Pronunciamento

Kennedy Nunes - 032ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 12/04/2012
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Sr. presidente, srs. deputados, sras. deputadas, público que nos assiste, alunos aqui presentes - sejam bem-vindos a esta Casa -, catarinenses que nos acompanham pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital, vou trazer um assunto, deputado Dieter Janssen, que já foi tratado na última quarta-feira na comissão do Mercosul, que é presidida pelo deputado Dóia Guglielmi, que diz respeito às Ilhas Malvinas.
Como já falei desta tribuna, este assunto me atrai de uma forma especial, porque na década de 80, quando aconteceu a Guerra das Malvinas entre a Argentina e a Inglaterra, eu morava naquele país e vivi sob estado de sítio um bom tempo.
Eu lembro muito bem de tudo, deputada Dirce Heiderscheidt. Quando anoitecia, tínhamos que apagar todas as luzes e usar velas porque os aviões sobrevoavam as nossas casas e onde havia luz eles atacavam. Eu tinha meus dez, 12 anos, e vivi muito isso. Vi também a tristeza do povo argentino quando perdeu para a Inglaterra as Ilhas Malvinas.
Fui procurado pelo cônsul da Argentina em Santa Catarina, pois o governo daquele país criou um grupo, deputada Angela Albino, para a forçar a abertura de um canal de negociação com a Inglaterra, para que a resolução da ONU seja respeitada. Segundo essa resolução, a Argentina, nas Ilhas Malvinas, assim como a Espanha, nas ilhas de Gibraltar, têm a possibilidade e o direito de ver agregados aqueles territórios marinhos.
Quando coloquei que teríamos essa reunião na comissão do Mercosul para tratar desse assunto, vimos que a rivalidade do Brasil com a Argentina não ocorre somente dentro das quatro linhas de um campo de futebol. A rivalidade entre o Brasil e a Argentina não se dá somente na hora de saber se o Pelé ou o Maradona foi o melhor jogador. Ela vai além. E sentimos essa questão, deputada Dirce Heiderscheidt, exatamente nessa hora.
Quando coloquei nas redes sociais, no Twitter e no Facebook, que faria essa reunião sobre as Ilhas Malvinas, foi impressionante a reação dos brasileiros, que disseram o seguinte: "O que nós temos a ver com isso? Que se lasquem!" Surgiram os mais variados comentários quando coloquei essa questão.
Por ser jornalista, as palavras das pessoas têm um peso diferente, afinal de contas vivemos disso. Nós, jornalistas, vivemos das palavras das pessoas, para podermos repassar as informações.
Passei toda a minha infância na Argentina, fiz a minha iniciação escolar naquele país, voltei para cá já adolescente, apesar de ter nascido em Joinville. Meus pais eram missionários e fomos para lá, mas vou tirar essa parte minha da histórica, deputada Angela Albino - para saber o que tenho com isso, no que vai dar isso.
Ouvindo o cônsul e os professores da Universidade Federal de Santa Catarina, enfim, o grupo formado para que pudéssemos defender essas questões, deputado Elizeu Mattos, entendemos que temos que levantar a sobrancelha. Sabe quando o coiote levanta a orelha para saber o que está sendo captado pelo radar? Nós precisamos fazer isso.
Moram nas Ilhas Malvinas 3.000 pessoas. Desde 1833 a Argentina não consegue entrar nas Ilhas Malvinas. É uma guerra antiga. Mas aquelas ilhas têm um posicionamento estratégico no polo sul. Em 1827, uma fragata americana atacou duramente as Ilhas das Malvinas por conta, na época, da pesca das baleias. Então, a posição geográfica e estratégica das referidas ilhas faz com que a Inglaterra não abra mão delas de jeito algum!
Quando os professores e o cônsul estavam dizendo isso, falaram uma coisa que entendi que deva ser reproduzida, para que fique registrada nos anais desta Casa para nós e, talvez, os alunos que estão aqui começarmos a pensar diferente em relação à autonomia territorial de alguns lugares estratégicos, como é o caso das Ilhas Malvinas. Eles disseram que hoje são as Ilhas Malvinas, amanhã poderá ser a floresta Amazônica ou o aquífero Guarani, que são considerados patrimônio mundial. E não é novidade para nós que os Estados Unidos têm um livro didático colocando que a floresta Amazônica já é um pedacinho americano.
Na verdade, deputada Dirce Heiderscheidt, eu nunca havia pensando nisso. A minha defesa pelas Ilhas Malvinas para a Argentina estava nesse contexto histórico que haver vivido lá. Mas quando eles falaram sobre a questão específica do nosso aquífero Guarani e da nossa floresta Amazônica, começamos a pensar, deputado Jailson Lima, que é verdade, porque daqui a pouco os Estados Unidos poderão dizer que essas duas riquezas ambientais são deles e irem lá tomar posse. E nós vamos brigar com os Estados Unidos? Como?!
Por isso a importância de nós, brasileiros, latino-americanos, porque é uma questão da América Latina, entendermos que todos nós somos latinos, apesar de o Brasil não falar espanhol. Somos latinos, como dizem lá, somos de sangue caliente, somos distintos de outros povos. Todo mundo quando vai para a América do Norte ou para a Ásia reconhece quando lá está um latino-americano por causa dessa nossa espontaneidade, desse nosso falar alto, meio italiano, gestual, deputada Angela Albino. Ou seja, falamos também com as mãos, com uma linguagem não verbal.
Mas precisamos pensar que a questão das Ilhas Malvinas, deputada Luciane Carminatti, não é apenas da Argentina, é da América Latina, e é uma questão que abre um precedente. Daqui a pouco teremos que fazer a defesa da floresta Amazônica e do aquífero Guarani; daqui a pouco vão dizer que são dois patrimônios da humanidade e vão para lá! E o Brasil, como não está dando conta de cuidar das suas riquezas, quando perceber, o Exército americano já estará tomando conta de tudo o que é nosso.
A reunião foi muito importante e o que me chamou a atenção foi a emoção do cônsul da Argentina, que chorou quando propus ao presidente, deputado Dóia Guglielmi, que fizéssemos uma moção em nome da comissão do Mercosul, para ser aprovada por todos os parlamentares, em apoio à Argentina na questão da resolução da ONU. E que da moção fosse enviada uma cópia para o governo inglês, no sentido de que seja aberto um canal de negociação.
Agora, nos próximos dias, haverá uma reunião na ONU para discutir exatamente isso. E é importante que nós, de Santa Catarina - o Rio Grande do Sul e o Paraná já fizeram isso -, que recebemos tantos turistas argentinos, que gastam o seu dinheiro aqui, que usam e fazem a máquina do turismo girar em Florianópolis, em Balneário Camboriú e em Bombinhas, entremos nessa luta pela devolução das Ilhas Malvinas para a Argentina.
Daí me perguntaram: "Por que surgiu agora essa preocupação?" É que o Reino Unido mandou para as Ilhas Malvinas um navio de guerra extremamente preparado para o ataque e isso assustou. Porque se for pelo armamento bélico, comparar a Argentina com eles vai dar pau de novo! E o governo argentino já disse que quer rever isso de forma pacífica e não como ocorreu na década de 80, quando o regime militar argentino decretou guerra à Inglaterra. Os argentinos querem conversar para saber onde será a mesa de negociação, que é na ONU. Eles querem fazer valer a resolução da ONU que lhes dá essa autoridade. E parece-me que os ingleses têm o feio costume de tomar as coisas dos outros, como as ilhas de Gibraltar, da Espanha e as Malvinas da Argentina. Imaginem que as Ilhas Malvinas distam de Ushuaia, que é o estado mais próximo do fim do mundo, a Terra do Fogo, 700km, deputado Serafim Venzon. São 700km em linha reta até o Ushuaia. Das Ilhas Malvinas até a Inglaterra são 14.000km.
Agora eles estão defendendo, meu caro presidente, que os 3.000 habitantes que moram lá se autodeterminem, digam o que querem ser, se querem ser ingleses ou argentinos. Como dizia um professor meu de matemática do segundo grau: é óbvio, é claro, pleonástico e ondulante que eles vão querer ser ingleses! Porque se desde 1833 estão sendo dominados pela Inglaterra é natural que se sintam ingleses! Eles se sentem ingleses! Não é autodeterminação! Neste momento não dá para dizer isso.
A mesma coisa estão querendo fazer nas ilhas de Gibraltar. Temos que verificar o que consta da resolução da ONU. Infelizmente, eles estão desrespeitando uma resolução da ONU. E a vontade desse grupo que foi criado em todos os lugares onde a Argentina tem embaixada ou consulado é que seja levantada uma discussão a esse respeito e que essa discussão possa, pelo menos, fazer com que o assunto seja debatido na ONU, que é o foro adequado, com certeza!
Fiz essa fala como uma forma de fazer com que todos nós, deputado Valdir Comin, possamos pensar que a questão das Ilhas Malvinas não é somente da Argentina, é uma questão do povo latino-americano. Essa questão representa um precedente na soberania da América Latina e poderá ser determinante em relação a problemas futuros com a floresta Amazônica e o aquífero Guarani.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)