as mulheres executam 2/3 do trabalho realizado pela humanidade, recebem só 1/3 dos salários pagos no mundo. As mulheres são donas de apenas 1% dos bens imóveis do planeta, e olha que nós trabalhamos.
E por falar em violência, Srs. Deputados, é uma vergonha o que acontece no nosso País. O Departamento da Mulher, da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Santa Catarina, realizou uma pesquisa em novembro passado em 27 Municípios e revelou o seguinte: 48,28% das entrevistadas já foram vítimas de violência em casa - o agressor é sempre o marido ou o ex-marido. Apenas 28,57% denunciaram a violência. Daí o projeto de lei que no ano passado o Deputado Wilson Vieira e esta Deputada apresentaram e foi sancionado pelo Governador, projeto esse para construção e manutenção de casas às mulheres vítimas de violência.
Nos casos do chefe, é o principal responsável por 58% das respostas. Apenas uma em cada 10 mulheres vítimas de violência denunciou a situação ocorrida no trabalho. A maioria, 34.21%, preferiu apenas contar o ocorrido aos colegas de trabalho.
É uma vergonha o que acontece - a violência física contra a mulher e também a violência emocional. Porque quando não ganha a mulher com a palavra, eles ofendem a moral da mulher, Deputada Odete de Jesus. O que é mais vergonhoso ainda. Inclusive fui vítima disso em minha cidade.
Mas a grande conquista da mulher está sendo a mulher na política - pequena ainda. Apenas 9,6% são Vereadoras em nosso País; 2% são Prefeitas; Deputadas, muito poucas, Governadoras também.
Deputada Odete de Jesus, um Deputado catarinense, chamado Arão Rebelo, teve coragem, há mais ou menos 70 anos, de editar um discurso da seguinte forma - porque a mulher só tem direito à voz e ao voto faz pouco mais de 70 anos: "A mulher tem que ser a rainha do lar; a mulher tem que lavar e passar roupa; a mulher tem que cuidar dos filhos; a mulher tem que fazer comida..."
Graças a Deus esse Deputado catarinense, que nos envergonhou, foi vencido pelo voto, e hoje temos o direito de votar e sermos votadas. Graças a Deus!
Por isso, Deputada Odete de Jesus, a mulher não tem que dizer que é boa, ela tem que provar que é ótima em tudo o que faz, inclusive na política, e é por isso que V.Exa. ainda não tem sala aqui, porque se fosse homem já a teria.
A mulher às vezes tem que berrar para ser ouvida. E nós vamos usar essa tribuna para fazer essas denúncias contra a mulher.
Falando numa crônica sobre a mulher, Sr. Presidente, peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios; na medida da cintura; no volume dos lábios; nas pernas; bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso Colgate. Mulherão, dentro desse contexto, existem poucas: Vera Fischer, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.
Agora, pergunte, Deputado Ronaldo Benedet, o que é um mulherão para uma mulher e vai descobrir uma em cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir ao trabalho e dois para voltar e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome;
Mulherão é aquela que vai de madrugada para garantir a matrícula do filho na escola, é aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar pensão de um salário-mínimo;
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta e uma família todos os dias da semana;
Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento;
Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquila, que faz dieta, que malha, que usa salto, meia calça, ajeita o cabelo e perfuma-se, mesmo sem ser capa da revista;
Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca filhos na escola, leva os filhos na natação, busca filhos na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz;
Mulherão é aquela mãe de filho adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã, bem cedo, já está de pé, esquentando o leite;
Mulherão é aquela que leciona em troca daquele salário, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa para fora;
Mulherão é quem cria os filhos sozinha, é quem dá expediente de oito horas;
Mulherão é quem tem TPM e menopausa;
Mulherão, Srs. Deputados, é quem mata um leão por dia.
Parabéns a todas as mulheres.
Muito obrigada, Sr. Presidente!
(SEM REVISÃO DA ORADORA)
Sr. Presidente, não poderia ficar calada diante de algumas manifestações vindas do ano passado e que vem se acalorando durante este ano, denegrindo a imagem do Governo Lula.
Quero dizer às Bancadas que se dizem da Oposição que desde a época de Tomé de Souza eles nunca saíram do poder, sempre se alternaram. Desde a época em que o Brasil ainda era Capitania eles mandavam. Ficavam no poder.
Então, pela primeira vez um trabalhador, um homem eleito pelo povo, e vai fazer a diferença, está governando este País com muita seriedade e vai fazer as mudanças que nós queremos.
Para ser até mais precisa, Deputado Ronaldo Benedet, o Brasil vai fazer 504 anos. Será que os problemas do Brasil foram só do ano passado para cá? Será que foi Lula que deixou o Brasil com milhões e milhões de desempregados, de famintos e de excluídos? Será que um Presidente da República vai resolver o problema deste imenso Brasil em apenas um ano de mandato? Não! Vai ficar estes quatro anos e, se Deus quiser, vai se eleger, porque este é o Presidente que vai fazer as mudanças que queremos.
Eles deixaram sem dar respostas para os nossos povos. Se hoje tem desempregados foram eles que deixaram sem resposta.
O Lula veio e é o ícone dessas mudanças que irão acontecer no nosso País. O retrato da situação da mulher é o retrato que eles deixaram! É o retrato da sociedade que aí está!
Por isso que no dia 8 de março, como falou a Deputada Odete de Jesus, temos pouco a comemorar, muito pouco. Em 504 anos de história, pouca coisa se avançou.
Antes de nós, Deputada Odete de Jesus, várias mulheres saíram às ruas, perdendo até suas vidas para podermos estar sentadas hoje aqui na Assembléia Legislativa. E não pensem que vamos ficar só em três! Seremos milhões, porque a participação da mulher na política é imprescindível para fazer as mudanças que queremos.
O Presidente Lula já deu sinal dessas mudanças, pois instituiu um projeto de lei que determina o ano de 2004 como o Ano da Mulher. E várias ações e atividades estão previstas em todo o País para marcar essa homenagem. O Governo Lula também instituiu a Secretaria Nacional da Mulher para desenvolver as políticas específicas devido a força da mulher. São mudanças pequenas que estão acontecendo e se fazem necessárias.
Mas temos muito pouco a comemorar. No emprego, a realidade da mulher no mercado de trabalho no Brasil é uma das mais injustas do mundo. O desemprego feminino, por exemplo, foi de 18,3% enquanto o masculino 13,6%. Dos trabalhadores empregados, pesquisas revelam que 64,5% têm carteira assinada e somente 35,5% as mulheres são registradas.
Aí já começa a discriminação, através do emprego. No salário é a mesma coisa. Pesquisas da ONU indicam que os salários dos homens, às vezes exercendo a mesma função, chega a ser 200% maior do que o das mulheres. É uma vergonha! E com jornadas de trabalho idênticas. No trabalho! Porque em casa a mulher tem dupla jornada.
Na questão da pobreza, Deputada Odete de Jesus, dos um bilhão e 300 mil pessoas miseráveis do mundo 70% são mulheres, dados da ONU.
Ao mesmo tempo em que as mulheres executam 2/3 do trabalho realizado pela humanidade, recebem só 1/3 dos salários pagos no mundo. As mulheres são donas de apenas 1% dos bens imóveis do planeta, e olha que nós trabalhamos.
E por falar em violência, Srs. Deputados, é uma vergonha o que acontece no nosso País. O Departamento da Mulher, da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Santa Catarina, realizou uma pesquisa em novembro passado em 27 Municípios e revelou o seguinte: 48,28% das entrevistadas já foram vítimas de violência em casa - o agressor é sempre o marido ou o ex-marido. Apenas 28,57% denunciaram a violência. Daí o projeto de lei que no ano passado o Deputado Wilson Vieira e esta Deputada apresentaram e foi sancionado pelo Governador, projeto esse para construção e manutenção de casas às mulheres vítimas de violência.
Nos casos do chefe, é o principal responsável por 58% das respostas. Apenas uma em cada 10 mulheres vítimas de violência denunciou a situação ocorrida no trabalho. A maioria, 34.21%, preferiu apenas contar o ocorrido aos colegas de trabalho.
É uma vergonha o que acontece - a violência física contra a mulher e também a violência emocional. Porque quando não ganha a mulher com a palavra, eles ofendem a moral da mulher, Deputada Odete de Jesus. O que é mais vergonhoso ainda. Inclusive fui vítima disso em minha cidade.
Mas a grande conquista da mulher está sendo a mulher na política - pequena ainda. Apenas 9,6% são Vereadoras em nosso País; 2% são Prefeitas; Deputadas, muito poucas, Governadoras também.
Deputada Odete de Jesus, um Deputado catarinense, chamado Arão Rebelo, teve coragem, há mais ou menos 70 anos, de editar um discurso da seguinte forma - porque a mulher só tem direito à voz e ao voto faz pouco mais de 70 anos: "A mulher tem que ser a rainha do lar; a mulher tem que lavar e passar roupa; a mulher tem que cuidar dos filhos; a mulher tem que fazer comida..."
Graças a Deus esse Deputado catarinense, que nos envergonhou, foi vencido pelo voto, e hoje temos o direito de votar e sermos votadas. Graças a Deus!
Por isso, Deputada Odete de Jesus, a mulher não tem que dizer que é boa, ela tem que provar que é ótima em tudo o que faz, inclusive na política, e é por isso que V.Exa. ainda não tem sala aqui, porque se fosse homem já a teria.
A mulher às vezes tem que berrar para ser ouvida. E nós vamos usar essa tribuna para fazer essas denúncias contra a mulher.
Falando numa crônica sobre a mulher, Sr. Presidente, peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios; na medida da cintura; no volume dos lábios; nas pernas; bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso Colgate. Mulherão, dentro desse contexto, existem poucas: Vera Fischer, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.
Agora, pergunte, Deputado Ronaldo Benedet, o que é um mulherão para uma mulher e vai descobrir uma em cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir ao trabalho e dois para voltar e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome;
Mulherão é aquela que vai de madrugada para garantir a matrícula do filho na escola, é aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar pensão de um salário-mínimo;
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta e uma família todos os dias da semana;
Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento;
Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquila, que faz dieta, que malha, que usa salto, meia calça, ajeita o cabelo e perfuma-se, mesmo sem ser capa da revista;
Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca filhos na escola, leva os filhos na natação, busca filhos na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz;
Mulherão é aquela mãe de filho adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã, bem cedo, já está de pé, esquentando o leite;
Mulherão é aquela que leciona em troca daquele salário, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa para fora;
Mulherão é quem cria os filhos sozinha, é quem dá expediente de oito horas;
Mulherão é quem tem TPM e menopausa;
Mulherão, Srs. Deputados, é quem mata um leão por dia.
Parabéns a todas as mulheres.
Muito obrigada, Sr. Presidente!
(SEM REVISÃO DA ORADORA)