Pronunciamento

Ada De Luca - 011ª SESSÃO ORDINÁRIA

Em 06/03/2007
A SRA. DEPUTADA ADA DE LUCA - (Passa a ler)
"Sr. presidente, srs. deputados e sras. deputadas, aproveito este espaço para registrar um fato que me deixou chocada como parlamentar, como mãe e como avó. Refiro-me a brutalidade cometida contra uma criança, no último sábado.
'Busco forças em Deus para superar a dor'... Esta é a frase de Andréia, mãe da pequena Gabrielli, de um ano e meio, assustadoramente assassinada e abusada sexualmente, no último dia 03 de março, em Joinville. A menina foi encontrada morta num tanque de batismo da igreja. É inconcebível essa monstruosidade cometida contra um 'ser' tão indefeso, que mal sabia falar.
Meu Deus! Realmente, esta pobre mãe só vai encontrar um pingo de conforto na fé em Deus e na família. Num dia assistimos estarrecidos o brutal assassinato de João Hélio, noutro a violência sexual e a morte brutal da pequena Gabrielli. O nível de degradação moral de nossa sociedade não pára de nos surpreender. Qual será a próxima manchete?
No Rio, em São Paulo, Brasília, em Santa Catarina, Miami ou Bagdá, a humanidade está-se distanciando dos seus próprios conceitos de benevolência, clemência e compaixão.
Que as lágrimas das mães de João Hélio e Gabrielli não se percam apenas nos índices de audiência e nos discursos de conveniência de algumas autoridades. Ao contrário, é necessário que estas lágrimas mobilizem corações e mentes, para a reconstrução de valores que a sociedade está perdendo no transcorrer dos tempos. Em outras épocas os valores morais e culturais se consolidavam num tripé fundamental, para a construção de nossos mais belos e nobres princípios: família, escola e igreja. Hoje a família está desrespeitada e fragmentada pelas dificuldades em busca da sobrevivência, muitas vezes inatingível. A escola está desvalorizada pela própria sociedade e sem condições de preparar a juventude de uma maneira ampla e abrangente. E finalmente a fé, muitas vezes vulgarizada e excomungada por um comportamento cada vez mais cético.
Surgiu um novo e perverso tripé: a droga, a rua e a arma. A droga como estímulo, a rua como palco e a arma como poder. Não faz muito tempo as famílias se reuniam para contar histórias, falar dos pais heróis, do desbravar do seu município, tudo com amizade e fraternidade. Hoje o círculo familiar vicioso é centralizado por uma TV, o diálogo é raríssimo. Os novos heróis são aqueles que mais atiram, batem e matam, desde os desenhos animados até os agressivos filmes exibidos nas tardes da nossa programação. É a arte imitando a vida, ou, incentivando a morte. Não há diferença entre o criminoso puxando o gatilho nas esquinas e o dirigente que manda despejar mísseis sobre cidades inteiras. A dor da perda é a mesma.
Quantas mães em Bagdá choram a morte de seus pequenos inocentes que são trucidados em nome do poder e da ganância? Quantas mães, no Brasil, ainda vão chorar a inversão da ordem natural da vida, perdendo seus filhos pelas mãos de verdadeiros monstros? De nada adiantam novas leis que não se cumprem e novas punições que servirão tão somente para alimentar a impunidade. Há de se ressuscitar o tripé da família - e isso só se fará com o grito estridente das ruas.
A mãe de João Hélio disse que seu filho não poderia ser mais um número nas estatísticas da violência. Tenho certeza que este também é o pensamento da mãe de Gabrielli. Que esta dor, que tocou tão forte o coração de todos os brasileiros, que as lágrimas dessas mães, e de tantas outras, irriguem a indignação contra a violência, que hoje se apodera dos estádios, das ruas, de muitas famílias, das escolas e até das igrejas. Que desta dor venha nascer um novo tripé, que não seja o da barbárie.
A inércia da sociedade não pode deixar que se repitam os atos de violência. A culpa não pode ficar fora de nós. O fantasma está entre nós, entretanto não devemos nos assombrar, nos amedrontar, devemos agir. A nós, parlamentares, cabe avançar em nossa missão: conceber e aperfeiçoar leis que protejam o cidadão e assegurem o direito à vida.
Temos, companheiros, caro presidente, deputadas e deputados, telespectadores da TVAL, funcionários desta honrosa Casa, que manter a indignação nas veias pulsando contra a violência.
Muito obrigada!"
(SEM REVISÃO DA ORADORA)