Pronunciamento

Kennedy Nunes - 092ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 25/11/2008
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Sr. presidente, sras. deputadas, srs. deputados, público que nos assiste pela TVAL, que nos acompanha pela Rádio Alesc Digital, colegas de imprensa e funcionários desta Casa de Leis.
Não poderíamos falar de outra coisa, sr. presidente, senão sobre essa questão que nós, do norte de Santa Catarina, estamos passando. A cidade de Joinville foi afetada pelas chuvas, e só para se ter uma idéia, deputado Antônio Aguiar, somente no sábado, de sexta-feira para sábado, choveu o equivalente a três meses naquele município. Foram 203 milímetros de chuva, o equivalente à chuva três meses.
Ainda hoje Joinville tem bairros, como o Jativoca, o Santa Mônica, mais a parte oeste da cidade, com pessoas desabrigadas, que não conseguem voltar para suas casas. Em Garuva - ainda hoje pela manhã tentava falar com o prefeito João Romão - existem várias regiões ilhadas, sem acesso. O superintendente da Polícia Rodoviária Federal me ligava há pouco dizendo que está ajudando o transporte com a viatura da Polícia Rodoviária Federal.
Mas o que mais me impressionou, quando hoje vinha de Joinville para cá, foi a cidade de Itajaí, que amanheceu com 90% da cidade embaixo d'água. Só para vocês terem uma idéia, nosso colega de partido, deputado Jandir Bellini, prefeito eleito daquela cidade, teve a sua casa invadida pelas águas acima da metade da janela. Somente um bairro de Itajaí não foi atingido pelas águas. O rio Itajaí-Açú está 12m acima do seu nível normal. Em Itajaí, das casas do loteamento novo que existe atrás do Posto Dalçoquio, com várias casas novas, somente aparecem os telhados.
Então, é impressionante o tamanho dessa tragédia. Eu estava escutando há pouco, quando estava vindo para cá, as rádios da cidade de Itajaí que estão fazendo pedidos de pão e de margarina para matar a fome das pessoas. Não adianta levar agora para a cidade a cesta básica, porque não há água para cozinhar o arroz ou fazer a comida. Neste momento, em Itajaí estão mais de sete mil pessoas em abrigos públicos precisando comer.
Sr. presidente e srs. deputados, o que me traz certa preocupação é que os profissionais de rádio estão pedindo que os turistas parem de tentar chegar a Itajaí, para verificar esse momento, essa situação, porque está prejudicando quem está lá trabalhando. Houve a preocupação de um dos repórteres que disse o seguinte: "Olha! Eu quero pedir aos hotéis que digam aos turistas que não adianta sair da cidade ou do hotel porque estão atrapalhando a ida e vinda dos donativos."
Então, estamos comprando aqui em Florianópolis o que der, o que couber de pães dentro do nosso carro para levar para Itajaí, porque lá começa a faltar pão. Não há possibilidade de atender a demanda. Imagine, deputado Gelson Merísio, a situação por que passa a cidade neste momento.
Eu estava ouvindo a entrevista do prefeito Volnei José Morastoni, que dizia que dos quatro berços que possui o porto de Itajaí, dois já foram danificados totalmente e os outros estão para desmoronar. Ou seja, Itajaí vai ter um prejuízo enorme, deputada Ada De Luca, com relação a essa questão das importações e exportações por conta do porto.
Só o setor cerâmico de Santa Catarina, por causa do problema do gás que houve na cidade de Gaspar, está tendo um prejuízo de R$ 5 milhões por dia por falta do gás natural. Só o setor cerâmico! Vamos pensar no setor têxtil de Blumenau! O que me impressionou é que vários contêineres em Itajaí estão boiando! Os contêineres que ficam naqueles depósitos onde a importadoras e exportadoras fazem a estocagem dos produtos. Imaginem o prejuízo que isso vai causar para a cidade e para região de Itajaí, quando se fala de importação e exportação. E para a região de Tijucas, quando se fala no setor cerâmico; no setor têxtil, na região de Guaramirim e Jaraguá do Sul; e do pessoal que cultiva arroz. Nós vamos ter um prejuízo muito grande!
Neste momento estou vendo que a preocupação da Defesa Civil - e não pode ser outra - e do governo do estado é com o acolhimento das pessoas. Neste primeiro momento da tragédia temos que pensar no ser humano. Mas na hora em que as águas baixarem, vamos ter a exata noção do prejuízo que Santa Catarina terá por conta de ser um estado industrial, um estado que produz muito, que exporta muito.
Então, entendo que esta Casa, junto com o governo do estado, tem um papel excepcional. E gostaria de propor, sr. presidente, que a Mesa Diretora fizesse um grupo de trabalho para que, junto ao governo do estado, pudéssemos verificar de quais formas podemos ajudar não só as prefeituras, que vão ter que passar por esse momento de recuperação, mas o setor industrial de Santa Catarina.
Vai haver empresas que terão perdas grandes, vão fechar o ano com prejuízos enormes por conta de toda essa tragédia que Santa Catarina está passando, deputado Genésio Goulart. Tenho certeza de que nas regiões que foram atingidas isso vai complicar, mas nas regiões que não foram atingidas também vai complicar porque ou não está chegando a matéria-prima ou não está escoando o produto industrializado.
Então, queiram ou não, todo o estado de Santa Catarina hoje começa a viver uma preocupação que quero trazer a esta tribuna. Não só a preocupação de conseguirmos recompor a vida dos catarinenses, das famílias que perderam tudo neste momento, mas a de alimentar aqueles que têm fome em Itajaí, que é o que eu estou fazendo e convoco outros deputados a, se puderem, fazerem o mesmo: encaminhar pães para Itajaí. A preocupação era pão, não era arroz e nem era feijão; era pão, porque temos lá sete mil pessoas que estão passando fome.
Então, trago a esta tribuna também a preocupação com a situação exatamente depois de baixarem as águas, com os prejuízos que vamos ter, num momento em que o ano não foi bom porque o dólar estava muito baixo, num ano em que a crise pegou todo mundo. Só a indústria cerâmica de Santa Catarina está tendo prejuízos de R$ 5 milhões por dia, por conta do rompimento do gasoduto.
Imagine, deputado Antônio Aguiar, o montante de prejuízos que vamos ter. E o governo federal e esta Casa não podem furtar-se de participar deste momento e de ajudar o governo do estado naquilo que for possível para que possamos ajudar essas empresas que passam por esse momento, porque daqui a pouco isso vai começar a desencadear o desemprego, em função da queda das importações e das exportações.
Itajaí vai passar por um problema muito sério e nós queremos ver o governo federal investindo na reconstrução dos berços que foram destruídos. Não dá para culpar ninguém, deputada Ada De Luca. Se tivéssemos que, neste momento, arrumar um culpado, seria o ser humano, que muitas vezes constrói onde não deve, invade os leitos dos rios e chega a hora em que a natureza quer o seu lugar e começa a acontecer tudo isso.
Então, todos nós somos os culpados, mas agora temos que refazer. E como somos os mandatários, temos que rever agora não só a questão emergencial dos cidadãos, dos catarinenses, mas principalmente das empresas que no momento em que as águas baixarem vão contabilizar seus prejuízos.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)