Pronunciamento

Kennedy Nunes - 083ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 02/09/2010
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Sr. presidente, srs. deputados, público que nos acompanha pela TVAL e pela Rádio Alesc Digital, venho falar de um assunto que, no andar da nossa caminhada, tem sido algo muito relevante, que é a questão das drogas. Tenho certeza de que essa é uma preocupação de todos os deputados que estão ouvindo as pessoas: as famílias estarem passando uma dificuldade tão grande com relação às drogas.
Queremos mostrar aqui para a sociedade catarinense aquilo que defendemos, aquilo que acreditamos que deve ser feito em relação às drogas.
Primeiro, tem que ser feita alguma coisa para não deixarmos as crianças entrarem no mundo das drogas. E falamos, hoje, que a droga é o mal do século, principalmente o crack. E a Polícia Militar, deputado Sargento Amauri Soares, realiza o Proerd com as crianças, um programa fantástico que os meus filhos também fizeram. Ele serve para tentar imunizar, tentar criar um teflon nas crianças para que não entrem no caminho das drogas. Mas isso não é o bastante, não adianta o Proerd estar formando crianças para combater a droga enquanto o governo não faz a sua parte, que é criar uma política pública nesse sentido.
No início, droga foi um problema de pessoas revoltadas, desocupadas, hoje virou um problema de dinheiro, de lucratividade. Hoje o tráfico de drogas fatura muito mais do que empresas multinacionais, deputado Jorginho Mello. Precisamos entender que, quando se tem um problema desses que destrói toda uma sociedade, que destrói uma família e a vida de um indivíduo, deve-se ter isso como um problema de política pública.
Os Estados Unidos agora consideram o problema do crack, da droga, como uma questão de saúde pública, deputado Antônio Aguiar, e de segurança pública, porque o viciado em droga quando não consegue mais o dinheiro para comprá-la começa a praticar pequenos furtos, muitas vezes dentro de casa. Quando acaba o que roubar em casa, ele vai para a rua assaltar, matar, para sustentar o seu vício. E não estamos falando de pessoas com mais de 18 anos.
Eu estava conversando com um conselheiro tutelar de Joinville que disse que existem crianças de sete anos em Joinville viciadas em crack. Eu tenho um menino de 10 anos e uma menina de 12 anos e fico imaginando como uma criança de sete anos pode estar viciada em crack. E mais, assistindo a um programa de televisão sobre esse tema, vi recém-nascidos com crise de abstinência, porque a mãe usava crack durante a gestação. Então, a criança depois de nascer já tem crise de abstinência. Imaginem recém-nascidos com crise de abstinência por causa de droga. Onde vamos parar?
Há, em Santa Catarina, três mil leitos de recuperação de viciados, mas estão ligados à entidades filantrópicas quase sempre, às vezes estão ligados a alguma empresa, a alguma entidade religiosa. Esses três mil leitos estão recuperando moças e moços viciados no crack que querem dar uma saída para sua vida, para seu problema. Muitas vezes dependem da ajuda comunitária, da campanha do quilo, feita pelas igrejas, da arrecadação em verdureiros dos produtos que não prestam mais, que em vez de serem jogados fora vão para lá. Eles vão catando aqui e ali para conseguir dar alimentação para essas pessoas que estão tentando se livrar do vício do crack.
O governo nada faz por essas entidades. Na estrutura do governo há, na secretaria de Saúde, um setor que cuida do problema das drogas? Esse setor cria algumas campanhas para dizer que droga não é bom. Mas todo mundo sabe que droga não é bom. Todo mundo sabe que droga é um mal. Mas o que o governo está fazendo por isso?
E por conta disso eu levei ao governador Leonel Pavan um projeto de lei, deputado Nilson Gonçalves, destinando 0,2% do Fundo Social para criar uma rubrica, uma verba específica para que se consiga com esse dinheiro, que dá em torno de R$ 600 mil por ano, realizar convênios com as entidades, deputado Antônio Aguiar, que estão tratando da recuperação desses jovens. Mas isso não é o suficiente! É preciso criar políticas públicas para que empresas possam receber algum tipo de incentivo fiscal para dar empregabilidade para esses jovens.
Eu tenho dito que o usuário do crack é igual a um porquinho, Deputado Décio Góes. Você lava o porquinho, coloca perfume, laçinho, mas se o largar, para onde ele vai? Ele vai para o chiqueiro, por quê? Porque é da sua natureza!
Quem entra na vida do crack pode sair são da clínica depois de meses de tratamento, mas se ele não tiver ocupação, ele volta para o crack de novo. Esta tem que ser uma preocupação de estado, por quê? Porque muitos dos furtos, muitas das violências hoje acometidas em Santa Catarina são resultado da venda e do consumo de drogas.
O Sr. Deputado Antônio Aguiar - V.Exa. me concede um aparte?
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Concedo um aparte ao deputado Antônio Aguiar que está de cadeira de rodas aqui.
O Sr. Deputado Antônio Aguiar - Gostaria de parabenizar v.exa. por este tema e dizer que realmente este é um problema não só do governo municipal nem do estadual, mas da sociedade catarinense e da sociedade brasileira. Nós, catarinenses, precisamos sair na frente, como já estamos saindo, pois há empresas de televisão apoiando o crack.
Eu quero dizer a v.exa. que nós devemos criar em Santa Catarina estruturas para que as pessoas que usam o crack tenham a chance de se recuperar, e para essa recuperação não basta que haja somente ações do governo municipal ou estadual. O pai e a mãe dessa criança têm que estar junto para saber por que o filho fez uso do crack. Talvez não estivessem cuidando bem do seu filho.
Então, nós temos que recuperar o usuário do crack uma vez que, em cinco anos de uso, 1/3 deles morre, o outro 1/3 continua usando a droga e o outro 1/3 tenta a recuperação. Nós temos que criar condições para essa situação melhore.
Parabéns, deputado Kennedy Nunes, pelo excelente tema.
O SR. DEPUTADO KENNEDY NUNES - Obrigado, deputado Antônio Aguiar! Eu peço só mais 30 segundos para terminar. V.Exa. falou uma coisa muito certa com respeito ao pai e à mãe nesse processo.
Eu quero colocar uma experiência própria de como a minha mãe e o meu pai criaram os filhos no sentido de não fazerem uso de droga. Deputado Nilson Gonçalves, eles esperavam que chegássemos da aula, à noite, para nos dar um beijo e um cheiro. A minha mãe dava-me um beijo e um cheiro forte no meu pescoço. E eu pensava: "Nossa, como a minha mãe gosta de mim, sempre me dando um cheiro." Hoje sei que eles faziam aquilo para saber se eu não estava bebendo ou fumando.
(SEM REVISÃO DO ORADOR)