Pronunciamento

Ismael dos Santos - 090ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 08/10/2009
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Sr. presidente, srs. deputados, telespectadores da TV Assembleia Legislativa, nossos ouvintes da Rádio Alesc Digital, nesse tempo dedicado aos partidos quero, deputado Círio Vandresen, fazer uma reflexão sobre a Guerra do Contestado, porque o dia 12 de outubro é uma data marcante, já que nesse dia, em 1912, teve fim esse conflito que fez história em terras catarinenses e paranaenses. De fato, foram quatro anos de conflito.
Sendo assim, hoje, no Senado Federal, numa iniciativa do senador Raimundo Colombo, está sendo feita uma sessão especial em memória da Guerra do Contestado, o que acho legítimo, assim como essa nossa intervenção no Parlamento catarinense sobre essa temática, sobre esse conflito armado que envolveu a população interiorana, cabocla, os representantes do governo federal e também do governo estadual.
Foram várias as razões da Guerra do Contestado, começando com a questão da regularização da posse de terras, passando pela insatisfação da população com as políticas públicas no interior de Santa Catarina e chegando à famosa construção da estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul, passando necessariamente por Santa Catarina.
Então, faço essa homenagem a todos os habitantes do meio-oeste catarinense que fazem parte dessa história, que envolveu principalmente a construção daquela ferrovia. É claro que houve também um elemento religioso, o messianismo, na figura de três monges, pelo menos se intitulavam assim na época, deputado Círio Vandresen: o famoso monge João Maria, que viveu até 1870, um peregrino, tido como santo na região; depois, Atanás Marcaf, que era de descendência síria, mas que também assumiu a alcunha de monge João Maria e que viveu até 1908; e finalmente tivemos uma terceira figura, o José Maria de Santo Agostinho. Este, sim, acabou envolvendo-se de forma mais direta, pois foi o mentor não só intelectual, mas o grande líder dos rebeldes na época e acabou morrendo também no dia 12 de outubro de 1912, quando findava o conflito.
A Guerra do Contestado envolveu mais de dez mil soldados rebeldes, contra sete mil soldados do governo e mil civis contratados. Diz a história, não se tem números exatos, que pelo menos 50% desses soldados rebeldes foram mortos, talvez cinco mil, seis mil, sete mil, até oito mil do chamado Exército Encantado de São Sebastião. Talvez até mais do que isso, confirma aqui o deputado Reno Caramori. Houve também cerca de 800 baixas no Exército do governo.
É claro que essa guerra, além de estabelecer o acordo acerca dos limites entre o governo do Paraná e o governo de Santa Catarina, serve, hoje, para resgatarmos referências históricas, econômicas, culturais e até turísticas. Há, inclusive, o roteiro turístico do Constestado, uma região que orgulha todos nós, catarinenses, sobretudo o meio-oeste do estado.
Fica, então, o registro da memória dessa data que, sem dúvida, precisa ser lembrada por todos os catarinenses.
O Sr. Deputado Reno Caramori - V.Exa. nos concede um aparte?
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Pois não, ouço v.exa. que é da região.
O Sr. Deputado Reno Caramori - V.Exa. realmente relata uma guerra que afeta até hoje o índice de desenvolvimento humano da nossa região. Até hoje sofremos as consequências dessa grande catástrofe, pois quando da construção da ferrovia houve a expulsão dos colonos que lá estavam. Existiu também a parte sentimental e religiosa, em que apareceram os monges, a Virgem, mostrando uma história muito comprida e muito bonita. E os livros divergem sobre os fatos históricos, pois cada historiador fez a sua pesquisa.
Mas o que queremos registrar é que sofremos as consequências desse conflito até hoje, pois ele se reflete no baixo índice de desenvolvimento humano dessa região, que compreende Timbó Grande, Calmon, Matos Costa e atinge Caçador, Irani e Lebon Régis, onde os conflitos se perpetuaram através da história. E conheço vários locais onde realmente parece que nasce guanxuma. É impressionante, mas existem redutos em que a natureza respeita o que aconteceu lá.
Realmente é pertinente o seu registro e o que temos a lamentar é o que ocorreu na época, porque além das vidas que foram ceifadas, entre elas crianças, mulheres, o nosso caboclo lutou muito, deixou uma história bonita, mas a guerra deixou também um prejuízo muito grande naquela região, até porque com a expulsão de muitos colonos, houve também um retardamento no desenvolvimento.
Parabéns pelo seu pronunciamento.
O SR. DEPUTADO ISMAEL DOS SANTOS - Muito obrigado, deputado Reno Caramori, pela sua intervenção. De fato entendemos que temos que registrar esta data neste Parlamento porque é uma dívida que todos nós, catarinenses, temos com aqueles que fizeram a história, que teve reflexos na economia, muito bem colocados por v.exa., reflexos sociais e políticos.
Mas acho que ainda há tempo de fazer alguma coisa, sobretudo resgatando essa memória e, quem sabe, fomentando o roteiro turístico da região que vai de Curitibanos até Irani.
Muito obrigado!
(SEM REVISÃO DO ORADOR)