Pronunciamento

Jean Kuhlmann - 014ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 11/03/2009
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, deputado José Natal, eu não iria utilizar a tribuna para falar sobre esse assunto, mas não posso me calar, nesta tarde, a respeito desse assunto.
Enquanto algumas pessoas estavam no ar-condicionado na época da catástrofe, estavam em outros municípios, eu estava em Blumenau. E lá, deputado José Natal, acompanhei a chegada dos mantimentos à Vila Germânica; eram toneladas e toneladas de alimentos. Acompanhei os caminhões serem descarregados, deputado Serafim Venzon. E lá observei que até em alguns casos, sr. presidente, algumas empresas, inclusive, deputado Ismael dos Santos, mandavam carretas e carretas de leite. E muitas vezes descarregavam leite que faltavam cinco, seis ou sete dias para vencer. E a prefeitura iria fazer o quê? Negar-se a receber o alimento? A prefeitura teria que montar uma logística muito violenta para dar conta de tudo. Agora, negar-se a receber o alimento não era a solução.
No entanto, hoje, alguém vem aqui reclamar de que a prefeitura resolveu tirar o alimento que estava vencido, para não dar o alimento vencido para a população. E essa mesma pessoa usou a tribuna para reclamar, srs. parlamentares, que foram doadas roupas para prefeituras que pediram roupas. Prefeituras do interior, prefeituras de outras cidades, pediram doação de roupas. E foi reclamado que a prefeitura fez a doação para aqueles municípios.
Como pode essa pessoa ter a coragem, hoje, de vir usar a tribuna para reclamar que a prefeitura eliminou um alimento que estava vencido, por orientação da Vigilância Sanitária? Quer dizer, se o prefeito aceitar um alimento que tem cinco ou seis dias para vencer, ele é ruim; se o prefeito der um alimento, que está vencido, para o povo, ele é incompetente. Então, o que ele faz? Ele segue a orientação da Vigilância Sanitária. Qual dos senhores se negaria a receber um alimento, mesmo que tivesse cinco ou dez dias para vencer? Ninguém negaria, tenho certeza absoluta disso.
O Sr. Deputado José Natal - V.Exa. me permite um aparte?
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Pois não!
O Sr. Deputado José Natal - Na sua linha de raciocínio, tenho certeza absoluta de que não podemos admitir que se coloque fora. A demanda de Blumenau e em outros municípios já não é o que era, realmente, na questão das pessoas que precisavam.
Então, Santa Catarina, num ato de responsabilidade administrativa, política, tem que aceitar. Porque tenho certeza de que, se o prefeito da sua cidade for doar por condição aleatória, vai ser malhado também pela deputada, pela imprensa, porque a imprensa só vive de notícia ruim, lamentavelmente.
Portanto, a solução de imediato é ter bom senso e doar para creche, para famílias. Inclusive, a deputada acabou de dizer que existem famílias no Brasil e no mundo inteiro com fome.
Reitero que eu sabia que isso iria acontecer. Na primeira semana, muita gente foi lá para fazer média querendo ajudar, para aparecer na mídia, muitos, em todos os níveis, exceto alguns casos. Mas 90% de alguns que lá estiveram foram para aparecer na mídia, depois abandonaram, e aquela prefeitura e tantas outras não teriam, e não têm, logística para fazer tudo na conformidade.
Mas, vamos doar para quem precisa, que ainda há tempo, independente de ser um cidadão comum, independente de ser uma entidade sem fim lucrativo.
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Deputado José Natal, eu quero agradecer o seu aparte e dizer que realmente na hora do pega-pra-capar, na hora em que a coisa está quente com todos na angústia, aí todo mundo ajuda. Passou essa hora, cada um cuida da sua vida e deixa a prefeitura estourar-se, arrebentar-se.
Acho que esse não é o tema e não é o momento de vir aqui fazer política em cima de um assunto desses, tentando denegrir a imagem de pessoas. Nós temos que nos preocupar justamente em buscar mais arrecadação não de alimentos, mas de donativos, deputado Ismael dos Santos, para a construção de casas, para recuperar a vida de quem perdeu boa parte da sua vida, daquilo que levou a vida toda para adquirir.
Então, se nós ficarmos utilizando esta tribuna para fazer discurso político, para denegrir imagem em cima de uma ação que foi pedida pela Vigilância Sanitária, quem vai acabar ajudando nas outras questões que tanto ainda precisa o vale do Itajaí e Santa Catarina?
Tomara, tomara que isso não sirva de desculpa para algumas pessoas que não querem ajudar, ou seja, usar esse motivo para jamais ajudar o nosso estado catarinense.
O Sr. Deputado Ismael dos Santos - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Pois não!
O Sr. Deputado Ismael dos Santos - Deputado Jean Kuhlmann, na verdade na época da catástrofe, não como deputado, mas como cidadão comum, embarquei na garupa de uma motocross e durante uma semana fiquei rodando pela cidade de Blumenau conhecendo de perto as necessidades.
Eu lembro que, num determinado momento, encontrei-me com o prefeito e ele disse: "Eu não sei mais o que fazer, não consigo logística para descarregar os caminhões. Acho que vou pedir para que não venham mais caminhões para Blumenau". Eu respondi: não faça isso, não faça isso.
Quando a deputada Ana Paula Lima coloca que ainda há 200 toneladas de donativos, eu acho que nós temos que encontrar uma solução. E aí, estou na linha do deputado José Natal. Há o morro do Artur, o morro do Hadlich, o morro da Figueira. Vamos subir os morros e alimentar essa população, que certamente o Brasil vai agradecer.
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Eu tenho certeza, deputado Ismael dos Santos, que essa população está atendida, e foi atendida por abrigos e pela assistência social. Na cidade de Blumenau, as comunidades, as famílias e todos os que precisam estão cadastrados na assistência social. E a assistência social do município vem fazendo um trabalho exemplar.
Eu quero aqui parabenizar o secretário Mário Hildebrandt, pois tenho certeza de que em nenhum momento a assistência social de Blumenau deixou de atender a uma família que precisava.
A grande questão efetiva, deputado José Natal, é a quantidade de alimentos que existem e a forma de distribuição. Se houve erro, o erro tem que ser corrigido, e tem que ser buscada a solução.
Agora, nós não podemos, e é isso o que eu quero insistir nesta tarde, aqui, assomar à tribuna, fazer um discurso político e simplesmente jogar um problema e fazer política em cima disso, porque aí nós estaremos inibindo pessoas a ajudar a nossa cidade. E quem vai ser prejudicado, deputado Ismael dos Santos? Justamente aquelas pessoas que precisam do donativo para as suas casas, para reconstruir a sua vida e a sua família.
Por isso é importante que nós tenhamos uma posição pró-ativa e não uma posição apenas destrutiva nesta Casa.
A Sra. Deputada Ana Paula Lima - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Pois não! Só peço, deputada Ana Paula Lima, que deixe dois minutos no final para eu poder terminar o meu pronunciamento.
A Sra. Deputada Ana Paula Lima - Certamente! Obrigada pela sua gentileza. Gostaria de pedir inclusive a sua ajuda e dos demais parlamentares da nossa região para que possamos, de uma vez por todas, resolver esse problema, porque eu não quero que essas 200 toneladas de alimentos que eu estou falando, que a imprensa falou sejam colocadas no lixo, deputado Jean Kuhlmann.
Eu também quero informar a v.exa., que faz parte do partido que governa a cidade de Blumenau, que enquanto há leite sendo jogado no lixo, a secretaria de Assistência Social, da Criança e do Adolescente está comprando alimentos para dar a cesta básica. Por que não utiliza aqueles que estão no galpão? É uma sugestão que eu faço para este governo.
Quero dizer também, deputado Jean Kuhlmann, que enquanto v.exa dormia, do dia 22 de novembro para o dia 23, eu estava de plantão na prefeitura para ajudar.
Muito obrigada!
O SR. DEPUTADO JEAN KUHLMANN - Nobre deputada Ana Paula Lima, quem pode dizer que eu dormia é a minha esposa, se ela estava do meu lado, mais ninguém.
Então, eu peço que esse discurso político não se torne algo pessoal, porque, parlamentares, se nós começarmos a assomar à tribuna, deputado Cesar Souza Júnior, para falar da vida pessoal de outro parlamentar, não seria um ato que o cidadão catarinense aprovaria e não estaríamos dessa forma construindo um Parlamento exemplar para o país.
Espero realmente que nós não venhamos para cá para falar da questão pessoal de cada um, deputada Ana Paula Lima. Se v.exa. quiser fazer uma acusação, comprove e não apenas faça demagogia.
Mas quero aqui dizer, srs. parlamentares, que nós temos que construir as soluções. Se há dúvidas de que a Semascri está utilizando os alimentos, ela está, e eu sou prova disso, tanto é que nós, na época da catástrofe, ajudamos a montar as cestas básicas e a entregá-las. Como voluntário, com botas nos pés, trabalhei e levei nas comunidades que estavam isoladas a comida, bem como outras pessoas fizeram isso, pessoas que não são políticos, mas cidadãos. Assim como o deputado Ismael dos Santos falou aqui, eu estava lá como cidadão, trabalhando.
Então, se cada um de nós fizer um pouquinho, se cada um de nós ajudar na reconstrução, vai ser muito melhor. Se há um erro, o erro tem que ser denunciado. Agora, não adianta jogar palavras ao vento e vir aqui contar estórias porque também não é assim que se faz. Nós temos que construir uma cidade mais justa, uma cidade melhor e pedir, srs. parlamentares e sras. parlamentares, para que cada brasileiro continue contribuindo, porque precisamos reconstruir a vida de quem perdeu tudo nessa catástrofe, assim como o prefeito João Paulo Kleinübing vem fazendo, com um grande trabalho e dando o exemplo para este estado maravilhoso.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)