Pronunciamento

Romildo Titon - 039ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 24/05/2006
O SR. DEPUTADO ROMILDO TITON - Sr. presidente, venho à tribuna para firmar também posicionamento, a exemplo de muitos colegas, sobre o momento crítico que vivemos hoje em nossa agricultura.
Acredito que nós, parlamentares, que viemos do meio rural, de regiões produtoras, temos que nos revezar nesta tribuna - que é a voz da sociedade catarinense - todos os dias, para que nos possamos expressar também e ajudar a conscientizar o governo federal sobre a crise que atinge o campo nos dias de hoje, sobre a situação caótica que vivem os municípios e as regiões produtoras, sobre o que está acontecendo não só no estado de Santa Catarina, mas no Brasil inteiro, manifestações dos nossos produtores cercando as rodovias e procurando mostrar ao governo federal, às autoridades federais, a situação em que vivem todos aqueles que produzem o alimento para o sustento desta nação brasileira.
É um dos setores que menos tem feito manifestações; que tem agüentado calado. Muitos, a grande maioria, já estão descapitalizados, numa situação financeira difícil, com dívidas acumuladas de diversos anos, principalmente nestes últimos três anos em que a estiagem foi um dos fatores que contribuíram também para o atraso desse setor.
Diante desse momento que estamos vivendo, as autoridades nacionais, o governo federal, ainda não se tocou da importância desse movimento e o tamanho da crise que já está instalada e a que ainda está por vir.
Nos levantamentos que temos, além de constar os prejuízos que os nossos agricultores estão acumulando, há o problema maior que é o desemprego. As estatísticas estão mostrando que mais de cem mil trabalhadores do campo estão sendo desalojados dos seus postos de trabalho e que certamente terão que percorrer os caminhos da cidade em busca de uma outra oportunidade de trabalho, aumentando assim o desemprego nos grandes centros, aumentando cada vez mais as grandes favelas e as dificuldades.
Por outro lado, vejo também a situação crítica quando presenciamos que, devido às renegociações das dívidas que vinham sendo feitas pelos nossos produtores ao longo dos anos, eles ficaram com dificuldade para buscar novos financiamentos e apelaram para a compra dos insumos junto às cooperativas e aos estabelecimentos que desempenham suas atividades na comercialização de equipamentos agrícolas e demais insumos para a produção. Os nossos agricultores não conseguem quitar suas dívidas e o nosso sistema cooperativista também está passando por uma das piores crises da história, bem como os estabelecimentos comerciais, dadas as condições dos nossos agricultores de não conseguirem quitar os seus débitos nos estabelecimentos comerciais.
O que nos preocupa neste momento é que vemos reuniões e mais reuniões acontecendo em Brasília, movimentos sendo criados no sentido de ajudar a amenizar a crise, mas da forma corriqueira como vem sendo feito todos os anos, que é o adiamento da questão, o adiamento do sofrimento, o adiamento do pagamento das contas, a prorrogação dos financiamentos, o refinanciamento, o nosso agricultor vem a cada dia se endividando mais e mais, até perdendo as suas propriedades para os nossos bancos. Com isso agravam-se também todos os outros setores.
A região meio-oeste catarinense, que é muito diversificada, onde muitas vezes a produção agrícola não era suficiente para suprir o mercado, mas tinha outras atividades como a suinocultura, a avicultura, o gado de corte, o gado de leite, agora, neste ano, todos os setores foram atingidos. Na suinocultura todos nós presenciamos a impossibilidade das exportações, o que tem deixado abarrotado todo o estoque da agroindústria. A pecuária, da mesma forma, foi prejudicada pela febre aftosa, que aqui não aconteceu, mas inviabilizou também as exportações. E a avicultura também sofreu por causa da gripe aviária, que não chegou e, se Deus quiser, nem vai chegar ao nosso país, mas cuja repercussão já atingiu violentamente todos os setores.
A agroindústria não consegue mais colocar no mercado a sua produção de frango, como também os integrados dessas empresas não estão recebendo mais o pinto para a produção de frango de corte; outros não têm mais condições de tocar seu negócio porque o espaço vazio que as empresas estão tendo está descapitalizando todos os nossos avicultores. Da mesma forma, o leite fica prejudicado neste sentido, uma vez que a produção reduziu sensivelmente e todos estão tendo um grande prejuízo.
Então, não adianta criar mecanismos para prorrogar os financiamentos. O que precisamos é buscar alternativas para que se possa remunerar melhor essa atividade. É este o mecanismo que o governo tem que buscar, ou seja, uma forma para baixar os custos de produção, um mecanismo que possa sustentar o preço mínimo para que o nosso produtor tenha a possibilidade de comercializar seus produtos; o governo tem que viabilizar, talvez, um seguro agrícola, que é tão sonhado pelos nossos produtores, para que eles possam ter um pouco mais de tranqüilidade no momento da produção. Da mesma forma, o custo do frete, que hoje consome praticamente 50% dos lucros dos nossos agricultores, tem que ser revisto.
Nós assomamos à tribuna mais uma vez e viremos tantas vezes quantas forem necessárias para falar dessa situação, porque o governo tem que se conscientizar de que o campo é a âncora da estabilidade econômica e social do nosso país; que o campo é onde os nossos trabalhadores têm a maior possibilidade de trabalho, gerando renda e riqueza.
Essa situação que estamos vivendo, certamente, vai repercutir em todos os estabelecimentos comerciais da classe trabalhadora do Brasil, nos cofres estaduais e municipais, inviabilizando a arrecadação para que o poder público possa continuar executando suas tarefas principais.
Trago aqui, então, o registro da nossa preocupação com o momento que estamos vivendo. E certamente vamos ter que bater forte, e todos os dias, até que o governo atenda a este chamamento da sociedade, sem que os agricultores precisem ir às ruas trancar as BRs e as rodovias para chamar a atenção dos governantes para o problema. É importante que o governo se conscientize, sem ter que haver esse tipo de manifestação que talvez seja, infelizmente, a única linguagem que o governo entenda, ou seja, a das paralisações.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)