Pronunciamento
Fernando Coruja - 069ª SESSÃO ORDINÁRIA
Em 25/08/2015
O SR. DEPUTADO FERNANDO CORUJA - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, se o deputado Gabriel Ribeiro me permite falar em nome dos lageanos, quero cumprimentar a cidade de Chapecó, Luzerna, Herval d'Oeste e Joaçaba. Chapecó faz 98 anos, e nós, lageanos, vamos fazer 250, já estamos mais velhos e nosso Inter ainda não chegou na série A, mas já está na série D.
Sr. presidente, srs. parlamentares, nós temos no Brasil um programa de saúde chamado Mais Médicos e agora o governo acena com a possibilidade de outro programa chamado Mais Especialidades. Ao fazer o decreto que trata das especialidades o governo simplificou e disse que para ser especialista basta apenas uma carga horária de 250 horas.
Evidentemente que precisamos de mais atendimento qualificado na área médica. Mas esses programas que o governo quer criar, na verdade, não são de mais médicos, são de mais pessoas formadas em Medicina; como não é o programa de mais especialidades, mas de mais pessoas com o título de especialista. Isso não basta, e o deputado Dalmo Claro sabe bem disso.
Não basta ter mais médicos formados que não atendam o papel fundamental do médico que é contribuir para a melhoria da saúde pública.
Eu digo e repito que apenas um médico formado com um receituário nas mãos, sem a devida formação para ser de verdade um médico, é um perigo à sociedade. Ele não serve para melhorar a saúde da população. Muitas vezes é um médico recém-formado, formado por uma faculdade não qualificada adequadamente e que vai servir como um instrumento para aumentar o custo da Medicina e para repetir procedimentos estimulados por uma indústria farmacêutica, que leva a Medicina para uma situação hoje muito comercial.
Eu começo falando isso porque a atividade médica é uma atividade diferenciada de outras profissões. Em todas as profissões você precisa ter certo amor, certa qualificação pessoal para atender e exercer essa profissão, em qualquer profissão, está aí, para confirmar isso, a deputada Luciane Carminatti, que é professora. A atividade médica, evidentemente, também precisa, porque ela lida com a vida numa situação especial.
Então, ser médico é uma situação diferente. Ser médico é diferente de ser formado em medicina; ser um especialista numa área é diferente de ter um título de especialista. A medicina exige muito mais do que isso. Hoje, a grande dificuldade que se tem é a falta de médicos, no stricto sensu da palavra, que possam resolver os problemas da comunidade em bairros, médicos de famílias que possam resolver.
Nós temos muitas pessoas formadas em medicina que não são médicos, no verdadeiro sentido da palavra, que estão na faculdade já pensando como vão ter uma atividade que vai dar mais rendimentos no futuro, que vai lhe dar mais condição social. E a atividade médica exige outra coisa!
Eu lembrei disso, de fazer uma análise, porque na semana passada, faleceu em Santa Catarina um médico, no stricto sensu da palavra, dr. Ernesto Damerau. O dr. Ernesto Damerau, um cirurgião, e provavelmente a maioria dos médicos formados na UFSC tiveram a oportunidade de ser seus alunos, como o deputado Dalmo Claro, tinha todas as características que precisa ter um médico de verdade. Uma pessoa de uma qualificação técnica excepcional. Posso dizer aqui sem medo de errar: ele era o melhor cirurgião que eu conheço, geral, que Santa Catarina formou até este momento.
Tinha um relacionamento humano, era um médico humanista muito diferenciado, alguém que tinha uma relação com o cliente, com o paciente, com as pessoas, com os colegas, com os servidores, muito diferenciado. Alguém que entendia a medicina e trabalhava no cotidiano de sol a sol pensando naquilo como uma atividade, independentemente da questão econômica, porque a medicina exige isso.
Quando eu recebi o convite para ser secretário estadual de Saúde e resolvi aceitar, visitei algumas pessoas antes de assumir o cargo e um deles foi o professor dr. Ernesto Damerau. Fui conversar com ele, falar que iria assumir a secretaria, escutar algumas sugestões e conversamos. Eu não posso dizer que era amigo do professor Damerau, a gente tende a dizer que é amigo de uma pessoa que se admira, independentemente do tempo de relacionamento que você teve com ele, mas eu me sentia como um amigo, e tive a oportunidade de ter uma conversa no seu apartamento, onde também estava lá a sua esposa, sempre muito agradável. Foi uma conversa na direção de compreender qual é o papel do médico.
Lembro-me também de outro personagem, que já faleceu, dr. Amílcar Gigante, um clínico lá de Pelotas, também dessa envergadura. Uma vez ele esteve em Lages, era recém-formado, e era diretor do departamento de Saúde da Associação Médica, e eu o trouxe para uma palestra. Saímos de lá conversando e depois ele me escreveu uma carta dizendo como é que tinha que ser o bom médico.
Então, nós precisamos, deputado Dalmo Claro, que esses programas não sejam apenas de mais médicos ou mais formados em Medicina. Nós precisamos que os especialistas não sejam mais especialistas com 250 horas. Nós precisamos ter um trabalho no sentido de que essas faculdades de Medicina, que agora estão sendo privatizadas na sua maioria, e que tem interesse apenas em formar pessoas para o mercado, formem pessoas para melhorar a vida das pessoas, para melhorar a saúde das pessoas.
E aqui neste exemplo, o dr. Damerau exemplifica isso tudo, evidentemente que temos milhares e milhares de bons profissionais no país, mas temos que caminhar no sentido de que esses programas tenham realmente mais médicos, e não mais pessoas formadas em Medicina.
O Sr. Deputado Dalmo Claro - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO FERNANDO CORUJA - Pois não!
O Sr. Deputado Dalmo Claro - Sr. presidente, deputado Fernando Coruja, srs. deputados.
Eu não tive, na semana passada, oportunidade até de comentar aqui, do dr. Damerau, por ocasião do seu passamento, mas realmente foi, entre tantos outros professores de qualidade humana e técnica que nós tivemos aqui na Universidade Federal de Santa Catarina, o dr. Damerau se destacava como v.exa. diz, pelas características, do conhecimento técnico, era um cirurgião que dominava várias áreas da cirurgia, não tão específicas como hoje, mas também como uma pessoa que tinha um relacionamento, não só com os pacientes, mas com colegas e com alunos.
Então, era um professor que muito facilmente podíamos acessar, fazer perguntas sem medo de ser criticado ou ser motivo de chacota ou, alguma coisa, por fazer uma pergunta que um estudante faz, boba ou sem muito sentido.
Mas, mais do que isso, é o exemplo do médico que tem um relacionamento com o paciente. Eu acho que as faculdades, hoje, tem que ter uma maneira de estimular, desenvolver essa formação humanística do médico. E, ao contrário, hoje nós vemos colegas se formando com um foco cada vez mais numa subespecialidade, numa subespecialização, num item específico, num segmento específico da sua especialidade, e com foco muito grande na Medicina apenas como uma profissão, com carga horária, com o salário o mais alto possível, sem essa outra visão humanística de respeito e de interesse pelo paciente e pelo ser humano.
Parabéns pela sua menção.
O SR. DEPUTADO FERNANDO CORUJA - Muito obrigado, deputado Dalmo Claro.
Encerro, exatamente nesta linha, nós precisamos não apenas dar acesso às pessoas, a um profissional formado em Medicina, ou um profissional especialista em determinada área.
Estes profissionais precisam ser formados para serem verdadeiros médicos, e verdadeiros especialistas, que possam ajudar a melhorar a saúde da população.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)
Sr. presidente, srs. parlamentares, nós temos no Brasil um programa de saúde chamado Mais Médicos e agora o governo acena com a possibilidade de outro programa chamado Mais Especialidades. Ao fazer o decreto que trata das especialidades o governo simplificou e disse que para ser especialista basta apenas uma carga horária de 250 horas.
Evidentemente que precisamos de mais atendimento qualificado na área médica. Mas esses programas que o governo quer criar, na verdade, não são de mais médicos, são de mais pessoas formadas em Medicina; como não é o programa de mais especialidades, mas de mais pessoas com o título de especialista. Isso não basta, e o deputado Dalmo Claro sabe bem disso.
Não basta ter mais médicos formados que não atendam o papel fundamental do médico que é contribuir para a melhoria da saúde pública.
Eu digo e repito que apenas um médico formado com um receituário nas mãos, sem a devida formação para ser de verdade um médico, é um perigo à sociedade. Ele não serve para melhorar a saúde da população. Muitas vezes é um médico recém-formado, formado por uma faculdade não qualificada adequadamente e que vai servir como um instrumento para aumentar o custo da Medicina e para repetir procedimentos estimulados por uma indústria farmacêutica, que leva a Medicina para uma situação hoje muito comercial.
Eu começo falando isso porque a atividade médica é uma atividade diferenciada de outras profissões. Em todas as profissões você precisa ter certo amor, certa qualificação pessoal para atender e exercer essa profissão, em qualquer profissão, está aí, para confirmar isso, a deputada Luciane Carminatti, que é professora. A atividade médica, evidentemente, também precisa, porque ela lida com a vida numa situação especial.
Então, ser médico é uma situação diferente. Ser médico é diferente de ser formado em medicina; ser um especialista numa área é diferente de ter um título de especialista. A medicina exige muito mais do que isso. Hoje, a grande dificuldade que se tem é a falta de médicos, no stricto sensu da palavra, que possam resolver os problemas da comunidade em bairros, médicos de famílias que possam resolver.
Nós temos muitas pessoas formadas em medicina que não são médicos, no verdadeiro sentido da palavra, que estão na faculdade já pensando como vão ter uma atividade que vai dar mais rendimentos no futuro, que vai lhe dar mais condição social. E a atividade médica exige outra coisa!
Eu lembrei disso, de fazer uma análise, porque na semana passada, faleceu em Santa Catarina um médico, no stricto sensu da palavra, dr. Ernesto Damerau. O dr. Ernesto Damerau, um cirurgião, e provavelmente a maioria dos médicos formados na UFSC tiveram a oportunidade de ser seus alunos, como o deputado Dalmo Claro, tinha todas as características que precisa ter um médico de verdade. Uma pessoa de uma qualificação técnica excepcional. Posso dizer aqui sem medo de errar: ele era o melhor cirurgião que eu conheço, geral, que Santa Catarina formou até este momento.
Tinha um relacionamento humano, era um médico humanista muito diferenciado, alguém que tinha uma relação com o cliente, com o paciente, com as pessoas, com os colegas, com os servidores, muito diferenciado. Alguém que entendia a medicina e trabalhava no cotidiano de sol a sol pensando naquilo como uma atividade, independentemente da questão econômica, porque a medicina exige isso.
Quando eu recebi o convite para ser secretário estadual de Saúde e resolvi aceitar, visitei algumas pessoas antes de assumir o cargo e um deles foi o professor dr. Ernesto Damerau. Fui conversar com ele, falar que iria assumir a secretaria, escutar algumas sugestões e conversamos. Eu não posso dizer que era amigo do professor Damerau, a gente tende a dizer que é amigo de uma pessoa que se admira, independentemente do tempo de relacionamento que você teve com ele, mas eu me sentia como um amigo, e tive a oportunidade de ter uma conversa no seu apartamento, onde também estava lá a sua esposa, sempre muito agradável. Foi uma conversa na direção de compreender qual é o papel do médico.
Lembro-me também de outro personagem, que já faleceu, dr. Amílcar Gigante, um clínico lá de Pelotas, também dessa envergadura. Uma vez ele esteve em Lages, era recém-formado, e era diretor do departamento de Saúde da Associação Médica, e eu o trouxe para uma palestra. Saímos de lá conversando e depois ele me escreveu uma carta dizendo como é que tinha que ser o bom médico.
Então, nós precisamos, deputado Dalmo Claro, que esses programas não sejam apenas de mais médicos ou mais formados em Medicina. Nós precisamos que os especialistas não sejam mais especialistas com 250 horas. Nós precisamos ter um trabalho no sentido de que essas faculdades de Medicina, que agora estão sendo privatizadas na sua maioria, e que tem interesse apenas em formar pessoas para o mercado, formem pessoas para melhorar a vida das pessoas, para melhorar a saúde das pessoas.
E aqui neste exemplo, o dr. Damerau exemplifica isso tudo, evidentemente que temos milhares e milhares de bons profissionais no país, mas temos que caminhar no sentido de que esses programas tenham realmente mais médicos, e não mais pessoas formadas em Medicina.
O Sr. Deputado Dalmo Claro - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO FERNANDO CORUJA - Pois não!
O Sr. Deputado Dalmo Claro - Sr. presidente, deputado Fernando Coruja, srs. deputados.
Eu não tive, na semana passada, oportunidade até de comentar aqui, do dr. Damerau, por ocasião do seu passamento, mas realmente foi, entre tantos outros professores de qualidade humana e técnica que nós tivemos aqui na Universidade Federal de Santa Catarina, o dr. Damerau se destacava como v.exa. diz, pelas características, do conhecimento técnico, era um cirurgião que dominava várias áreas da cirurgia, não tão específicas como hoje, mas também como uma pessoa que tinha um relacionamento, não só com os pacientes, mas com colegas e com alunos.
Então, era um professor que muito facilmente podíamos acessar, fazer perguntas sem medo de ser criticado ou ser motivo de chacota ou, alguma coisa, por fazer uma pergunta que um estudante faz, boba ou sem muito sentido.
Mas, mais do que isso, é o exemplo do médico que tem um relacionamento com o paciente. Eu acho que as faculdades, hoje, tem que ter uma maneira de estimular, desenvolver essa formação humanística do médico. E, ao contrário, hoje nós vemos colegas se formando com um foco cada vez mais numa subespecialidade, numa subespecialização, num item específico, num segmento específico da sua especialidade, e com foco muito grande na Medicina apenas como uma profissão, com carga horária, com o salário o mais alto possível, sem essa outra visão humanística de respeito e de interesse pelo paciente e pelo ser humano.
Parabéns pela sua menção.
O SR. DEPUTADO FERNANDO CORUJA - Muito obrigado, deputado Dalmo Claro.
Encerro, exatamente nesta linha, nós precisamos não apenas dar acesso às pessoas, a um profissional formado em Medicina, ou um profissional especialista em determinada área.
Estes profissionais precisam ser formados para serem verdadeiros médicos, e verdadeiros especialistas, que possam ajudar a melhorar a saúde da população.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)