Pronunciamento

Kennedy Nunes - 007ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 18/02/2010
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, público que nos assiste pela TVAL e ouvintes da Rádio Alesc Digital, gostaria de fazer uma análise, deputado Reno Caramori, pois ontem ouvi os deputados Sargento Amauri Soares, Joares Ponticelli e Valmir Comin e hoje pela manhã, o deputado Décio Góes falando aqui sobre o Carnaval. Mas quero fazer uma análise, deputado Deba, um pouquinho diferente, sobre o outro lado dessa festa, infelizmente um lado muito difícil.
Houve no país um aumento de 45% de mortes em relação ao ano passado nesse período de Carnaval, um aumento do número de acidentes nas nossas BRs e se formos colocar o tamanho do nosso estado, o número de carros e o número de quilômetros que nós temos em rodovias, veremos que somos os campeões do Brasil em número de acidentes.
Eu acompanho o twitter da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina, onde aparece, deputado Deba, todos os dias, o resultado das ocorrências e fiquei admirado com o número de pessoas presas diariamente, deputado Jailson Lima, por dirigirem embriagadas. No relatório de ontem, por exemplo, a PRF divulgou o número de acidentes, o número de ocorrências, o número de vítimas, o número de pessoas que foram presas por dirigirem embriagadas. Seis pessoas, entre elas uma mulher de 61 anos, que me chamou a atenção por ser destaque na notícia da polícia, estavam dirigindo embriagadas.
Sinceramente, acho vergonhosa a propaganda educativa que tanto o governo estadual quanto o governo federal fazem em relação à não combinação volante e bebida.
No horário nobre das 20h, em que a massa das pessoas está assistindo à televisão, está havendo um apelo publicitário muito grande em relação ao consumo de cerveja. Se pararmos para pensar, é um negócio exagerado! Deputado Sargento Amauri Soares, de cada 100 propagandas de cerveja temos meia propaganda informando que bebida não combina com volante. As propagandas de cerveja exploram sempre o corpo da mulher de uma forma esdrúxula, vendendo-o como mercadoria! Estão vulgarizando a mulher! Colocam uma mulher bonita, bronzeada, para chamar a atenção.
Quando vão fazer propaganda educativa dizendo que álcool não combina com direção? Passam imagens que não chamam a atenção, muitas vezes só com caracteres! É uma guerra desigual! As cervejarias colocam muito dinheiro em todos os comerciais e talvez elas sejam, hoje, a maior fonte de receita privada das televisões, já que a maior receita mesmo da mídia venha dos recursos públicos, de propaganda institucional.
O governo de Santa Catarina, durante o Carnaval, preferiu veicular propaganda do porto de São Francisco do Sul, da volta às aulas, da Saúde, ao invés de colocar propagandas educativas alertando para não beber se for dirigir, fazendo a coisa de maneira preventiva. Não, acho que o raciocínio do governo é o seguinte: fizemos e precisamos dizer que fizemos, porque se alguém da Assembleia Legislativa ou da imprensa criticar que não fizemos, temos alguma coisa para mostrar.
Eu queria fazer a análise do outro lado, a análise dos IMLs, a análise dos guinchos, a análise dos helicópteros que transportam vítimas, a análise das pessoas, a análise dos jovens que se embrenham pela via louca do alcoolismo. Parece que é bonito dizer que tomou um porre no Carnaval. Eu não estou sendo moralista aqui, não. Eu estou querendo dizer que podemos trazer para a mesa também esse tipo de análise, que podemos trazer para cá o volume de drogas comercializado durante o período de Carnaval, que podemos trazer para cá o problema conceitual da sociedade. Que tipo de sociedade teremos se a nossa juventude fica cada vez mais cedo dependente do álcool? A Igreja Católica fez uma campanha contra o álcool em 2001, dizendo que o álcool é a porta de entrada de todas as outras drogas ilícitas. Mas a coisa não muda. Aonde vamos chegar?!
A minha preocupação é esta: o que queremos do futuro? Será que a população ainda quer a política de pão e circo? Será que a nossa população ainda quer que tudo continue assim, com as pessoas morrendo porque não conseguem fazer exame de alta complexidade? Será que a sociedade quer que o câncer continue matando porque as pessoas não têm condições de ir ao Hospital Albert Einstein? Será que a sociedade quer que as pessoas continuem morrendo em função de uma cirrose ou de uma doença decorrente do tabagismo, como o câncer de laringe, o câncer bucal ou o câncer de pulmão?
Parece que nesses dias de Carnaval tudo é beleza. A única notícia fora do Carnaval que eu vi nesse período foi a prisão do governador José Roberto Arruda. Depois disseram que lhe tiraram a televisão. Ou seja, a única notícia para contrabalançar foi a prisão do governador do distrito federal, Arruda, e o fato de haver ficado sem televisão no cárcere, porque o restante era só Carnaval, como se mais nada houvesse acontecido.
Uma criança com fantasia, ainda em tenra idade, foi encontrada morta no Rio de Janeiro com sinais de violência sexual! Mas isso é só um detalhe. É só um detalhe! Por quê? Porque o povo está descendo a ladeira como se tudo fosse comum, normal.
Fico irritado também com o fato de ouvir, e isto é real, que o país só vai começar a trabalhar depois do Carnaval. E, o que é ainda pior, depois da quarta-feira de cinzas, ou seja, na segunda-feira. No dia 20 de fevereiro, na segunda-feira, é que o país vai começar a trabalhar. Que país é este? Eu não sei que país é este! Só se for o país do público. E nós estamos inseridos nesse processo, porque as empresas já começaram a trabalhar nos dias 3 ou 4 de janeiro, o comércio já começou faz tempo, tudo começou, mas dizem que as soluções só virão depois do Carnaval. E por que estamos fazendo isso? Por que não se muda essa realidade?
Então, é este tipo de pauta, de discussão, de pensamento que eu gostaria de trazer para a comunidade, para a sociedade catarinense, ou seja, que o Carnaval não é só beleza, não é só escola de samba e fantasias, não! Vamos pensar o Carnaval pelo outro lado e esse é o motivo do meu discurso, nesta manhã.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)