Pronunciamento

Ada De Luca - 118ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 17/12/2014
A SRA. DEPUTADA ANGELA ALBINO - Sr. presidente, fiquei pensando se devia, inclusive, assomar à tribuna nesse propósito, pois temos trabalhadores do Judiciário, os agentes de trânsito, que certamente estão mais interessados em que discutamos as grandes questões do que ouvir essa passarela de despedidas. Mas vou pedir a generosidade de todos os presentes aqui hoje porque me sinto na obrigação de fato de fazer essa despedida em meu nome, da história do ciclo da minha vida que se encerra agora, mas particularmente em nome do Partido Comunista do Brasil.
Não estou apenas encerrando este mandato de deputada estadual, estou encerrando o primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Santa Catarina do PCdoB. Em 2010 foi a primeira vez que um de nós pode estar aqui, porque temos a absoluta clareza de saber que jamais seria eleita se não fosse o trabalho o esforço, a construção de muitas pessoas ao longo de muito tempo.
Quero destacar, na figura de João Ghizoni e do Jucelio Paladini, grandes construtores e organizadores do Partido Comunista do Brasil, aqui, em Santa Catarina, a responsabilidade para termos chego ao tamanho que chegamos. No ano de 2010, o PCdoB fez 57 mil votos para deputado federal e quase 33 mil para deputado estadual comigo, e 16 mil votos com o Valduga, em Chapecó. Neste ano, fizemos quase 90 mil votos para deputado federal e quase 60 mil votos para deputado estadual, com dez candidaturas do meu partido para este espaço.
A partir do ano que vem vocês contam com novo colega, Cesar Valduga, que vem das lutas sociais, da luta do povo, do oeste catarinense. E foi uma decisão que o meu partido tomou, mas que eu tenho a alegria de ter anunciado já no dia que me elegi, no ano de 2010. Era preciso que nós tivéssemos outros momentos, que nós pudéssemos abrir outros espaços e outras pessoas pudessem estar aqui. Eu tenho certeza de que tomamos a estratégia certa.
Quando eu entrei aqui, sr. presidente, diferentemente de alguns de vocês, que já possuem uma história de bancada, a minha equipe, a minha turma, na verdade, amigos e companheiros de mandato, não sabíamos nem onde pegar um clips ou como pedir uma resma de papel. Nós nãos sabíamos nada disso, nem eu nem nenhum dos que trabalhavam comigo. Por isso, sou muito grata à minha equipe que nesses anos todos construímos uma brincadeira no gabinete, que chamamos de equipe coesa e linda, porque, além de tudo, somos modestos. Uma equipe que sabe o valor do trabalho em conjunto. Uma equipe que travou muitas batalhas e me lembro disso numa frase de Darci Ribeiro, que gosto muito: (Passa a ler.)
"Na verdade, somei mais fracassos do que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ficar ao lado dos que nos venceram nessas batalhas."
Tenho mais orgulho, senhoras e senhores, das batalhas que perdi do que talvez das que ganhei. É glorioso às vezes ficar da parte dos que perderam, porque estavam na parte dos justos, estava ao lado do que era bom e do que era certo.
E tenho a convicção de que o nosso mandato sai maior do que entrou. O PCdoB sai maior do que entrou. Para construir isso nós tivemos - e aí falar como servidora pública - o imenso apoio, o carinho, gesto de generosidade dos servidores desta Casa, que passa pelo pessoal que trabalha na guarda, nas comissões, na comunicação, os amigos que fiz ao longo desse período, mas passa também pelos servidores mais graduados e pelos servidores mais simples, que servem o melhor cafezinho que um parlamentar pode receber nesta Casa. A todos eles, a todas elas, a minha mais profunda gratidão.
Tenho convicção de que as batalhas que nós perdemos são batalhas que o tempo há de fazer ganhar; como outras, que estamos travando ainda hoje. É a luta de uma vida, não é uma luta de um mandato apenas. Portanto, para nós, é hora de despedida porque o novo pede passagem, e o PCdoB se prepara para o novo, para um novo momento. Eu queria aproveitar para agradecer também a generosidade de vários parlamentares que ao longo do tempo fomos conhecendo, fomos pegando amizade, mais respeito político. Saio daqui com grandes divergências, briguei com vários, mas sempre na tribuna, sempre com debate franco, nunca fora dela. Com todos os parlamentares tenho uma relação fraterna, de amizade, permitam-me alguns, em particular. Falei, hoje, para deputada Ana Paula Lima da alegria que tenho de tê-la conhecido pessoalmente. Deputado Darci de Matos, que tantas vezes brigamos em comissões, mas sempre foi um amigo muito generoso no cotidiano da Casa. Deputado Gelson Merisio, quando foi presidente da Casa. Deputado Joares Ponticelli, presidente da Assmebleia e vários de vocês que tive a oportunidade de conviver e entender melhor e compreender. Saímos todos mais amadurecidos, nós, do PCdoB, maiores do que entramos. Saímos todos convictos que é preciso luta.
Este espaço para nós é um pedaço do que precisa fazer. Este espaço onde vocês estão é o espaço do grande protagonismo, é de quem não desiste, de quem está sempre pronto para a luta.
Para nós do PCdoB não muda se nós temos ou não mandato. Por isso, inclusive, corri o risco de não me candidatar à reeleição, porque era preciso abrir para o novo, e é preciso que o novo venha. Às vezes, esse novo inclui que a gente tenha novos papéis.
E, hoje, no relato emocionado do deputado Reno Caramori, vi um homem de bigode, firme, chorar nesta tribuna porque se despedia daqui. E há uma perda, de fato, na convivência, do dia a dia, por mais que estejamos sempre nas mesmas lutas, vamos nos ver menos.
Agradeço, profundamente, às categorias que me deram a honra de representá-las, muito particularmente, às mulheres. Perdoem-me as deputadas Ana Paula Lima e Ada Faraco De Luca, que estão aqui presentes, mas fui a parlamentar que mais apresentou projetos relativos às mulheres nesta legislatura. Isso é um grande motivo de orgulho.
Também agradeço a população LGBT do nosso estado, que tantas vezes nos procurou e tantas vezes encaminhamos, com vitórias e fracassos, suas demandas. Agradeço particularmente aos servidores, que sempre tiveram no nosso mandato o acolhimento nas questões que envolvem o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento econômico sustentável do nosso estado. Para mim e para nós do PCdoB foi uma grande escola. Tenho convicção de que o Valduga há de fazer um mandato ainda melhor, porque agora, sr. presidente, já sabemos onde se pega o clips, onde se pega a resma de papel, e sabemos também que podemos contar com muitas pessoas aqui desta Casa, volto a dizer, dos funcionários mais graduados até os deputados mais simples, dos servidores mais graduados até os servidores mais simples, porque também há deputados mais graduados e os mais simples aqui.
E de todos eles, não levo qualquer rastro de mágoa, levo alegria e certeza do caminho que estamos; levo convicção de que o tempo nos exige uma postura política diferente e nos exige rever vários conceitos e várias pontes que nós já construímos, mas é preciso construir outras ainda mais importantes. Das muitas coisas que nós erramos, torço que o tempo seja generoso e também relembre a história que muitos dos nossos erros foi porque nenhum de nós do PCdoB sabia o que era estar nesta tribuna.
E lembro, sr. presidente, da primeira vez, ainda como cidadã, que tive a oportunidade de usar a tribuna, da imensidão que é estar aqui, o quão intimidativo, às vezes, é, deputada Ana Paula Lima! Mas ao longo dos anos a gente vai se acostumando com este espaço, que é grandioso, e o povo catarinense espera muito de nós. Tenho certeza de que, volto a dizer, vocês vão gostar do Valduga e que ele há de fazer um mandato melhor que o meu. Desta Casa, vou levar muito carinho, afeto e aprendizado.
Quero concluir, sr. presidente, com uma frase da Olga Prestes, de quem gosto muito. Quando já estava presa, no caminho da morte, ela escreveu: "Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terás do que te envergonhar de mim".
Muito obrigada pelos anos de convivência neste Parlamento, mas muito particularmente, à minha equipe.
Muito obrigada!
(Palmas)
(SEM REVISÃO DA ORADORA)