Pronunciamento

Ada De Luca - 012ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 03/03/2010
A SRA. DEPUTADA ADA DE LUCA - Sr. presidente, sras. deputadas, srs. deputados, público que nos acompanha pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital, hoje vou DEPUTADA ADA DE LUCA. Como na segunda-feira não teremos sessão, estou-me antecipando.
(Passa a ler.)
"No Brasil, o voto é um direito universal e obrigatório a todo cidadão maior de 18 anos. Mas nem sempre foi assim. Em 1822 só votavam os homens brancos e ricos, os pobres e negros não tinham esse direito e as mulheres, então, nem pensar. Apesar de parecer uma luta distante, as mulheres só conquistaram o direito de votar em 1932.
Deputada Professora Odete de Jesus, foi nos anos 80 que as mulheres brasileiras aumentaram a sua participação na política, mas continuaram aparecendo em número muito menor que a média mundial. A política de cotas, que veio mais recentemente estabelecendo mecanismos de reserva de vagas para ambos os sexos, buscava combater a exclusão das mulheres na política e alcançar um equilíbrio na distribuição das cadeiras entre homens e mulheres. Mas o ritmo de redução da diferença na representação entre homens e mulheres ainda, amigas e companheiras, anda a passos lentos, muito lentos.
Em 2004, as mulheres representavam 22,13% do total de candidatos a vereador. Foram eleitas 6.555 mulheres. Nas eleições do ano passado, as mulheres representaram 22,07% do total de candidatos a vereador. Foram eleitas 6.508 mulheres. Uma diminuição de quase 1% tanto no percentual das candidaturas femininas quanto da eleição de mulheres. É um retrocesso, infelizmente!"
O dia 8 de março é para festejar, sim, mas festejos que tragam esse assunto, festejos que venham, literalmente, trazer uma reflexão sobre como a participação da mulher na vida política está diminuindo.
(Continua lendo.)
"São inúmeros os motivos que levam as mulheres a desistir de ser candidatas pelos seus partidos: a família, o machismo político, a batalha diária que têm que travar, principalmente quando eleitas, porque antes de ser eleita toda mulher presta, inclusive para entregar santinho, fazer reunião e arrumar as bolachinhas, mas para ser votada não. E depois de ser eleita, ser respeitada não é fácil. Também lhes são cobradas todas as outras atividades dentro dos seus lares, sejam elas de esposa, de mãe, de profissional, de avó, de irmã. Aos homens, não, porque estão trabalhando. Nós estamos fazendo o quê?
Esses, portanto, são motivos que me fazem até compreender e concordar com a resistência feminina em entrar na vida pública, mas não podemos desanimar, não podemos desistir, temos que enfrentar as batalhas. Algumas ainda dão a cara a tapa, enchem-se de coragem e encaram a missão de conquistar mais espaços.
Como vice-presidente do meu partido, o PMDB, quero destacar a coragem das mulheres peemedebistas que enfrentaram as urnas nas últimas eleições. Com muita luta, derrubando tabus e preconceitos, que todas nós conhecemos muito bem, várias conquistaram seu espaço.
Meu partido, o PMDB, de tradição democrática, tem 81 vereadoras. Das 114 prefeituras que o PMDB administra, cinco são comandadas por mulheres. Dos 80 vice-prefeitos, também cinco são mulheres, que encontraram em mim, primeira deputada eleita pelo partido, uma parceira de luta.
Nós, mulheres que temos cargos eletivos, temos de ter como missão acabar com o preconceito contra nós mesmas. Esse é um ponto fundamental ainda a ser discutido, principalmente neste 8 de março. Acabar com o conceito de que política é coisa de homem e, consequentemente, não valorizar a nossa própria participação; garantir uma maior representação feminina na política, que é, no mínimo, uma medida de aperfeiçoamento da democracia pela qual tanto as mulheres lutaram; conquistar o financiamento público de campanhas eleitorais, com a destinação, por parte dos partidos, de 50% do fundo partidário para promoção e participação das mulheres na política; conseguir ocupar 50% dos espaços nos diretórios municipais e regionais e, principalmente, 50% das vagas a serem ocupadas na Câmara Federal, no Senado, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais.
Com esse histórico breve da nossa participação na política, quero adiantar desta tribuna minha homenagem ao Dia Internacional da Mulher, que será comemorado na próxima segunda-feira.
O assunto certamente estará na imprensa, nas rodas de conversa, nos debates acadêmicos, nas campanhas publicitárias que acontecem todos os anos. Mas as discussões acabam caindo no vazio. É como enxugar gelo. É muita conversa e pouco resultado prático.
Por isso, conclamo que nesta data cada um e cada uma façam uma reflexão do seu papel nessa luta. Os homens estão, sim, aceitando e contribuindo para uma maior participação das mulheres, mas precisamos muito mais ainda. Nós, mulheres, temos que ter a consciência desse nosso importante papel na sociedade, principalmente, caras deputadas e companheiras, neste milênio.
Para construirmos uma sociedade voltada para a idéia de paridade, é preciso participar dessa luta para democratizar o poder, é necessário e urgente mudá-lo internamente.
Uma frase que define muito bem, mas muito bem, o avanço que as mulheres buscam na sociedade é a de um filósofo francês, Gilles Lipovetsky, que diz: 'O homem não foi derrotado. A mulher é que está encontrando seu espaço. E sozinha. Sem proteção nem briga'."
Muito obrigada!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)