Pronunciamento

Ada De Luca - 081ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 22/10/2008
A SRA. DEPUTADA ADA DE LUCA - Sr. presidente, colegas deputados, público que nos acompanha pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital.
(Passa a ler.)
"O assunto que trago hoje a esta tribuna chega ao lar de cada um dos senhores e de toda a nação brasileira todos os dias, e não adianta trocar de canal. A violência tem sido o principal produto oferecido pelos meios de comunicação praticamente nos enfiando goela abaixo, seja nas notícias do dia-a-dia que até têm o seu fundo e a população precisa tomar conhecimento, seja nos momentos de lazer em frente à televisão. Esse é o grande perigo! Essa exposição constante e muitas vezes até irresponsável à violência é que me preocupa muito e, tenho certeza, todos os pais, avós e educadores e a nós, políticos, que temos responsabilidade com o futuro.
Na última semana acompanhamos pelos telejornais o drama de duas jovens que passaram quase uma semana na mira da arma de um rapaz, um ex-namorado de uma delas, que se transformou em criminoso. Todos sabem que acabou em tragédia! Sem entrar no mérito do fato em si, preocupa-me o que teria influenciado aquele jovem a manter duas jovens, moças que ele conhecia, tinha intimidade, em cárcere privado sob a mira de um revólver sem pensar nas conseqüências daquele ato.
Agora, esta semana, assistimos a um caso envolvendo o assassinato do dono de uma poderosa rede de supermercados do Rio de Janeiro, Arthur Sendas, dentro do seu apartamento. Foi outro ato de brutalidade imensa contra uma vítima sem defesa, mesmo sendo um poderoso cidadão. Tenho certeza, nobre colegas, de que tem muito a ver com as novelas, que são exemplos neste país.
Quero chamar a atenção para outro fato que a mídia nos mostrou há algumas semanas, só no âmbito das novelas. Uma telenovela exibiu, em horário nobre, o enredo do seqüestro de uma jovem tramado com a participação da própria mãe. Camuflada de vítima, a autora do crime hediondo ficou impune. Isso é um absurdo! Mas a história ainda não chegou ao final e enquanto perdura a situação, só se vê maus exemplos à sociedade, que se espelha nesses seriados de grande audiência.
Acredito, companheiros, que tramas desse tipo, sem punição de culpados, tem servido, sim, de incentivo para a ficção ganhar forma no mundo real. Não venham dizer-me os autores, como já escutei alguns deputados federais debaterem isso na Câmara Federal, que eles imitam a vida, imitam o que tem de podre na sociedade. Não venham dizer-me isso, porque cabe a eles, aí, sim, com a sua capacidade, com a sua inteligência, com a sua cultura, escrever novelas que dêem bons exemplos, que tragam felicidade, que tragam cultura, e não formar mais discípulos para o crime, ensinando técnicas de como roubar, matar, chantagear e outras barbaridades.
Enfim, as cenas de violência na televisão são cada vez mais freqüentes, nos canais abertos e em todos os horários. O que já recheava a programação televisiva através dos produtos de conteúdo policial e sensacionalista, tornou-se um ingrediente indispensável nas tramas da teledramaturgia. Isso é um absurdo! Isso é apavorante e é muito preocupante para todas as famílias, não só as catarinenses, mas para as famílias do país inteiro.
Considero uma atitude irresponsável essa quase promoção diária da violência feita pelos autores de novela. A televisão transformou o comportamento reprovável, a violência e a impunidade em uma estratégia de mercado que tem feito a sociedade perder a capacidade de ficar perplexa, chocar-se. Está virando normalidade, ou seja, é a banalização da violência. As novelas criam e apresentam um mundo no qual por pior que seja o personagem, ele acaba bem, impune. Isso é um péssimo exemplo!
Relacionei o assassinato de um poderoso empresário e o trágico seqüestro das jovens ao seqüestro da novela para chamar a atenção de v.exas. e da sociedade para avaliarmos o quanto a violência está entrando em nossos lares todos os dias pela televisão, assim como na vida dos nossos jovens, crianças e até de adultos desesperados.
Com o mesmo objetivo, encaminharei uma moção de repúdio à exposição e ao excesso de violência nas programações às redes nacionais de televisão e ao ministério das Comunicações. Peço que todos os colegas assinem esse protesto porque nós temos que preparar o futuro. A televisão pode e deve, sim, cumprir sua função social com responsabilidade ao abordar esses temas, sem conduzir a sociedade, muitas vezes, por um caminho sem volta.
Não podemos ficar inertes, atônitos, sem ação diante de uma escala crescente da violência que entra em nossas casas todos os dias sem pedir licença. Quem passa por uma situação dessas vive um drama intenso, o trauma muitas vezes se torna insuperável, isso quando a conseqüência não são a tragédia e a desgraça.
Nós não podemos ficar em silêncio. Nosso dever é protestar contra esses mestres que escrevem esse tipo de novela. Quem vê novela sabe do que estou falando. As poucas vezes que tive a oportunidade de assistir, fiquei apavorada. A inteligência, volto a repetir, e a criatividade deles devem ser canalizadas para a cultura e para o bom exemplo.
Eu espero que a sociedade reaja, pois propagar a violência não é uma boa estratégia, mesmo que seja apenas na ficção. Somos, todos, parlamentares e sociedade, responsáveis pelo futuro de nossos jovens e de nossas crianças. Não podemos deixar que os valores sejam ainda mais deteriorados."
Muito obrigada!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)